Rio de Janeiro, 22 de Novembro de 2024

Artistas injetam ânimo novo na campanha de Haddad nesta reta final

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Quarta, 24 de Outubro de 2018 às 13:12, por: CdB

O rapper Mano Brown foi o primeiro a jogar um balde de água fria no ambiente festivo que predominava no público que lotava o largo da Lapa. Em pouco mais de três minutos, o artista disse achar que a eleição já estava decidida e que se o PT "não conseguiu falar a língua do povo, tem que perder mesmo".

 
Por Redação - do Rio de Janeiro e São Paulo
  A virada de Fernando Haddad (PT) sobre a ameaça fascista que cresce no país já começou, mas está longe ainda de uma vitória sobre o adversário, Jair Bolsonaro (PSL). Este é o recado que artistas passaram a difundir, junto aos eleitores do candidato petista, desde a noite passada, em comício no Centro do Rio.
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Caetano, Mano Brown e Chico Buarque abraçam Haddad, no comício que lotou o Largo da Lapa
O rapper Mano Brown foi o primeiro a jogar um balde de água fria no ambiente festivo que predominava no público que lotava o Largo da Lapa. Em pouco mais de três minutos, o artista disse achar que a eleição já estava decidida e que se o PT "não conseguiu falar a língua do povo, tem que perder mesmo". Diante de Fernando Haddad, ele criticou a falha de comunicação da campanha. — Vim apenas me representar. Não gosto do clima de festa. A cegueira que atinge lá, atinge aqui também. Isso é perigoso. Não tá tendo clima pra comemorar — disse o cantor.

O que o povo quer

Mano Brown causou um mal estar nos arcos da Lapa e alguns ensaiaram uma vaia. Mas predominou o silêncio. — Tá tendo quase 30 milhões de votos pra tirar. Não estou pessimista. Sou realista. Não consigo acreditar pessoas que me tratavam com carinho, se transformaram em monstros. Se algum momento a comunicação falhou aqui, vai pagar o preço. A comunicação é alma. Se não conseguir falar a língua do povo, vai perder mesmo. Falar bem do PT para torcida do PT é fácil. Tem uma multidão que precisa ser conquistada ou vamos cair no precipício. Tinha jurado não subir no palanque de mais ninguém — afirmou o rapper. Apesar da tensão no público, ele encerrou: — Não vim aqui ganhar voto. Acho que já tá decidido. Se errou, tem que pagar mesmo. O que mata a gente é o fanatismo e a cegueira. Deixou de entender o povão já era. Se somos o Partido dos Trabalhadores tem que entender o que o povo quer. Se não sabe, volta pra base e vai procurar entender. As minhas ideias são essas. Fechou.

Complexidade

Logo em seguida, o cantor e compositor Caetano Veloso saiu em defesa do rapper. Para o ícone da Tropicália, na década de 70, o discurso de Brown representa a complexidade do momento. Segundo o cantor, o país está mergulhado na "imbecilização da sociedade”. Ele apoiou o discurso anterior e disse que não seria hora de festa. — A fala do Mano traz a complexidade do momento. O Brasil tem sido bombardeado, há décadas, por discursos de sociólogos que usam palavrões em suas análises e apostam na imbecilização da sociedade. Temos que encontrar meios de dizer a esses eufóricos (eleitores do Bolsonaro) do perigo à democracia. Me oponho a 'cafajestização' do homem brasileiro — acrescentou.

Mudança de voto

O sempre festejado Chico Buarque também defendeu Mano Brown. Ele disse que entende o sentimento do rapper, mas afirmou que ainda acredita na vitória de Haddad no segundo turno. — Eu entendo o Mano Brown, tendo a concordar, sei que vai ser difícil, mas eu ainda acredito ser possível — disse. Chico acredita que muita gente que votou em Bolsonaro, no primeiro turno, discorda dos discursos agressivos de Bolsonaro e repele a violência política que se abate sobre o país, nas últimas semanas. — Talvez aqueles eleitores que votaram em Bolsonaro, os chamados coxinhas, se sensibilizem com essa onda de boçalidade, com morte de gays, trans, travestis, mulheres, negros e capoeiras. Quem sabe o povo pobre, que votou em Bolsonaro, contra si mesmo porque a proposta dele vai contra essas pessoas, mude de ideia na hora do voto. Não queremos mais mentira, não queremos mais a força bruta. Queremos Fernando e Manuela — afirmou, aplaudido e apoiado por gritos de "eu acredito”.

Coxinhas

O candidato do PSOL no primeiro turno das eleições, Guilherme Boulos, também usou da palavra e foi ao encontro do ponto de vista de Mano Brown. Segundo Boulos, “o pior erro que a esquerda pode cometer neste momento é achar que todo mundo que vota no Bolsonaro é fascista, racista, machista”. — Não é isso, não. A maioria de seus eleitores é de pessoas desiludidas com um sistema político que faliu. Eles deram um grito de desespero. Ainda que de uma maneira totalmente farsesca, Bolsonaro buscou apresentar-se como um cara contra o sistema, e é esse registro que ficou. Para ganhar a batalha do segundo turno, vai ser preciso saber dialogar com essas pessoas — afirmou.

Pit bull

O risco para a democracia brasileira, em caso de vitória de um representante do fascismo, começa a ficar evidente para a maioria dos brasileiros, disse Boulos. — A vitória do Bolsonaro significaria algo tão grave, que mesmo as ditas autonomias de investigação do Ministério Público e da Polícia Federal seriam desmontadas. Ou alguém acha que Bolsonaro no governo permitiria algum tipo de investigação independente? Eu disse isso num debate: soltar pit bull é fácil, difícil é prender depois. E tem muita gente que ajudou a soltar pit bulls, mas já começa a ser mordido na canela — concluiu.
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