Em seu pronunciamento, Moraes afirmou que a Constituição “não permite a propagação de discurso de ódio, de ideias contrárias à ordem constitucional e ao estado democrático” que visa à “instalação do arbítrio”. O ministro também aproveitou o espaço para fazer uma longa defesa da segurança das urnas eletrônicas.
Por Redação - de Brasília
O desconforto do presidente Jair Bolsonaro (PL) na posse do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, foi o assunto do dia das rede sociais, nesta quarta-feira. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) confirmou que Bolsonaro se mostrou “muito incomodado” durante a cerimônia, diante do discurso de Moraes, em uma defesa enfática do processo eleitoral e da democracia.
— Bolsonaro estava muito incomodado porque ele ouviu tantas vezes a palavra democracia, tantas críticas ao autoritarismo, tantas críticas às ‘fake news’, que ele estava muito incomodado. Cada discurso que falavam um pouco de democracia era visível a cara dele de constrangimento. Ele quase não bateu palma para nenhum discurso. Ele com muita má vontade ficava em pé para aplaudir pessoas quando levantavam — afirmou Lula em uma entrevista que repercutiu no Twitter.
Urnas eletrônicas
Líder nas pesquisas eleitorais, Lula disse que compreendia o motivo do constrangimento do presidente.
— Eu compreendo esse comportamento dele porque ele passou o tempo inteiro desaforando a Justiça Eleitoral, desacreditando na urna eletrônica, tentando desmoralizar as instituições e ontem foi um ato de fortalecimento do processo do estado de direito democrático do Brasil. Foi um ato em que a a gente valorizou muito a questão da democracia — acrescentou.
Em seu pronunciamento, Moraes afirmou que a Constituição “não permite a propagação de discurso de ódio, de ideias contrárias à ordem constitucional e ao estado democrático” que visa à “instalação do arbítrio”. O ministro também aproveitou o espaço para fazer uma longa defesa da segurança das urnas eletrônicas.
— Somos a única democracia do mundo que apura e divulga os resultados eleitorais no mesmo dia, com agilidade, segurança, competência e transparência. Isso é motivo de orgulho nacional — sublinhou.
Desgastante
Em linha com o comentário do ex-presidente Lula, o professor da Faculdade de Direito da Universidade Federal Fluminense (UFF) Rogério Dultra dos Santos, membro da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD), assinalou que o discurso de posse do ministro Alexandre de Moraes“foi muito desgastante” para Bolsonaro.
Na avaliação do jurista, os fortes aplausos recebidos por Moraes por parte das autoridades do campo político e jurídico, diante de sua fala contra as mentiras espalhadas durante a campanha eleitoral, mostram que todos estão em defesa da democracia.
O fato torna ainda mais difícil para Bolsonaro sustentar uma ruptura democrática, como vem ameaçando caso perca as eleições em outubro. O também ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) assumiu o cargo no lugar do ministro Edson Fachin, que, em pronunciamento na noite passada durante a cerimônia, também exaltou a democracia e a importância das instituições eleitorais.
Fachin concluiu sua gestão à frente do TSE com um abraço em Moraes, simbolizando, de acordo com Santos, o apoio do STF à figura de seu ministro. Por sua vez, diante de Bolsonaro e da plateia que contava ainda com outros quatro ex-presidentes, o novo presidente do TSE enfatizou a defesa do voto como instrumento da democracia, chamando o sistema anterior de votação de “nefasto”. O ministro ainda rechaçou a propagação de discursos de ódio, preconceituosos ou contra o Estado democrático de direito. E reiterou que “liberdade de expressão não é liberdade de agressão”.