Em memória da violência impune, neste ano, o movimento promoveu 40 ações em 17 Estados, incluindo ocupações e marchas, com o objetivo de pressionar por assentamentos para 65 mil famílias acampadas.
Por Redação, com BdF – de São Paulo
Um dos principais dirigentes do Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o militante Gilmar Mauro ajuda na coordenação das ações realizadas ao longo do ‘Abril Vermelho’ deste ano. O mês é marcado pelo massacre de Eldorado dos Carajás, em 1996, que deixou 21 mortos.

Em memória da violência impune, neste ano, o movimento promoveu 40 ações em 17 Estados, incluindo ocupações e marchas, com o objetivo de pressionar por assentamentos para 65 mil famílias acampadas.
— O orçamento para reforma agrária é insuficiente. O governo promete assentar 12 mil famílias este ano, mas precisamos resolver o problema das 65 mil que esperam há décadas — afirmou Mauro, em entrevista ao site de notícias Brasil de Fato (BdF), nesta manhã.
Violência no campo e
criminalização do MST
A demonização do movimento pela elite da sociedade brasileira, segundo Mauro, ocorre em parte pela resistência histórica à reforma agrária.
— Desde Canudos até as Ligas Camponesas, as lutas pela terra foram reprimidas. O MST sobrevive porque tem apoio popular, mas enfrenta discursos de ódio e até atentados, como o atropelamento de militantes em Recife — lembrou.
Questionado também sobre a alta nos preços dos alimentos, Mauro apontou causas estruturais como fatores determinantes para a realidade. A prioridade à exportação, por exemplo, com 70% das terras cultiváveis produzindo soja e milho para o mercado externo, o que reduz a oferta de alimentos básicos. A especulação financeira, com a negociação das commodities agrícolas negociadas em bolsas, inflacionando preços. Ainda, a concentração do mercado: poucas empresas controlam insumos, processamento e distribuição.
— Um aumento de 1% na Selic drena R$ 48 bilhões da economia. Com 3% desse valor, resolveríamos a reforma agrária no país — criticou.
Soluções
Entre as medidas que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pode tomar estão o aumento dos recursos para o crédito à agricultura familiar (apenas 3,5% dos assentados acessaram financiamentos em 2024) e a volta da Conab para regular estoques e combater altas especulativas.
Taxar lucros excessivos do agronegócio e destinar verba à reforma agrária popular também é um ponto destacado pelo líder sem-terra.
— Temos 100 milhões de hectares degradados que poderiam virar agroflorestas produtivas. É uma questão de vontade política — observou.
Modelo
Mauro denunciou, ainda, os impactos do agronegócio na estrutura agrária, com a destruição ambiental e o risco de savanização da Amazônia; o esgotamento do Aquífero Guarani e a contaminação por agrotóxicos.
Para a saúde pública, os ultraprocessados dominam 90% da alimentação global, gerando obesidade e doenças.
— O MST fornece 400 tipos de alimentos via PAA. Precisamos diversificar a produção e mudar hábitos de consumo. Só a revolução pode frear a crise climática — acrescentou.
Ao final, Mauro foi enfático ao determinar que “o capitalismo lucra com a destruição”.
— Enquanto houver financiamento de guerra e monocultivos, o colapso ambiental avançará. Reforma agrária popular é parte da solução, mas precisamos de mobilização massiva para mudar o sistema — concluiu.