Em São Paulo, com 40,65% dos votos, Boulos praticamente repetiu o resultado de 2020, quando também perdeu no segundo turno, sendo que agora dispôs de mais recursos e tempo de televisão.
Por Redação – de São Paulo
Proliferam desde o último domingo, na maioria dos meios de comunicação ligados à direita, análises que constatam a derrota da centro-esquerda nas eleições municipais. O resultado negativo do deputado Guilherme Boulos (PSOL) frente o adversário da direita, o prefeito Ricardo Nunes (MDB), na eleição paulistana, tem servido de parâmetro para as mais diversas críticas ao Partido dos Trabalhadores (PT), em nível nacional.
Em São Paulo, com 40,65% dos votos, Boulos praticamente repetiu o resultado de 2020, quando também perdeu no segundo turno, sendo que agora dispôs de mais recursos e tempo de televisão.
Em nível nacional, o PT chegou agora a 252 prefeituras, com desempenho inferior ao de oito partidos, a maioria da direita e extrema direita, do chamado ‘Centrão’. Foi mais do que em 2020, quando a legenda chegou ao fundo do poço, mas muito aquém das 637 conquistadas em 2012.
Laços
Em busca de uma explicação para o fenômeno, o cientista político André Singer, professor da USP, ex-porta-voz do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao longo dos dois primeiros mandatos, afirma que o desafio é desenhar um programa de governo “nas condições bastante difíceis que o capitalismo tardio impõe”.
O professor, em entrevista publicada nesta segunda-feira por um dos diários conservadores da capital paulistana, chama a atenção para o processo de desindustrialização em curso em todo o mundo, incluindo o Brasil. “Processo este que dissolve os laços da antiga classe trabalhadora, que um dia se encontrou nas fábricas e pôde se unir em torno de demandas de melhores condições de trabalho e igualdade. Foi desse sindicalismo que nasceu o PT”, classifica o professor.
Enquanto mais e mais trabalhadores hoje atuam por conta própria, dentro do conceito de empreendedorismo que ganhou projeção no país com o aumento no número de evangélicos, desenhou-se uma nova realidade desconectada da plataforma do partido. “E para a qual a esquerda precisa de adaptar”, diz Singer.
— É uma realidade contra a qual a esquerda vem lutando e não pode deixar de lutar. Mas precisa desenhar um programa que dê conta — resumiu.