Candidato à prefeitura de São Paulo pelo PSOL, no ano passado, Guilherme Boulos afirma que a campanha trouxe dois ensinamentos que devem servir de parâmetro para a esquerda nos embates que estão por vir.
Por Redação - de São Paulo
É possível haver alianças pontuais com a centro-direita no país em defesa da democracia? “Sim, não tem nem que olhar para o lado”, responde Guilherme Boulos, líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST). Mas acreditar em alguma aliança com a centro-direita para se discutir um projeto de país “não é razoável”, ele alerta.
— E digo por quê: porque eles são sócios da agenda econômica. Todos eles são sócios desse projeto (retirada de direitos, privatizações, teto de gastos, autonomia do Banco Central…) — observa Boulos.
— Então, como construir uma ampla aliança capaz de derrotar o bolsonarismo em 2022? — questiona a agência brasileira de notícias Rede Brasil Atual (RBA), durante o programa República e Democracia, que foi ao ar na TVT, na noite passada.
— Nós temos que ser capazes de disputar a consciência popular, de despertar a esperança no povo — responde Boulos.
Disputa
Candidato à prefeitura de São Paulo pelo PSOL, no ano passado, Guilherme Boulos afirma que a campanha trouxe dois ensinamentos que devem servir de parâmetro para a esquerda nos embates que estão por vir.
— Nossa campanha em São Paulo mostrou que o bolsonarismo não é imbatível nas redes sociais. Vencemos o bolsonarismo sem fake news, sem nenhuma baixaria nas redes. Por vezes a esquerda faz um debate muito sisudo. O bolsonarismo ganhou a eleição de 2018 com memes” — lembra.
E acrescenta a segunda lição das eleições:
— Construir pontes com o povo. Fascista é o Bolsonaro, e não o eleitor dele.
No programa, Boulos adverte para a ausência da esquerda na guerra cultural.
— Bolsonaro ganhou disputa ideológica e de valores na sociedade por W.O. A esquerda não entrou. E precisa disputar valores solidários, coletivos. O outro lado está disputando e a gente não — avalia.
Reconstrução
Para ele, é preciso dialogar com as novas modalidades de economia e de relações de trabalho num mundo “precarizado e uberizado”.
— Parte da classe dessa trabalhadora entra nessa fase com viés de empreendedorismo. Precisamos saber dialogar com isso. Deparamos com jovens na periferia dizendo que não querem carteira assinada. Querem incentivo. A economia tem outra cara e nós perdemos nossa capacidade de diálogo com uma imensa massa de trabalhadores — acrescentou.
O enfrentamento da desigualdade, ele afirma, é o grande desafio de uma reconstrução nacional pós-bolsonaro. E isso inclui desigualdade social, desigualdade racial e de gênero.
— Nem negros, nem mulheres são minoria neste país. Essas lutas são estruturantes. Não podem ser tratadas com viés identitário. Não venceremos só com arranjos políticos — pontua.
Disputa eleitoral
As duas pontes de reconexão com o povo são os movimentos sociais e o trabalho de base, define Boulos.
— Movimento social tem papel chave. Trabalho de base tem papel chave nessa reconexão com o povo brasileiro. Por exemplo, agora é um momento de enfrentar a fome. O MTST está organizando cozinhas solidárias. Aquela senhora que ficou sem gás vai procurar o pastor ou a esquerda? — provoca ele.
Para ilustrar novamente com a disputa eleitoral paulistana sua tese.
— Os bairros em que eu ganhei a eleição na periferia são aqueles em que o MTST tem trabalho há mais de 15 anos. O enraizamento territorial também tem consequências da relação do povo com o processo eleitoral — explica.
Povo sofrido
E essa retomada do trabalho de base, defende o líder do MTST, embora tenha virado clichê, também é chave, é essencial.
— A integração entre partidos e movimento social num momento como esse é decisiva para que gente consiga derrotar o bolsonarismo — adianta.
Isso porque, embora seja possível uma aliança pela democracia com o dito centro político – que para ele é a mesma velha direita de sempre –, essa aliança não passa da página dois.
— Não vai haver derrota do bolsonarismo sem um projeto popular, sem a reconquista da confiança do povo. Não vamos derrotar o bolsonarismo apenas com arranjos políticos. Nós vamos precisar, essa é a lição de casa que temos de fazer nesse período, estar cada vez mais presentes junto ao povo. Ouvindo as suas demandas. Incorporando as suas pautas e buscando reacender uma chama de esperança nesse povo tão sofrido — exemplifica.
‘Via Crúcis’
Na edição anterior, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB) também abordou a o lançamento de uma frente política de oposição direta ao neofascismo bolsonarista.
— Antes de falarmos em 2022, temos 2021 — disse o governador maranhense, logo no início do terceiro programa do projeto República e Democracia.
Ou seja, antes de pensar em eleição, é preciso pensar em caminho para atravessar o que ele chamou de “via Crúcis” procurando saídas para três desafios urgentes: democracia, fome e pandemia.
— Não haverá unidade se não soubermos hierarquizar as questões — resumiu o governador Flávio Dino.