Rio de Janeiro, 09 de Dezembro de 2025

Um novo Projeto Nacional para os próximos 30 anos

Explore a visão de um novo Projeto Nacional para os próximos 30 anos, focado na sustentabilidade, justiça social e desenvolvimento econômico no Brasil.

Terça, 09 de Dezembro de 2025 às 10:52, por: CdB

Um projeto de tão longo prazo exige a reconstrução de um Estado planejador e indutor, que supere visões minimalistas e retome seu papel estratégico com inteligência e agilidade.

Por Thiago Modenesi – de Brasília

A história brasileira é marcada por ciclos de avanços e retrocessos, nos quais projetos nacionais de desenvolvimento tiveram momentos de brilho, mas frequentemente foram interrompidos por descontinuidades políticas e crises. No atual contexto global de transformações climáticas, revolução digital, reordenação geopolítica e demandas urgentes por justiça social o Brasil se encontra diante de uma encruzilhada decisiva. A possível reeleição do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva não representa apenas mais um mandato, mas a oportunidade histórica de lançar as bases, em diálogo com toda a sociedade, de um Projeto Nacional de Desenvolvimento Sustentável e Soberano para os próximos 30 anos. Aqui discorremos sobre alguns possíveis pilares fundamentais que devem sustentar essa construção, articulados de forma orgânica e interdependente.

Um novo Projeto Nacional para os próximos 30 anos | Projeto Nacional de Desenvolvimento Sustentável e Soberano para os próximos 30 anos
Projeto Nacional de Desenvolvimento Sustentável e Soberano para os próximos 30 anos

Um projeto de tão longo prazo exige, antes de tudo, a reconstrução de um Estado planejador e indutor, que supere visões minimalistas e retome seu papel estratégico com inteligência e agilidade. Trata-se de um Estado capaz de formular e perseguir metas claras para décadas, utilizando instrumentos robustos de planejamento e uma burocracia técnica de excelência. Seu papel deve ser o de induzir, com políticas industriais, tecnológicas e regionais modernas, setores estratégicos como a energia verde, a bioeconomia e a saúde, coordenando investimentos públicos e privados. Ao mesmo tempo, este Estado forte deve regular com firmeza, protegendo a sociedade e o meio ambiente, garantindo que o mercado opere em favor do desenvolvimento nacional e da redução das desigualdades.

O eixo central deste novo modelo deve ser a transição socioecológica, transformando a riqueza natural e os desafios sociais do Brasil em alicerces de uma nova vantagem competitiva. Isso implica ir além do combate ao desmatamento para assumir uma posição de potência ambiental, liderando a economia de baixo carbono através da bioeconomia, dos créditos de carbono de alta qualidade e do extrativismo sustentável.

Esta transição deve impulsionar uma reindustrialização verde, fomentando uma nova indústria baseada em energias renováveis, na química da biomassa e na economia circular. Crucialmente, este processo deve ser guiado pela justiça ambiental e social, garantindo que a transformação beneficie primeiro os mais vulneráveis, as populações tradicionais e periferias urbanas, criando empregos dignos e combatendo o racismo ambiental.

Neste esforço, a construção de uma soberania ativa é condição fundamental. Em um mundo multipolar, o Brasil precisa diversificar parcerias e defender seus interesses com pragmatismo e autonomia. Isso significa aliar sua potência agroexportadora à garantia da soberania alimentar e ao domínio de tecnologias cruciais. Requer reativar e aprofundar a integração sul-americana, tornando o continente um polo de estabilidade e crescimento através de projetos conjuntos de infraestrutura, comércio e defesa. Paralelamente, uma diplomacia de múltiplos eixos deve fortalecer laços com o Sul Global e negociar de forma assertiva com os grandes polos do poder mundial.

Transformações

Nenhuma dessas transformações será possível sem alavancar a inovação, a educação e o conhecimento como motores perenes do desenvolvimento. É imperativo revolucionar a educação pública, da creche ao ensino médio, com foco inabalável na qualidade, na equidade e na formação técnica conectada às necessidades do futuro. Ao mesmo tempo, um Sistema Nacional de Inovação robusto exige a reconstrução do financiamento estável para a ciência, com parcerias que transformem pesquisa em progresso tangível para a sociedade. Tudo isso deve repousar sobre uma infraestrutura digital universal, onde a banda larga de qualidade seja um direito fundamental, democratizando o acesso à informação e aos serviços.

Contudo, não haverá desenvolvimento estável e duradouro sem o enfrentamento decisivo das desigualdades estruturais que historicamente marcam o país. A superação das disparidades de renda, raça, gênero e região é um imperativo ético e um requisito de eficiência econômica. Isso demanda a promoção do trabalho digno e da renda, o combate à precarização e a ampliação de políticas de transferência de renda articuladas com a inclusão produtiva. Requer consolidar os pilares do Estado social, como o Sistema Único de Saúde e a seguridade social, e implementar políticas afirmativas efetivas e transversais, reconhecendo que a plena cidadania para negros, indígenas e mulheres é condição sine qua non para o progresso nacional.

Por fim, a sustentabilidade de um projeto tricenal depende da consolidação de um pacto democrático mais profundo. A democracia precisa ser fortalecida para além dos ciclos eleitorais, o que inclui enfrentar o desafio da desinformação com comunicação democrática e plural, e institucionalizar canais permanentes de participação social. O projeto deve emergir de um grande diálogo nacional com movimentos sociais, setor empresarial, academia e comunidades, transformando-se em um compromisso intergeracional que transcenda governos.

A possível reeleição do Presidente Lula oferece, assim, a janela de oportunidade para iniciar esta construção coletiva. As bases propostas formam um círculo virtuoso onde um Estado indutor, a transição ecológica, a soberania, o conhecimento, a justiça social e a democracia se reforçam mutuamente. A ideia não é para um plano de um governo, mas um Projeto de Nação.

O Brasil possui todos os recursos para se tornar uma sociedade próspera, justa e sustentável. Falta-nos o pacto social, a construção de uma maioria democrática e progressista no país e a vontade política persistente para colocar esse potencial a serviço do futuro comum. O amanhã se planta hoje. É hora de começar, há exemplos concretos de êxito de iniciativas como essa de projetos a médio prazo, como a China que deu um salto econômico e social dos anos 90 para hoje.

 

Thiago Modenesi, é Bacharel em Direito, Licenciado em História e Pedagogo, Especialista em Ensino de História, Ciência Política, Gestão da Aprendizagem e Moderna Educação, Mestre e Doutor em Educação, com pos-doutorado na área. É professor no Mestrado em Gestão Pública para o Desenvolvimento do Nordeste e nos Programas de Pós-Graduação em Engenharia Biomédica e Ciências Farmacêuticas, todos na UFPE, membro do INCT iCeis, pesquisador sobre inovação e Estado, charges, cartuns e histórias em quadrinhos e editor na Quadriculando Editora, além de presidente do PCdoB em Jaboatão dos Guararapes-PE.

As opiniões aqui expostas não representam necessariamente a opinião do Correio do Brasil

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