A Record, de propriedade de um grupo evangélico, também noticiou que Varandas é sócia da empresa de consultoria. No LinkedIn, ela se apresenta como “repórter política do Jornal da Record e sócia da Capital Advice Análise Política”.
Por Redação – de Brasília
Ministro da Fazenda, o economista Fernando Haddad não escondeu sua irritação com a divulgação descontextualizada de declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), concedidas à repórter Renata Varandas na noite passada, à TV Record. Durante a tarde, a emissora antecipou trechos específicos da entrevista, cuja íntegra foi ao ar à noite, mas rumores sobre o teor das respostas já circulavam no mercado desde o fim da manhã.
A agência norte-americana de notícias Bloomberg revelou, em sua edição em inglês, que as afirmações de Lula já constavam de um documento da empresa Capital Advice mais de uma hora antes de a Record divulgá-las. A empresa diz trabalhar com “informação e análise política para investidores”.
A Record, de propriedade de um grupo evangélico, também noticiou que Varandas é sócia da empresa de consultoria. No LinkedIn, ela se apresenta como “repórter política do Jornal da Record e sócia da Capital Advice Análise Política”. A emissora, no entanto, afirmou em nota à revista CartaCapital, nesta quarta-feira, que tomou conhecimento do vínculo da repórter com a Capital Advice somente após a divulgação da notícia.
Especulação
“A emissora deixa claro que condena qualquer vazamento de informações, principalmente com recorte parcial do que é apurado em entrevistas feitas por nossas equipes. Medidas cabíveis serão tomadas com a apuração dos fatos”, diz a nota.
Os vazamentos, segundo o ministro, geraram uma especulação desnecessária sobre a política fiscal do governo. Uma série de ‘memes’ inundou as redes sociais, durante esta manhã, apelidando Fernando Haddad de ‘Taxad’, por uma suposta defesa ao aumento de impostos.
Nas últimas semanas, setores do mercado financeiro criticaram Lula pela ofensiva sobre o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, e por uma suposta falta de sinalização quanto à disposição de cortar gastos. A área econômica tenta a todo custo evitar uma nova escalada do dólar, como a que ocorreu entre o fim de junho e o começo de julho.
Arcabouço
Em um dos recortes que geraram repercussão, Lula diz:
— É apenas uma questão de visão. Você não é obrigado a estabelecer uma meta e cumpri-la se você tiver coisas mais importantes para fazer. Este país é muito grande, este país é muito poderoso. O que é pequeno é a cabeça dos dirigentes deste país e a cabeça de alguns especuladores.
Haddad afirmou, porém, que Lula reforçou seu compromisso com o arcabouço fiscal, desenhado pelo atual governo como substituto do teto de gastos de Michel Temer (MDB). Ato contínuo, o Ministério da Fazenda divulgou outro trecho da entrevista, em que Lula declara:
— Vamos fazer o que for necessário para cumprir o arcabouço fiscal. Eu dizia na campanha que íamos criar um país com estabilidade política, jurídica, fiscal, econômica e social. Essa responsabilidade, esse compromisso, posso dizer para você como se tivesse dizendo para um filho meu, para a minha mulher; responsabilidade fiscal eu não aprendi na faculdade, eu trago do berço.
Reunião
No início de julho, Haddad anunciou um corte de 25,9 bilhões de reais em despesas obrigatórias no Orçamento de 2025, a fim de cumprir o arcabouço. Nesta terça, o ministro afirmou que o Planejamento, pasta comandada por Simone Tebet (MDB), divulgará nos próximos dias os detalhes sobre essa redução.
O ministro da Fazenda também declarou que se reunirá com Lula nos próximos dias para tratar do Orçamento deste ano e indicou a possibilidade de anunciar bloqueios e contingenciamentos para respeitar a regra fiscal.