À rede norte-americana de TV CNN Brasil, Maia disse que sua permanência na legenda ficou “insustentável” após a executiva do partido decidir manter uma posição de neutralidade na disputa entre Baleia Rossi (MDB-SP) e Artur Lira (PP-AL) para sua sucessão.
Por Redação - de Brasília
Presidente da Câmara em seu último dia de mandato, o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) anunciou, publicamente, que deverá deixar o partido após divulgado o resultado da eleição que definirá o novo comando do Congresso, em curso nesta segunda-feira.
À rede norte-americana de TV CNN Brasil, Maia disse que sua permanência na legenda ficou “insustentável” após a executiva do partido decidir manter uma posição de neutralidade na disputa entre Baleia Rossi (MDB-SP) e Artur Lira (PP-AL) para sua sucessão. O parlamentar apoiava o emedebista para o comando da Casa.
Maia já teria comunicado sua decisão a alguns líderes do partido, entre eles o presidente da legenda, ACM Neto. Segundo a CNN, os procedimentos para sua desfiliação deverão ser iniciados logo após o término da eleição.
Ameaça
Franco favorito para o cargo de Maia, o deputado alagoano Arthur Lira (PP), foi mais prevenido e comentou com interlocutores que, caso o futuro antecessor decidisse abrir um eventual processo de impedimento contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), este seria “imediatamente anulado”. Maia foi pressionado por partidos da oposição, em especial o PT, a abrir o processo contra o mandatário neofascista como seu último ato no cargo.
Diante do risco, ainda que de baixo a moderado, de Rodrigo Maia deflagrar processo de impeachment contra Bolsonaro, tanto partidos governistas como siglas de centro iniciaram nesta manhã uma ofensiva para impedir que ele cumpra com a ameaça nas suas últimas horas no cargo.
Nas últimas horas, deputados de partidos como PSDB e MDB, que apoiam Maia, telefonaram para o colega, na tentativa de demovê-lo do que chamam de uma atitude precipitada. Em paralelo, o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, também buscou por líderes partidários para que eles participassem do esforço, apelidado de "Acalma, Maia”.
Aliados
Ao se definir por deixar o DEM, já no início da tarde, Maia disse também que já havia decidido não assinar “qualquer dos pedidos (de impeachment)” na Câmara, mesmo depois de ameaçar com o ato, na noite passada, ao perceber que fora traído pela direção do DEM de deixar o bloco de apoio a Baleia Rossi (MDB-SP), na eleição para o comando da Câmara.
No fim da noite passada, o presidente da Câmara afirmou ter em mãos um parecer jurídico favorável ao processo e que pode ser usado para embasar uma eventual decisão de abertura de um impeachment de Bolsonaro. A afirmação alarmou até mesmo aliados de primeira hora de Maia, que fazem oposição a Bolsonaro. Para eles, um gesto nesse sentido poderia soar oportunista e prejudicar até mesmo a construção de uma frente ampla contra Bolsonaro em 2022.
Isso porque, na avaliação deles, sem haver clima político para um impeachment, a derrubada de um processo em plenário acabaria apenas fortalecendo Bolsonaro, que usaria o episódio como uma demonstração pública de força. A avaliação é compartilhada, inclusive, por deputados de esquerda, para os quais o gesto abrupto de Maia teria como único efeito colateral prejudicar a biografia política do deputado federal, já que hoje as chances de um impeachment prosperar são baixas.
“Seja feliz”
A aposta tanto do centro como da esquerda tem sido a de que, independentemente de quem ganhe a disputa à sucessão de Maia, deve ser pressionado a tomar uma atitude sobre o tema até o final do ano diante de uma perspectiva de baixo crescimento econômico, da piora da pandemia do coronavírus e do aumento dos protestos populares contra Bolsonaro.
Bolsonaro, por sua vez, uma vez que soube da desistência de Maia em processá-lo, disse nesta tarde desejar que seu adversário "seja feliz" e que "tudo acaba um dia".
— Seja feliz, tudo acaba um dia. Meu mandato vai acabar um dia. Nós devemos nos preparar para este momento aí — disse após ser questionado por um integrante da claque no jardim do Palácio da Alvorada. A declaração foi transmitida por um canal simpático ao presidente.
Maia e Bolsonaro iriam se encontrar ainda nesta manhã na sessão de volta aos trabalhos do Supremo Tribunal Federal (STF), mas o deputado não compareceu.
‘Neutralidade’
O presidenciável Fernando Haddad, na conta @Haddad_Fernando do Twitter, repercutiu a pauta ao afirmar que “o dilema de Rodrigo Maia não é aceitar o impeachment de Bolsonaro, mas obrigar a direita do PSDB e do DEM a se posicionar abertamente contra ou a favor. Medo dos efeitos da desmuralização, por assim dizer”.
Além do DEM, o PSDB e o Solidariedade também decidiram deixar o bloco de apoio a Baleia Rossi (MDB-SP) na disputa pelo comando da Câmara e adotar uma posição de "neutralidade". A mudança representa novo revés ao emedebista, que assiste a uma debandada de aliados na véspera da eleição na Casa, nesta segunda-feira.
A saída das três siglas do bloco de Baleia é resultado da ofensiva do Palácio do Planalto em favor de Arthur Lira (Progressistas-AL), líder do Centrão e nome de Jair Bolsonaro para comandar a Câmara nos próximos dois anos. Como mostrou o Estadão, o governo tem oferecido cargos e recursos extras aos deputados para se alinharem à candidatura governista.
‘Genocida’
A pressão contra apoiar Lira formalmente no PSDB incluiu nomes como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o ex-senador e ex-deputado José Aníbal. Em mensagem encaminhada a parlamentares, Aníbal disse que há “muita boataria” e que o PSDB deve cumprir seu compromisso assumido com o emedebista.
— De outro modo, é adesão ao genocida — expôs Aníbal a rachadura no ninho tucano.
Deputados comentaram também, neste domingo, que a cisão pode afastar o apresentador Luciano Huck do DEM. Huck tem dito a interlocutores que planeja disputar a eleição para a Presidência, em 2022. Huck tem negociado sua filiação ao DEM ou ao Cidadania.