Segundo o general Santos Cruz, Bolsonaro não tem capacidade de atrair o centro e, por isso, é preciso “se livrar do extremismo populista-bolsonarista”.
Por Redação - de Brasília
A fuga do agora ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para o Estado norte-americano da Flórida, de onde ainda tenta se passar por autoridade ao não reconhecer o governo empossado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o afasta de forma definitiva dos rumos que os conservadores tomam diante da derrota. Segundo o general Carlos Alberto dos Santos Cruz (Podemos), ex-ministro da Secretaria de Governo no governo passado, o ex-mandatário “não tem condições de ser líder da direita”.
Para o militar, é necessário que se organize a direita que fará oposição ao presidente Lula (PT) sem a participação do ex-capitão.
— É preciso se livrar de Bolsonaro e do bolsonarismo. O ex-presidente não tem condições de ser líder da direita. Ele não é de direita. É um extremista populista que só prejudicou e acarretou desgastes à direita. É um dos destruidores da direita e transferiu sua responsabilidade política para os militares — afirmou Santos Cruz ao diário conservador paulistano O Estado de S. Paulo.
Derrota
Segundo o general, Bolsonaro não tem capacidade de atrair o centro e, por isso, é preciso “se livrar do extremismo populista-bolsonarista”.
— Existem grupos na frente dos quartéis que foram desconsiderados e desrespeitados pelo presidente, pois, em maior ou menor grau, são seus seguidores”, chegou a escrever Santos Cruz. “O que se viu e se vê é a desonestidade, a falta de sinceridade do presidente sobre a realidade nacional para aqueles manifestantes — acrescentou.
Em linha com o pensamento do militar, cientistas políticos, analistas e parlamentares constatam que a saída de Bolsonaro do poder abre espaço para o surgimento de novas lideranças à direita, apesar de aliados aguardarem sinalizações do agora ex-presidente acerca do rumo político que deve tomar após a derrota, nas urnas.
Bolsonaro é reconhecido, no país, como uma figura mobilizadora, embora não tenha conseguido comandar um partido e fracassado em criar a própria legenda, o que deixa no vácuo seu eleitorado mais fiel. Em seu penúltimo dia de mandato, o ainda presidente deixou o Brasil e viajou aos Estados Unidos, sob críticas de aliados que pediam golpe em frente a quartéis. Rompendo uma tradição democrática, também deixou de passar a faixa para Lula.
Vácuo de poder
No dia 31, último dia do mandato anterior, o então vice-presidente e senador eleito pelo Rio Grande do Sul, Hamilton Mourão (Republicanos), fez pronunciamento em rede nacional com crítica velada a Bolsonaro ao dizer que "lideranças que deveriam tranquilizar e unir a nação em torno de um projeto de país deixaram com que o silêncio ou o protagonismo inoportuno e deletério criassem um clima de caos e de desagregação social". A fala também foi interpretada como uma tentativa de disputar a liderança da oposição.
Diante do vácuo deixado por Bolsonaro, à direita, o presidente Lula tratou de formar um ministério mais à esquerda do que previa o escopo da frente ampla levada às urnas. O corpo ministerial do novo governo é menos heterogêneo do que a proposta defendida pelo presidente ao longo da campanha eleitoral, avalia o cientista político Fernando Limongi.
— A frente ampla da campanha apareceu apenas parcialmente na escolha ministerial e a expectativa era maior nesse sentido. Não que a composição feita nos ministérios seja estreita. Mas o que nós temos neste início de governo é mais uma coalizão necessária para governar — afirmou, nesta quarta-feira, em entrevista à agência alemã de notícias DW Brasil.
Coalizão
Ao longo da disputa presidencial, Lula reuniu apoios vindos da esquerda à centro-direita para derrotar Jair Bolsonaro. Dos 37 ministérios, 10 estão nas mãos do PT, oito em partidos que não o apoiaram na eleição (MDB, União Brasil e PSD) e 11 com ministros sem filiação partidária. Há ainda cargos com Rede, PCdoB, PSB, PSOL e PDT.
Para Limongi, que é professor aposentado de ciência política da USP e docente na Escola de Economia de São Paulo da FGV, dado que o PT ocupa a maior parte dos cargos, a coalizão está mais à esquerda do que ao centro.
— Está bem distante do que é a composição da Câmara e do Senado atualmente, que é de centro-direita. Mas é preciso esperar para ver como essa centro-direita vai se organizar a partir de agora e como essa força estará ao redor do governo — concluiu.