Rio de Janeiro, 05 de Dezembro de 2025

Ministério Público liga PCC a rede de agrotóxicos falsificados

Ministério Público revela que o PCC está envolvido no contrabando e falsificação de agrotóxicos, movimentando R$ 20 bilhões por ano. Entenda a operação em Franca.

Segunda, 27 de Outubro de 2025 às 11:19, por: CdB

Facção lucra com contrabando, roubo e falsificação de agrotóxicos; operação em Franca revelou negociações sobre veneno para lavoura de café e movimentação de R$ 20 bilhões por ano.

Por Redação, com Agenda do Poder – de São Paulo

O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) confirmou que o Primeiro Comando da Capital (PCC) atua diretamente no mercado ilegal de agrotóxicos no país, informa reportagem do portal UOL. A facção, conhecida por dominar o tráfico de drogas e o sistema prisional, tem expandido sua influência para mercados legais, como postos de gasolina e o setor financeiro; agora, sua influência também chega ao setor agrícola, movimentando um esquema criminoso avaliado em cerca de R$ 20,8 bilhões por ano, segundo estimativas do Instituto de Desenvolvimento Econômico Social de Fronteira (Idesf).

Ministério Público liga PCC a rede de agrotóxicos falsificados | PCC se infiltrou no agro, segundo investigações
PCC se infiltrou no agro, segundo investigações

A descoberta ocorreu durante uma operação do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) em Franca, no interior paulista, que inicialmente investigava práticas de agiotagem. Ao interceptar mensagens entre suspeitos, os promotores identificaram diálogos entre dois integrantes do PCC que negociavam veneno para lavoura de café — código usado para se referir a agrotóxicos ilegais. Ambos foram presos.

De acordo com as conversas, a facção havia recebido R$ 40 mil por uma carga e sofrido calote em outra negociação. O comprador, que teria adquirido defensivos roubados, foi colocado na “lista negra” do grupo.

Em julho, o MP-SP apreendeu mais de 30 mil embalagens que seriam utilizadas na falsificação de produtos. A ação em Franca foi considerada uma das maiores já registradas no Estado contra o comércio ilegal de agrotóxicos.

Rede criminosa estruturada

O mercado clandestino de defensivos agrícolas no Brasil é mantido por quatro pilares principais, segundo o Idesf: o roubo de cargas, a falsificação de produtos, o contrabando e o desvio de finalidade de substâncias legalizadas. A engrenagem envolve diferentes núcleos: há quem produza rótulos e embalagens falsas, quem manipule as substâncias químicas e quem cuide da documentação adulterada.

Segundo Luciano Stremel Barros, presidente do Idesf, o contrabando de agrotóxicos é o método mais vantajoso para o crime. “O criminoso não precisa se dar ao trabalho de misturar. Ele traz o produto mais barato da fronteira e coloca na embalagem de um defensivo permitido no Brasil”, afirmou.

A maior parte do contrabando passa pelo Paraguai, onde, desde 2019, o uso do princípio ativo benzoato de emamectina foi liberado. Para reduzir o risco de apreensão antes da travessia para o Brasil, quadrilhas chegam a pagar tributos ao governo paraguaio, legalizando temporariamente o produto no país vizinho.

Rotas e logística do crime

A principal via de escoamento dos agrotóxicos ilegais é a BR-163, que liga o Mato Grosso ao Paraná. Entre 2018 e 2021, a Polícia Rodoviária Federal apreendeu 54,8 mil quilos de produtos contrabandeados nessa rodovia, segundo levantamento do Idesf. As BRs 116 e 262 também aparecem entre os corredores mais utilizados pelas quadrilhas.

Além das rotas terrestres, o crime se beneficia do descarte irregular de embalagens usadas. “Quando as embalagens vazias não seguem para a reciclagem, elas caem nas mãos do crime organizado e financiam o esquema”, alertou o promotor Adriano Mellega, do Gaeco.

Setor pede reforço na fiscalização

A associação CropLife, que representa empresas de pesquisa e desenvolvimento de soluções agrícolas, defendeu mais ações conjuntas entre órgãos de fiscalização. “É necessário que haja mais ações de fiscalização e repressão por todas as autoridades que têm alguma atribuição relacionada aos agrotóxicos”, afirmou a entidade.

O Ministério Público segue apurando a participação do PCC na rede de falsificação e contrabando. Procuradas, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) e a Polícia Federal (PF) ainda não se manifestaram sobre o caso.

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