Os militares, segundo Amorim, fazem parte de um dos grupos que mais ficaram em evidência durante a gestão de Bolsonaro na Presidência. Além do Ministério da Defesa, integrantes vindos das Forças Armadas chegaram a comandar, durante o atual governo, pastas como Minas e Energia e Saúde.
Por Redação, com OESP - de São Paulo
Ex-ministro das Relações Exteriores das gestões de Luiz Inácio Lula da Silva e Itamar Franco e ex-ministro da Defesa de Dilma Rousseff, o diplomata Celso Amorim afirmou, em entrevista ao diário conservador paulistano O Estado de S. Paulo (OESP) nesta sexta-feira, que após a saída do presidente Jair Bolsonaro (PL), os “ataques antidemocráticos” serão página virada.
— Isso não vai prevalecer. Eles (militares) querem olhar para o futuro. Todos querem olhar para o futuro. É página virada. A própria eleição virou isso para trás — previu.
Os militares, segundo Amorim, fazem parte de um dos grupos que mais ficaram em evidência durante a gestão de Bolsonaro na Presidência. Além do Ministério da Defesa, pasta que Lula já avisou que vai escolher um nome civil, integrantes vindos das Forças Armadas chegaram a comandar, durante o atual governo, pastas como Minas e Energia e Saúde, além de estatais como Correios e Petrobras.
Bolsonaristas
Com o encerramento do período eleitoral, seguidores radicais de Bolsonaro têm mantido acampados em frente aos quartéis com pautas antidemocráticas, entre elas a anulação da eleição do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Cerca de mil outros protestos têm promovido a baderna, no país, com interdição parcial ou total de estradas, sob o olhar complacente da Polícia Rodoviária Federal (PRF).
Diante dos atos golpistas, no entanto, os militares optaram por uma posição enigmática. Os comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica declararam ser a favor do direito de manifestação, mas pregaram contra “excessos”. Já o general Eduardo Villas Bôas, ex-comandante do Exército, foi além e elogiou os bolsonaristas que atacam o resultado das urnas e as instituições do Judiciário, ressaltando a “incrível persistência” deles.
Celso Amorim, o principal conselheiro de Lula para o tema de relações internacionais, porém, não vê os gestos com preocupação e avalia que o comando das Forças Armadas respeita as instituições democráticas.
— Ele (Villas Bôas) já é uma pessoa da reserva há muito tempo, não tem nenhum sentido mais, não tem mais peso. Pode ser respeitado por alguns, admirado, mas não tem peso — reduziu.
Cargos
Embora tenha sido ministro das Relações Exteriores durante todos os oito anos dos governo anteriores de Lula e integrante do grupo de relações internacionais da transição, Amorim evita falar em nomes para o cargo, mas disse que, independentemente de ser ou não diplomata de carreira, precisa ser alguém que entenda da área.
Na entrevista ao OESP, Amorim relata uma conversa com chanceler Carlos França, que se mostrou disposto a ajudar no período de transição.
— Foi uma conversa cordial, amistosa, ele teve uma atitude positiva, republicana, veio me visitar aqui em São Paulo, facilitando o trabalho de transição do ponto de vista administrativo. Nós já temos pessoas lá (na equipe de transição) designadas pela comissão para atuar lá dentro (do Itamaraty), não para tomar decisões, mas para se informar, para ver orçamento, essas coisas — resumiu.