Fazem parte do inquérito das milícias digitais as investigações sobre o suposto desvio das joias do acervo presidencial, a inserção de dados falsos nos sistemas de vacinação, e a suposta trama golpista para impedir a posse do presidente eleito em 2022.
Por Redação – de Brasília
O relatório da Polícia Federal (PF) sobre a chamada ‘Abin paralela’ foram compartilhadas com os inquéritos das fake news, dos atos antidemocráticos e das milícias digitais, os três sob relatoria do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
“Verifica-se a existência de conexão probatória entre a presente investigação e os procedimentos investigatórios que tramitam nesta Corte”, escreveu Moraes na decisão que autorizou a quarta fase da Operação Última Milha, deflagrada na véspera.
No entendimento da Procuradoria-Geral da República (PGR), a estrutura paralela montada na agência de inteligência durante a gestão do delegado Alexandre Ramagem representava “apenas uma célula de uma organização criminosa mais ampla”.
Joias
Segundo a PGR, essa organização utilizava o aparato do Estado para atacar opositores e instituições democráticas em um modus operandi parecido com o apurado nos inquéritos das milícias digitais, dos atos antidemocráticos e das fake news.
Fazem parte do inquérito das milícias digitais as investigações sobre o suposto desvio das joias do acervo presidencial, a inserção de dados falsos nos sistemas de vacinação, e a suposta trama golpista para impedir a posse do presidente eleito em 2022.
A defesa de Bolsonaro tem negado todas as irregularidades, defendido que Moraes não tem prerrogativa para relatar todos esses processos e afirmado que os inquéritos são “direcionados” ao ex-presidente. Bolsonaro, por sua vez, passou a fazer críticas nas redes sociais ao chefe do Departamento de Inteligência (DIP) da PF, delegado Rodrigo Morais, responsável pelos casos.
Golpe de Estado
Em relação ao plano golpista, a PF identificou mensagens trocadas entre servidores da Abin que indicam no mínimo conhecimento do “planejamento das ações que culminaram na construção da minuta do decreto de intervenção”. A informação consta em um relatório da corporação, cujo sigilo foi levantado nesta quinta-feira.
O documento expõe conversas entre o agente da PF Marcelo Araújo Bormevet e o militar do Exército Giancarlo Gomes Rodrigues, em dezembro de 2022. Na ocasião, ambos estavam cedidos para atuarem na Abin, cuja diretoria era exercida pelo delegado da PF Alexandre Ramagem.
Nas mensagens, Bormevet questionou seu subordinado Rodrigues, no dia 21 daquele mês, sobre a possibilidade de o então presidente Jair Bolsonaro assinar, em suas próprias palavras, “a porra do decreto”. A menção seria a um rascunho de um decreto instalando um Estado de Defesa na sede do Tribunal Superior Eleitoral com o objetivo de “garantir a preservação ou o pronto restabelecimento da lisura e correção do processo eleitoral presidencial do ano de 2022”.
“O nosso PR imbrochável já assinou a p… do decreto?”, perguntou Bormevet. “Assinou nada. Tá f… essa espera, se é que vai ter alguma coisa”, respondeu Rodrigues. “Tem dia que eu acredito que terá, tem dia que não”, retrucou o superior.