A diligência policial ocorreu com a aprovação do ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), relator de uma investigação sobre supostas irregularidades na condução de casos criminais pela Justiça Federal do Paraná.
Por Redação – de Brasília e Curitiba
Uma operação da Polícia Federal (PF) cumpriu, na manhã desta quarta-feira, na 13ª Vara Federal de Curitiba, onde se originou a ‘Operação Lava Jato’, o mandado de busca e apreensão de documentos ligados a casos anteriores à operação. A suspeição contra o então juiz titular da instância judicial, o agora senador Sérgio Moro, antecede o inquérito que tinha como principal alvo o hoje presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A diligência policial ocorreu com a aprovação do ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), relator de uma investigação sobre supostas irregularidades na condução de casos criminais pela Justiça Federal do Paraná. Novamente, Moro está no centro do alvo. Foram recolhidos documentos insistentemente solicitados pelo Supremo, mas que nunca foram encaminhados.
O inquérito, que corre sob sigilo de Justiça, teve início no ano passado a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR), após apurações da Polícia Federal (PF) terem apontado a necessidade de aprofundar as investigações sobre declarações do empresário e ex-deputado estadual do Paraná Antônio Celso Garcia, conhecido como Tony Garcia.
Caso antigo
A investigação remonta a um acordo de colaboração premiada firmado ainda em 2004 por Garcia, após ele ser preso pela PF sob a acusação de gestão fraudulenta do Consórcio Nacional Garibaldi, em processo anterior ao da ‘Lava Jato’. Garcia acusa Moro de intimidá-lo a gravar investigados e “trabalhar” para obter provas contra políticos e outras figuras proeminentes no cenário econômico.
Antes da ‘Lava Jato’, a principal investigação conduzida pelo então juiz Sérgio Moro, que lidou com movimentações de dólares e doleiros, foi a ‘Operação Banestado’, que teve início no final dos anos 90 e se desenrolou nos anos 2000, sobre um vasto esquema de evasão de divisas e lavagem de dinheiro que movimentou bilhões de dólares para o exterior, principalmente através de contas CC5 do Banco do Estado do Paraná (Banestado), em Foz do Iguaçu.
A operação foi crucial por focar nos operadores do esquema, ou seja, os doleiros, que eram responsáveis por movimentar ilegalmente os valores. Um dos principais doleiros investigados na ‘Banestado’ foi Alberto Youssef, que viria a ser o estopim da ‘Lava Jato’, em 2014.
Desvio
Mas a PF tem encontrado sinais de que Sérgio Moro deixou para trás alguns pontos obscuros na evasão de divisas. O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) realizou correições que apontaram possíveis irregularidades na gestão de valores recuperados da operação anterior.
No caso do inquérito que levou Lula a ser preso, indevidamente, o relatório do CNJ também aponta que Moro, o ex-procurador Deltan Dallagnol e a juíza Gabriela Hardt podem ter atuado em conjunto para desviar cerca de R$ 2,5 bilhões que seriam destinados ao Estado brasileiro, com o auxílio de agentes públicos norte-americanos.
Após deixar a magistratura e o Ministério da Justiça, Moro trabalhou por um período para a consultoria norte-americana Alvarez & Marsal, que administrava a recuperação judicial de algumas das empreiteiras investigadas na ‘Lava Jato’, o que gerou suspeitas de conflito de interesse e está sob investigação do Tribunal de Contas da União (TCU).
Outro lado
Por meio de nota, nesta quarta-feira, Moro disse que não teve acesso aos autos do inquérito, “instaurado com base em um relato fantasioso de Tony Garcia”.
Segundo o senador, não houve qualquer irregularidade no processo e que “não há causa para competência do STF no inquérito, já que não há sob investigação ato praticado por Sergio Moro na condição de senador ou ministro”.