“Indagado sobre ataques a ministros do STF, identificados na investigação, conduzida por meio do telefone do ex-presidente Jair Bolsonaro, responde: que era o ex-presidente que encaminhava diretamente”, diz trecho da transcrição do depoimento de Mauro Cid.
Por Redação – de Brasília
Liberada ao público, nesta quarta-feira, a delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do mandatário neofascista Jair Bolsonaro (PL), revela que ex-presidente “encaminhava diretamente” ataques a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) por meio de mensagens nas redes sociais.

“Indagado sobre ataques a ministros do STF, identificados na investigação, conduzida por meio do telefone do ex-presidente Jair Bolsonaro, responde: que era o ex-presidente que encaminhava diretamente”, diz trecho da transcrição do depoimento de Mauro Cid. A declaração consubstancia a tese de que Bolsonaro teria coordenado, pessoalmente, as ofensivas contra ministros do Supremo, e usava seu próprio celular para disseminá-las.
Segundo Cid, o grupo era formado por “três garotos que eram assessores” de Bolsonaro, em uma “relação direta” com o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ), o chamado ‘filho 02’, e operavam de dentro do Palácio do Planalto.
Detalhes
A delação de Cid integra as investigações que apuram os ataques às instituições durante o governo passado. O militar, preso em maio de 2023 no âmbito da ‘Operação Venire’, da Polícia Federal (PF), colabora com as autoridades desde então, fornecendo detalhes sobre condutas atribuídas ao ex-presidente e seus cúmplices.
Em seu depoimento, Mauro Cid chegou a se queixar quanto ao fato de Bolsonaro ter “se dado bem, ficado milionário”, enquanto ele próprio “perdia tudo” e sua carreira havia acabado. Cid lembrou, ainda, que Bolsonaro recebeu R$ 17,1 milhões em suas contas por meio de transferências bancárias realizadas por PIX entre janeiro e julho de 2023, mas o montante é apenas uma parte de tudo o que ele recebeu, ao longo dos quatro anos à frente do Palácio do Planalto. Uma possível explicação para os valores foi a ‘vaquinha’ promovida por seus apoiadores para pagar multas processuais.
Ao ministro relator do processo no STF, Alexandre de Moraes, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro negou ter sofrido pressão do Judiciário ou da polícia para delatar o aliado.
Denúncia
O procurador-geral da República, Paulo Gonet, apresentou na noite passada a denúncia ao STF que também aponta o envolvimento direto de Bolsonaro no plano para assassinar o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ministro Alexandre de Moraes. Segundo o documento, Bolsonaro não apenas sabia do plano, como também deu aval para sua execução.
Se aceita pelo STF, a denúncia transformará Bolsonaro em réu, fazendo com que ele responda a um processo penal na Corte. O documento da PGR detalha, ainda, as ações que embasam as acusações e reforça que, desde 2021, Bolsonaro prega o rompimento com a democracia.
A peça acusatória descreve uma estrutura criminosa dentro do Palácio do Planalto, conhecida como ‘Punhal Verde Amarelo’, cujo objetivo era desestabilizar as instituições democráticas. A denúncia da PGR revela que o plano foi comunicado diretamente a Bolsonaro, que concordou com sua aplicação. O objetivo era promover um golpe de Estado e neutralizar o STF; além de eliminar Moraes em um atentado a bomba e envenenar Lula.
Vacina
Cid, em sua delação premiada, afirmou também que o ex-presidente ordenou que ele colocasse dados falsos de vacinação contra a covid-19 nos sistemas do Ministério da Saúde. Os cartões de vacina alterados foram os do próprio Bolsonaro e da filha, Laura Firmo Bolsonaro.
O militar, ainda na ativa, confirmou que os certificados foram impressos e entregues em mãos ao ex-presidente da República.