Era uma vez um grande inquisidor, que montou uma implacável força-tarefa de caçadores de bruxas e a todas mandava para o cárcere, as torturas e, finalmente, a fogueira. Uma delas, em meio a sofrimentos inenarráveis, delatou uma satanista que o grande inquisidor conhecia de vista.
Por Celso Lungaretti, de São Paulo:
Tratava-se de uma mulher bela e sensual, cuja simples visão já lhe despertava os mais impuros desejos.
Tal mulher passou a acolher o grande inquisidor em sua mesa e na sua cama; coincidentemente, aquela denúncia foi totalmente esquecida por uns tempos.
Até que alguém interceptou o manuscrito em que o grande inquisidor escrevera seus apontamentos sobre aquela sessão de tortura na qual sua nova parceira fora denunciada.
Os detalhes do caso passaram a ser de conhecimento geral e muita gente começou a suspeitar de que o dito incorruptível cedera às tentações do cargo.
Como o que estou contando é uma fábula, o grande inquisidor não só perdeu o cargo, mas também a liberdade. Foi fazer companhia aos satanistas corrompidos que antes perseguia.
Se isto acontecesse na vida real, mais precisamente no Brasil do século 21, talvez o grande inquisidor escapasse da merecida punição, alegando que seu manuscrito fora interceptado de maneira ilegal..
Celso Lungaretti, jornalista e escritor, foi resistente à ditadura militar ainda secundarista e participou da Vanguarda Popular Revolucionária. Preso e processado, escreveu o livro Náufrago da Utopia (Geração Editorial). Tem um ativo blog com esse mesmo título.
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