Ciente da frustração de parte dos eleitores do ‘Mito’, como ficou conhecido o então candidato, Mourão coloca-se, agora, como alguém capaz de exercer um "pode moderador”. E o general faz questão de frisar é “inamovível” do cargo.
Por Redação - de Brasília
Vice-presidente da República, o general Hamilton Mourão (PRTB) deixou claros os limites para atuação do titular, Jair Bolsonaro (PSL), sem que esbarre nos parâmetros estabelecidos pelas Forças Armadas. Atualmente, os militares exercem, segundo analistas ouvidos pela reportagem do Correio do Brasil, uma espécie de aval para o novo regime.
Em entrevista ao diário conservador carioca O Globo, de propriedade da família Marinho — desafeto explícito de Bolsonaro —, Mourão explicou, com riqueza de detalhes, qual é a relação mantida com o cerne do atual governo. E revelou que a divisão está estabelecida. Ele e Bolsonaro não conversam, diretamente, desde as eleições:
— As únicas vezes que o presidente conversou comigo foram durante a campanha eleitoral — afirmou.
Ciente da frustração de parte dos eleitores do ‘Mito’, como ficou conhecido o então candidato, Mourão coloca-se, agora, como alguém capaz de exercer um "pode moderador”. E o general faz questão de frisar é “inamovível” do cargo, primeira na linha de sucessão da Presidência da República, se precisar substituir o ex-capitão do Exército.
— Na minha visão, o vice-presidente é uma pessoa permanente no governo. Ele só sai se ele pedir para sair. Os ministros poderão ser trocados eventualmente — repete.
Experiência
As declarações de Mourão incomodam, principalmente, os três filhos do presidente. Não faltam notas nas redes sociais ou comentários nos bastidores políticos contrários ao vice-presidente. Ainda assim, Mourão assume um papel mais moderado.
— Cada um de nós tem o seu estilo de agir. O presidente Bolsonaro tem o estilo dele, característico. Ele construiu uma vida política de 30 anos em cima disso aí. É totalmente diferente de mim. Eu tive uma vida dentro do Exército, ocupei funções que me exigiram lidar com uma gama de pessoas totalmente distintas, comandei muita gente, então me leva a ter um estilo diferente de lidar. Não é uma questão de um é o antípoda do outro, como fica querendo ser caracterizado. Muito pelo contrário. Ele tem uma experiência e eu tenho outra, que se retrata depois na forma como a gente conduz — afirmou.
Olavo de Carvalho
Mourão, no entanto, encara com sangue frio as divergências que se abrem no cerne do poder.
— Obviamente porque eu não sou político, então o que tenho que falar, pego e falo. Eu falei determinadas coisas e, para quem está concorrendo, determinadas verdades não podem ser ditas. Foi aí que ele me disse assim: 'Você não entende de política, então vai por mim que você vai bem’ — reproduziu, em tom dúbio quanto à capacidade de convencimento do interlocutor.
Mais uma evidência de que Mourão trilha caminhos diversos de seu eventual substituído, o ex-comandante do Batalhão de Infantaria de Selva vai ao confronto direto com os ideólogos do novo regime, entre eles o autodeclarado filósofo Olavo de Carvalho, e defende o direito de a mulher interromper a gravidez.
Vereador
Segundo o general, em caso de estupro ou em situações nas quais "a pessoa não tem condições de manter aquele filho", a mulher "teria que ter a liberdade de chegar e dizer 'preciso fazer um aborto”, afirmou.
Foi o suficiente para que Carvalho, mentor ideológico de Bolsonaro, atacasse o militar, quase que imediatamente após a publicação da entrevista:
“Alô, Mourão, ninguém votou em você. O povo aceitou você, meio desconfiado, meio de má vontade, só por conta do amor que tinha e tem ao Bolsonaro. Por suas próprias forças e popularidade, você não se elegeria vereador no menor município do imenso Brasil”, escreveu.
E acrescenta: “Você subiu à sua parcela de poder levado de carona por um movimento popular ao qual não deu a menor contribuição notável e que, segundo o próprio Bolsonaro reconhece, foi inspirado pelo Olavo. Se você não sabe quem liga para a opinião do Olavo, você não sabe a quem deve o cargo que ocupa”, concluiu.