A operação da PF, em curso, apura o suposto plano operacionalizado por agentes conhecidos como ‘kids pretos’, do Exército, e segundo Moraes, a representação policial indicou, “de maneira absolutamente detalhada a participação de todos os representados”.
Por Redação – de Brasília
A prisão de quatro militares da reserva e um policial federal, na manhã desta terça-feira, por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), coloca o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), mais uma vez, no centro da suspeita de organizar e executar o golpe de Estado fracassado no dia 8 de Janeiro de 2022. As investigações ainda estão em andamento.
Segundo o ministro, há “robustos e gravíssimos indícios” de planejamento da execução do então presidente da República eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT); do também vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB); e do próprio ministro Moraes, que presidia à época o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), com uso de “técnicas militares e terroristas”, no ano passado, após as eleições presidenciais.
A operação da PF, em curso, apura o suposto plano operacionalizado por agentes conhecidos como ‘kids pretos’, do Exército, e segundo Moraes, a representação policial indicou, “de maneira absolutamente detalhada a participação de todos os representados”.
Relatório
“Os elementos trazidos aos autos comprovam a existência de gravíssimos crimes e indícios suficientes da autoria; além de demonstrarem a extrema periculosidade dos agentes, integrantes de uma organização criminosa, com objetivo de executar atos de violência, com monitoramento de alvos e planejamento de sequestro e, possivelmente, homicídios do então presidente do TSE, do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva e do vice-Presidente eleito, Geraldo Alckmin”, disse Moraes, no processo.
Na mesma linha de raciocínio do magistrado, o ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom), Paulo Pimenta (PT), repercutiu no início desta tarde a ‘Operação Contragolpe’.
— É uma ação concreta, objetiva, que traz elementos novos, extremamente graves, sobre a participação de pessoas no núcleo de poder de Bolsonaro e o golpe que tentaram executar em Brasília — afirmou Pimenta.
Documento
De acordo com o ministro, os fatos “se relacionam entre si: os personagens são os mesmos, os mesmo que financiaram os acampamentos de quartéis estão envolvidos nesses episódios”.
A operação da PF, segundo Pimenta, inclui os chamados ‘kids pretos’, militares da ativa e da reserva; além de manifestantes que acamparam em quartéis após a eleição de Lula, vândalos que participaram dos atos de 8 de janeiro de 2023, e até o homem-bomba que explodiu um artefato em frente ao STF, na semana passada.
Entre os suspeitos presos, ligado aos fatos como um elo entre Bolsonaro e o movimento golpista, o general Mario Fernandes esteve com o ex-mandatário neofascista um mês após imprimir o documento com o plano sobre o golpe, segundo relatório da PF que chegou à mídia conservadora. Segundo a apuração da PF, ambos reuniram-se no dia 8 de dezembro de 2022, no Palácio da Alvorada.
Mensagem
A PF teve acesso do áudio encaminhado por Fernandes ao ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid. Na mensagem, o general comemora que o então presidente havia aceitado o “assessoramento” dos dois.
— Força, Cid. Meu amigo, muito bacana o presidente ter ido lá à frente ali do Alvorada e ter se pronunciado, cara. Que bacana que ele aceitou aí o nosso assessoramento. Porra, deu a cara pro público dele, pra galera que confia, acredita nele até a morte. Foi muito bacana mesmo, cara. Todo mundo vibrando. Transmite isso pra ele — diz a mensagem de áudio.
Sob pressão
Outra digital de Bolsonaro também teria sido encontrada na chamada “minuta do golpe”. O documento previa uma intervenção no Judiciário com o objetivo de impedir a posse de Lula e convocar novas eleições.
As evidências coletadas pelos investigadores, obtidas através de mensagens trocadas pelo ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid, apontam o envolvimento direto do ex-presidente no planejamento do golpe de Estado fracassado no 8 de Janeiro.
De acordo com a PF, Jair Bolsonaro teria redigido e ajustado pessoalmente o texto do decreto golpista. Mensagens enviadas por Mauro Cid ao general Freire Gomes, então comandante do Exército, indicam que Bolsonaro “enxugou” o texto para torná-lo mais objetivo. Em uma das comunicações, Cid revelou que Bolsonaro estava sob pressão de “deputados” para adotar medidas mais drásticas, envolvendo o uso das Forças Armadas.
Depoimento
Além de Fernandes, os outros presos pela PF nesta terça-feira são os militares Hélio Ferreira Lima, Rafael Martins de Oliveira e Rodrigo Bezerra de Azevedo, integrantes dos chamados “kids pretos”, além do policial federal Wladimir Matos Soares. Os “kids pretos”, militares das forças de operações especiais, teriam utilizado treinamento técnico-militar para planejar ações contra o Estado brasileiro.
De acordo com a PF, o plano denominado ‘Punhal Verde e Amarelo’ previa, para o dia 15 de dezembro de 2022, o assassinato de Lula e Alckmin, além da prisão e execução de Moraes. Como parte da conspiração, os envolvidos criariam um “Gabinete Institucional de Gestão de Crise” para assumir o controle após a tentativa de golpe.
O assunto, segundo apurou a reportagem do Correio do Brasil nesta manhã, consta da lista de perguntas a serem respondidas na sede da PF, nesta tarde, pelo tenente-coronel Mauro Cid, em novo depoimento. A intimação ocorre após a recuperação de dados apagados de seus aparelhos eletrônicos, acrescida dos dados obtidos pelos investigadores sobre o plano para assassinar Lula, Alckmin e Moraes.