Gaeco aponta pagamento de propina milionária a policiais civis e advogado para paralisar investigação contra integrante da facção.
Por Redação, com Agenda do Poder – de São Paulo
Uma operação do Ministério Público de São Paulo prendeu, na manhã desta quarta-feira, dois policiais civis do Denarc e um advogado suspeitos de integrar um esquema de corrupção que teria beneficiado o Primeiro Comando da Capital. A ação apura o pagamento de propina para interromper uma investigação contra um membro da facção. Um terceiro policial também é investigado, mas não teve a prisão solicitada neste momento.

A operação, batizada de Mata-Nota, é conduzida pelo Gaeco em parceria com a Corregedoria da Polícia Civil e a Polícia Federal. O grupo atuou simultaneamente em diferentes endereços residenciais e na sede do Denarc, cumprindo mandados de busca e apreensão autorizados pela Justiça.
Prisões e bloqueio de bens autorizados pela Justiça
Os dois policiais e o advogado foram presos preventivamente por determinação da 2ª Vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Bens e Valores da Capital. De acordo com a decisão judicial, a medida é necessária para evitar interferências na investigação e novas práticas ilícitas.
A Justiça também determinou o confisco, sequestro e bloqueio de até R$ 1 milhão em bens pertencentes aos suspeitos. Segundo o Gaeco, esse é o valor da propina paga pelo advogado aos três policiais com o objetivo de paralisar a investigação sobre um traficante conhecido como Costurado, apontado como integrante da estrutura financeira do PCC.
Procurada, a Secretaria da Segurança Pública informou que apoia a operação e “não tolera desvios de conduta por parte de seus agentes e que todas as medidas administrativas cabíveis serão adotadas, sem prejuízo das apurações criminais e disciplinares”.
Investigação começou após apreensão de 345 kg de drogas
A apuração teve início em 2024, após a prisão em flagrante de um homem que transportava 345 kg de drogas escondidas no fundo falso de um caminhão frigorífico. Com a quebra de sigilo telemático, os investigadores tiveram acesso a um vídeo que revelava negociações para pagamento de propina.
O conteúdo registra, em 23 de maio de 2024, uma videochamada entre dois policiais do Denarc e o advogado preso nesta quarta-feira, com menção ao terceiro policial investigado. Segundo o Gaeco, pouco depois desse contato, os agentes passaram a adquirir imóveis, embora apresentassem patrimônio incompatível com seus salários.
Paralelamente, os investigadores descobriram um laboratório de refino de drogas ligado a Costurado, na cidade de Jarinu, no interior paulista. Mesmo assim, a apuração contra o integrante do PCC foi interrompida — situação que reforçou a suspeita de interferência criminosa.
Advogado já tinha condenação anterior por sequestro
O advogado detido é Ademilson Alves de Brito, que já havia sido condenado anteriormente por extorsão mediante sequestro e associação criminosa. Ele agora é acusado de atuar como intermediário entre os policiais e a facção. A reportagem tenta localizar sua defesa.
Segundo a Promotoria, a atuação do grupo demonstrava organização e objetivo claro: assegurar que Costurado não fosse alcançado pelas investigações, mesmo com provas de envolvimento em operações de logística do PCC.