Rio de Janeiro, 05 de Dezembro de 2025

PCdoB: Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa

Por Breno Altman - Daí a sair agredindo o PCdoB, classificá-lo como um “partido traidor” ou aliado de Bolsonaro, ou como uma agremiação trânsfuga, vai uma enorme distância. Simplesmente inaceitável esse tipo de sectarismo.

Quinta, 17 de Janeiro de 2019 às 11:39, por: CdB

Daí a sair agredindo o PCdoB, classificá-lo como um “partido traidor” ou aliado de Bolsonaro, ou como uma agremiação trânsfuga, vai uma enorme distância. Simplesmente inaceitável esse tipo de sectarismo.

 
Por Breno Altman - de São Paulo
  Ao apoiar a candidatura de Rodrigo Maia à Presidência da Câmara dos Deputados, a meu juízo, o PCdoB comete um grave erro, cuja conta maior será paga pelo próprio partido, que o desgaste já corre estrada.
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Ao longo da História, o PCdoB tem sido um dos pilares de sustentação das forças de esquerda, no país
Erra porque prioriza os espaços parlamentares sobre a disputa político-social e a construção de uma frente popular contra Bolsonaro. Erra porque normaliza o bolsonarismo como fenômeno político, ao objetivamente se aliar com o PSL nessa batalha. Erra porque se coloca sob a batuta da centro-direita nesse episódio concreto, desconsiderando que esse setor político é hoje um braço do bolsonarismo. Erra porque abala a aliança histórica com o PT, fortalecendo a via errática e antipetista proposta por Ciro Gomes. Erra porque ajuda a gerar confusão, desânimo e divisão nas fileiras progressistas, incluindo nas suas próprias fileiras.

Maledicências

Mas daí a sair agredindo o PCdoB, classificá-lo como um “partido traidor” ou aliado de Bolsonaro, ou como uma agremiação trânsfuga, vai uma enorme distância. Simplesmente inaceitável esse tipo de sectarismo e intolerância diante da posição adotada pelo PCdoB, que continua a ser um dos pilares da resistência popular. A crítica no seio da esquerda não pode ser substituída pelo ataque desordenado e desrespeitoso, como se a batalha pela Presidência da Camara dos Deputados fosse um divisor de águas irrevogável. Tampouco essa crítica pode ser alimentada por falsas informações, boatos e maledicências. Está certo que vários militantes do PCdoB respondem até mesmo a críticas ponderadas com um patriotismo de partido igualmente sectário e destrambelhado, disparando agressões inomináveis até contra históricas figuras como Roberto Requião. Mas considerar adequado esse tom de debate seria um suicídio coletivo.

Esquerda

Muito calma nessa hora. O debate obviamente é bem-vinda, todos têm que aprender a conviver com a crítica. Não podemos perder de vista, porém, que o objetivo central é construir uma frente única de resistência ao bloco bolsonarista, na qual é evidente o papel a ser cumprido pelo PCdoB. Os militantes do PT, em especial, exatamente por conta da legenda ser a principal força do campo de esquerda, devem ter muita responsabilidade e prudência nesse momento, travando a discussão com cuidado e respeito, que será longa e difícil a travessia do deserto. Breno Altman é jornalista, editor da revista Samuel.
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