André Mendonça, o pastor advogado, incapaz de matar uma mosca, se via obrigado a absolver um sujeito violento, que deseja acabar com os ministros do STF, inclusive o Alexandre de Moraes, que conhece há pouco tempo, mas que parece ser boa pessoa. Foi aí que Mendonça se lembrou da frase de Jesus: você não pode servir a Cristo e ao malvado Bolsonaro. E decidiu: sou de Deus, sou cristão. E assim salvou sua alma, mas perdeu dois amigos, Bolsonaro e Malafaia, e arranjou um inimigo, Daniel Silveira. Se houver golpe, que Mendonça se tranque no banheiro, quando Silveira e os milicianos invadirem o STF.
Por Rui Martins
A semana tinha sido pródiga e, além do perdão, indulto ou anistia concedido por Bolsonaro ao deputado Daniel Silveira, condenado pelo STF, houve a estreia do ministro André Mendonça, o terrivelmente evangélico, no STF. Ao contrário do ministro Kássio Nunes Marques, também nomeado pelo presidente Bolsonaro, considerado por isso como seus 10% no STF, André Mendonça surpreendeu a todos, negando-se a pedir “vista” para suspender o julgamento do parlamentar e, indo mais além, votou pela condenação do instigador de ações contra os ministros do STF, além de outros tipos de violência.
Ao se negar a ser “pau mandado”, o novo ministro do STF ganhou a simpatia de muita gente não importante, como jornalistas, por exemplo, mas ganhou o ódio de outros como o raivoso presidente Bolsonaro, de diversos pastores, da bancada evangélica e, em especial, do furioso pastor Silas Malafaia, cujo YouTube nada tinha da mensagem de paz e amor cristã. Sentia-se também traído por ter sido um dos apoiadores da candidatura de André Mendonça ao STF. Todos eles achavam que o novo ministro seria um ministro amestrado com coleira e corda curta.
E isso nos leva a um versículo bíblico, Mateus 6:24: “Ninguém pode servir a dois senhores; pois odiará um e amará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro”. A frase é de Jesus que atualizo, “Vocês não podem servir a Deus a ao Bolsonaro”.
A quem se dirigem, no Brasil evangélico, as palavras bíblicas de Jesus? Ao ex-ministro da Educação Milton Ribeiro, à ministra Damares Alves e ao ministro André Mendonça.
Ora, o ex-ministro Milton Ribeiro ao deixar de ser pastor de uma pequena igreja em Santos, com salário minguado, para se tornar o importante ministro da Educação, preferiu seguir Bolsonaro em lugar de Deus. Não acredito que tenha participado das extorsões aos prefeitos feitas pelos pastores Gilmar dos Santos e Arilton Moura. Mas fez vista grossa para ser fiel ao Bolsonaro. Ora, Deus é alguém exigente e exclusivista, não gostou, e deu no que deu. Como dizem: o castigo veio a cavalo e, ainda agora, até seu revólver disparou em Brasília sem ser apertado o gatilho!!! Mas que diabo fazia um pastor com um revólver na sua maleta? As virtudes são difíceis de seguir, mas os vícios logo se aprendem…
E o pastor André Mendonça, também de Santos, como se comportou? Digamos que a tentação de negar Deus foi forte. Subiu como um rojão: foi advogado da União, ministro da Justiça e, cereja no bolo, chegou a ministro no STF. Era o xuxu do presidente Bolsonaro e do pastor Malafaia, o “Rasputin” do presidente.
Até que chegou aquela hora em que sua fé é posta à prova! Não era uma questão de fazer vista grossa ou processar jornalistas ou quem falasse mal do presidente Bolsonaro, como quando ministro da Justiça. Bolsonaro lhe pedia para absolver um delinquente que pregava a maldade. Em outras palavras, mal comparando, queria que absolvesse Barrabás! Mendonça tem jeito de bom, cordato, bom rapaz, incapaz de negar um favor a um amigo, gente boa.
Ele, Mendonça, incapaz de matar uma mosca, obrigado a absolver um sujeito violento, que deseja matar seus colegas do STF, inclusive o Moraes, que conhece há pouco tempo, mas que é boa pessoa. Daí se lembrou da frase de Jesus: você não pode servir a Cristo e ao malvado Bolsonaro. E decidiu: sou de Deus, sou cristão. Salvou a alma, mas perdeu dois amigos, Bolsonaro e Malafaia, e arranjou um inimigo, Daniel Silveira. Se houver golpe, que se tranque no banheiro quando invadirem o STF.
E a ministra Damares Alves? Isso é entre ela e Deus! (Publicado originalmente no Observatório da Imprensa, versão vídeo no canal Youtube O olhar crítico do Rui Martins)Rui Martinsé jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Criador do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas, que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu “Dinheiro Sujo da Corrupção”, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto Carlos, “A Rebelião Romântica da Jovem Guarda”, em 1966. Vive na Suíça, correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil e RFI.Direto da Redaçãoé um fórum de debates publicado no jornal Correio do Brasil pelo jornalistaRui Martins.