Um dos pontos levados à investigação consta do discurso de Bolsonaro durante ato na avenida Paulista neste domingo, no qual tenta se defender da acusação de liderar a tentativa de ruptura do Estado democrático e de Direito.
Por Redação - de Brasília
A Polícia Federal (PF) espera concluir o inquérito que apura a trama golpista, possivelmente liderada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), ainda no primeiro semestre deste ano, segundo apurou a mídia conservadora. À medida que se consolidam as investigações sobre a trama golpista, que culminou na tentativa fracassada de golpe no 8 de Janeiro, a PF também avalia formas de prisão possíveis contra Bolsonaro. Os investigadores ouvidos também não excluem a possibilidade de uma eventual prisão em flagrante.
Um dos pontos levados à investigação consta do discurso de Bolsonaro durante ato na avenida Paulista neste domingo, no qual tenta se defender da acusação de liderar a tentativa de ruptura do Estado democrático e de Direito, ao admitir que sabia da existência de minutas de texto que buscavam anular a eleição do atual presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
— O que é golpe? É tanque na rua, é arma, conspiração. Nada disso foi feito no Brasil. Agora o golpe é porque tem uma minuta do decreto de estado de defesa. Golpe usando a Constituição? Tenha paciência — irritou-se o ex-presidente diante dos seguidores.
Trama golpista
Agentes da PF acreditam ser possível deduzir das declarações do ex-mandatário neofascista que ele sabia da existência das minutas e estava ciente de tratativas para tentar impedir a posse de Lula. O ato entrará no contexto de toda a investigação sobre a trama golpista.
Para os investigadores, o ex-presidente não apenas participou da elaboração como chegou a fazer alterações em uma minuta para legitimar um golpe de Estado.
Neste domingo, além de tentar se defender das acusações da PF, Bolsonaro reduziu o tom da agressividade contra o Supremo Tribunal Federal (STF) quase ao nível do arrependimento por criticar tantas vezes o Judiciário. E disse buscar a pacificação do país; além de pedir anistia aos presos pelo ataque golpista do 8 de Janeiro.
Repercussão
Ao longo do dia seguinte, ministros do STF minimizaram o ato e disseram, em conversas reservadas, não haver surpresa com o teor do protesto.
Os petistas, por sua vez, criticam o que consideram uma tentativa de Bolsonaro de normalizar a tentativa de golpe e rechaçam a hipótese de anistiar os condenados pelo STF por participação nos ataques aos Três Poderes. A presidente nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), afirmou nas redes sociais que Bolsonaro "continua sendo e sempre será uma ameaça à democracia".
"O que Bolsonaro fez foi terceirizar para [o pastor Silas] Malafaia os ataques que sempre fez à Justiça, às instituições e à verdade", escreveu a deputada na rede X, ex-Twitter.
Imunidade
Gleisi também disse que Bolsonaro deveria ter apresentado a sua versão sobre a tentativa de golpe à Polícia Federal. "Seria confrontado com as provas da conspiração, que previa tropas na rua e prisão de ministros e adversários", declarou ela.
Para a deputada, o ex-presidente mirou a "própria impunidade" ao pedir anistia aos condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro.
Já o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), disse à mídia conservadora que Bolsonaro tentou "naturalizar" os ataques às sedes dos Três Poderes para aliviar as investigações sobre suposta mobilização golpista do antigo governo.
— Não pode ter anistia. Não vamos dar anistia para quem cometeu crime contra a democracia — afirmou Guimarães.
‘Amarelou’
Para o ex-ministro-chefe da Casa Civil no governo Lula, o advogado José Dirceu, Bolsonaro "amarelou" no ato deste domingo. Ele avaliou que o ex-presidente atuará em duas frentes.
— Uma mobilização para pedir anistia. Outra, a golpista, que não deixará, haja visto as mudanças na Polícia Militar de São Paulo, que pode virar uma milícia bolsonarista. O tempo dirá qual prevalecerá. De nossa parte, nada de anistia e sim a Constituição e as leis — concluiu Dirceu.