O conselheiro Otavio Luiz Rodrigues Jr. determinou o prazo de 15 dias para que o procurador-geral da República, Augusto Aras, forneça as informações "que entender cabíveis”; além de "cópias de documentos" sobre a diligência feita pela subprocuradora Lindora Araújo em Curitiba.
Por Redação - de Brasília
O procurador Deltan Dallagnol, chefe da Operação Lava Jato, em Curitiba, acaba de ganhar mais um processo no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP). Depois de julgar se o relatório em Powerpoint contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem validade legal, o Conselho agora apura as denúncias da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de vazamento internacional de dados, entre outros crimes de lesa-pátria.
O conselheiro Otavio Luiz Rodrigues Jr. determinou o prazo de 15 dias para que o procurador-geral da República, Augusto Aras, forneça as informações "que entender cabíveis”; além de "cópias de documentos" sobre a diligência feita pela subprocuradora Lindora Araújo em Curitiba.
Os pedidos de Araújo causaram a imediata reação dos procuradores da força tarefa paranaense. Eles se negaram a fornecer as informações solicitadas, mas foram obrigados a compartilhar os dados, por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF), expedida na noite passada.
Rodrigo Janot
A OAB sugere agora, ao Conselho, que sejam realizadas investigações sobre a cooperação da força-tarefa com autoridades do FBI, a supressão de nomes de autoridades com prerrogativa de foro dos processos, para mantê-los em Curitiba, e a utilização de equipamentos estrangeiros de gravação eletrônica "de diálogos e outras comunicações pessoais”. Dallagnol está obrigado a se manifestar, no prazo de 15 dias.
No julgamento pendente junto ao CNMP, falta o depoimento do ex-procurador-geral da República, o hoje advogado Rodrigo Janot. Ele lança mais gasolina ao incêndio que devora a Lava Jato ao confessar, no livro Nada menos que tudo, que foi procurado em setembro de 2016 por Deltan Dallagnol, para influir no julgamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
No livro, Janot relata histórias de sua passagem pela chefia do Ministério Público Federal (MPF) e revela, agora, que o objetivo de Dallagnol era dar prioridade às denúncias contra Lula. Ele conta que se negou a atender ao pedido porque não poderia desobedecer a uma decisão anterior do ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato, que morreria depois, num acidente trágico de avião em 19 de janeiro de 2017.
Sentença
Janot acrescenta que Dallagnol e outros integrantes da Lava Jato – os procuradores Januário Paludo, Roberson Pozzobon, Antônio Carlos Welter e Júlio Carlos Motta Noronha – o pressionaram a oferecer denúncia contra Lula por organização criminosa pouco depois deles terem acusado formalmente o ex-presidente por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Antes, durante a fase inicial do caso do tríplex, Teori havia autorizado o uso de documentos obtidos no inquérito sobre organização criminosa relacionada ao PT com a força-tarefa.
“Eles haviam me pedido para ter acesso ao material e eu prontamente atendera. Na decisão, o ministro deixara bem claro que eles poderiam usar os documentos, mas não poderiam tratar de organização criminosa, porque o caso já era alvo de um inquérito no STF, o qual tinha como relator o próprio Teori Zavascki e cujas investigações eram conduzidas por mim”, conta Janot.
Os procuradores ignoraram a decisão do ministro do STF e, no famoso power point apresentado à imprensa, colocaram Lula no centro da organização criminosa, conforme o desejo de Deltan Dallagnol, mesmo diante de frágeis evidências. Dallagnol recebeu, para tanto, o sinal verde do então juiz Sérgio Moro, autor da sentença contra o líder petista.