A operação desta segunda-feira pretende identificar os "principais destinatários e beneficiários” de informações produzidas ilegalmente pela Abin, a PF informou que cumpre oito mandados de busca e apreensão.
Por Redação, com RBA - de Brasília
A Polícia Federal (PF) cumpriu na manhã desta segunda-feira um mandato de busca e apreensão na casa e no gabinete do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) e foi encontrado um computador que, aparentemente, pertenceria à Agência Brasileira de Inteligência (Abin). A informação, atribuída a uma fonte no site da jornalista Daniela Lima, apresentadora do canal de TV por assinatura Globonews, foi negada tanto pela PF quanto pela família do suspeito. A ação da continuidade a à Operação Vigilância Aproximada, deflagrada no último dia 25, para apurar um esquema de espionagem ilegal na Abin, durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Segundo o jornalista Aguirre Talento, do portal Uol, a investigação sobre o esquema de espionagem montado na gestão de Alexandre Ramagem na Agência Brasileira de Inteligência colheu indícios de que o filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) era abastecido com informações da agência. E que Carluxo era colocado a par de inquéritos em andamento com dados passados pelo próprio Ramagem, amigo da família. A PF também investiga se a Abin produziu dossiês para atender aos seus interesses.
Em nota, a PF disse que nesta nova etapa a investigação avança no núcleo político, identificando os principais destinatários e beneficiários das informações produzidas ilegalmente no âmbito da Abin, por meio de ações clandestinas. “Nessas ações eram utilizadas técnicas de investigação próprias das polícias judiciárias, sem, contudo, qualquer controle judicial ou do Ministério Público”, diz trecho da nota.
Segundo a PF, os suspeitos utilizaram um programa secreto, comprado de Israel, para monitorar ilegalmente servidores públicos, políticos, policiais, advogados, jornalistas e até juízes e ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Nesta segunda, os agentes cumprem uma nova etapa da investigação para avançar no chamado “núcleo político”. O objetivo, diz a corporação, é identificar os principais destinatários e beneficiários das informações produzidas ilegalmente no âmbito da Abin, por meio de ações clandestinas.
“Nessas ações eram utilizadas técnicas de investigação próprias das polícias judiciárias, sem, contudo, qualquer controle judicial ou do Ministério Público”, destaca a PF em nota. Além do vereador, também são cumpridos, ao todo, oito mandados de busca e apreensão. Cinco deles no Rio de Janeiro, um em Brasilia, outro em Formosa, Goiás, e Salvador.
‘Chefe do gabinete do ódio’
Entre os alvos, estão também assessores ligados a Carlos Bolsonaro. Vereador desde 2001, o “filho 02” do ex-presidente era um dos principais estrategistas e conselheiros de seu pai que, durante o mandato como chefe do Executivo, teve o filho à frente como gestor de suas redes sociais. No ano passado, ele foi apontado pelo ex-braço-direito de Jair Bolsonaro, Mauro Cid, como chefe do chamado “gabinete do ódio”, uma estrutura paralela montada no Palácio do Planalto para atacar adversários e instituições, como o sistema eleitoral brasileiro.
Na última quinta, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, responsável por autorizar a operação da PF, afirmou que Ramagem usou o órgão para fazer espionagem ilegal a favor da família Bolsando. A suspeita é de que assessores de Carlos Bolsonaro também pediam informações para o ex-diretor da Abin. Ramagem, hoje deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), teve notebooks e celulares apreendidos na primeira etapa da operação.
De acordo com as investigações, havia uma estrutura paralela dentro da Abin, integrada por policiais federais e oficiais de inteligência, todos próximos a Ramagem. A ação foi um desdobramento da operação Última Milha, deflagrada em outubro, para investigar o uso do software de espionagem FirstMile. Na ocasião, os servidores Rodrigo Colli e Eduardo Arthur Yzycky foram presos. Os dois foram acusados de ter conhecimento do suposto esquema e de coagir colegas para evitar uma possível demissão.
O esquema de espionagem
A PF diz ter indícios de que, ao longo do governo Bolsonaro, a agência passou a intensificar o uso da ferramenta FirstMile, desenvolvida pela empresa israelense Cognyte, para monitorar ilegalmente servidores, políticos, policiais, advogados, jornalistas e até juízes e integrantes do STF. Teria usado o software de monitoramento para invadir “reiteradas vezes” a rede de telefonia. E acessar os dados de localização de alvos como o ministro do STF Gilmar Mendes e do então governador do Ceará, hoje ministro da Educação, Camilo Santana.
Carlos Bolsonaro é próximo de Ramagem e chegou a ser anunciado como o gestor de comunicações do parlamentar que pré-candidato à prefeitura do Rio de Janeiro. A PF divulgou que os investigados podem responder, na medida de suas responsabilidades, pelos crimes de invasão de dispositivo informático alheio, organização criminosa e interceptação de comunicações telefônicas, de informática ou telemática sem autorização judicial ou com objetivos não autorizados em lei.