Rio de Janeiro, 06 de Dezembro de 2025

Facções criminosas mantêm presença em todos os Estados, diz relatório

Estudo inédito revela a presença de facções criminosas em todos os Estados do Brasil, destacando PCC e CV. Descubra os detalhes sobre suas operações e estratégias.

Sábado, 06 de Dezembro de 2025 às 15:49, por: CdB

O estudo combina informes produzidos por superintendências regionais da Abin com a validação das informações por consultores especializados no tema e checagem nas secretarias estaduais de Segurança Pública.

Por Redação, com Reuters – de São Paulo

Duas das maiores facções criminosas em atuação no país, o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV) estão presentes nas 27 unidades da Federação, mas com hegemonia em 13 Estados com os maiores índices habitacionais do país. Os dados inéditos constam de relatório do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, divulgado neste sábado, com informações preliminares de parceria com a Agência Brasileira de Inteligência (Abin). O lançamento do estudo completo está previsto para fevereiro do ano que vem.

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O documento preliminar mostra que o PCC tem hegemonia em Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Rondônia, Roraima, São Paulo e Piauí. Já o CV tem domínio sobre seis Estados: Acre, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Tocantins e Rio de Janeiro, Estado onde surgiu.

O estudo combina informes produzidos por superintendências regionais da Abin com a validação das informações por consultores especializados no tema e checagem nas secretarias estaduais de Segurança Pública.

 

Assassinatos

Presentes em todas as unidades da federação, as duas facções deixaram de ser apenas grupos restritos aos presídios para se tornar organizações transnacionais, cada uma operando a partir de um próprio “manual de negócios”. Os dados indicam que ambas exercem hegemonia no cenário nacional e fazem negócios internacionais, mas adotam estratégias e modelos de governança distintos. O diretor presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de Lima, aponta que a configuração atual remonta a 2016, quando o PCC rompeu com o CV após o assassinato de Jorge Rafaat, conhecido como o “Rei da Fronteira” entre Brasil e Paraguai.

Rafaat era o grande atacadista que abastecia simultaneamente as duas organizações criminosas. Seu assassinato pelo PCC e a tomada do controle da rota caipira provocaram o rompimento definitivo entre as duas facções. A rota caipira é como ficou conhecido o trajeto que parte da fronteira e leva até o Porto de Santos a droga dos países sul-americanos.

A partir desse episódio, instalou-se a guerra que redefiniu o mapa criminal no Brasil. Sem o antigo acesso aos fluxos tradicionais de drogas, o CV foi obrigado a buscar novas rotas de abastecimento e, inicialmente, firmou aliança com a facção Família do Norte, em Manaus. Atualmente, essa organização é considerada extinta por investigadores.

 

Resposta

Com essa parceria, o CV passou a dominar a rota do Solimões, garantindo seu próprio fornecimento. O controle territorial se tornou, então, a base de sua estratégia de expansão, um movimento que fortaleceu a facção e se consolidou como resposta direta ao avanço do PCC.

— Atualmente, o PCC controla a rota caipira e se especializa no atacado e no envio de drogas, principalmente para a Europa, enquanto o Comando Vermelho controla o Alto Solimões e se concentra em abastecer o consumo interno no Brasil, apesar de também ter negócios internacionais, só que de forma embrionária perto do PCC — disse Lima.

A expansão de cada facção, no entanto, ocorreu por caminhos distintos. O CV caracteriza-se pela expansão territorial agressiva, utilizando confrontos para matar ou integrar traficantes e facções locais. Sua atividade principal foca em abastecer o consumo interno de drogas no Brasil, que é o segundo maior consumidor mundial de cocaína. Para isso, controla territórios que passam pela Amazônia, terras indígenas e chegam aos centros consumidores, como o Sudeste.

 

Solimões

Já a maconha skunk produzida na Colômbia, que chega por meio da Rota do Solimões, é destinada quase integralmente ao mercado brasileiro e registra crescimento especialmente nas regiões Sul e Sudeste. O estudo aponta que a facção está na Colômbia, Peru, Bolívia e Suriname. Dados da Polícia Federal (PF), contudo, mostram que há negócios também com Argentina, Paraguai e Venezuela. Lima explica que quando houve a expansão do Comando Vermelho para aAmazônia, já existiam modalidades de crime organizado fortemente conectadas a ilícitos ambientais, como desmatamento, garimpo e grilagem.

O crime ambiental pré-existente na região possuía tecnologia de lavagem de dinheiro bastante sofisticada, como no caso do ouro, que acabou por capacitar e qualificar a facção a lavar o dinheiro da droga.

O método de atuação do PCC, por sua vez, baseia-se na ocupação estratégica de pontos de infraestrutura crítica: portos, aeroportos e estradas que conectam regiões. A facção se especializou no tráfico em grande escala e no envio de drogas, sobretudo para a Europa, mercado considerado mais rentável. O grupo explora intensamente as rotas aéreas e utiliza alianças para acessar diferentes mercados, operando com uma estrutura que se assemelha a uma holding e associados: parceiros que utilizam a logística da facção para garantir que a carga chegue ao destino final.

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