Os investigadores têm direcionado o foco das apurações em dois dos três principais diretores da Trafigura: o co-diretor de Petróleo e Trading, Jose Larocca, e o diretor operacional, Mike Wainwright. Internamente, os agentes da Polícia Federal (PF) e do Ministério Público Federal (MPF) investigam os crimes corporativos.
Por Redação - do Rio de Janeiro
As investigações das autoridades brasileiras contra executivos da trading de petróleo Trafigura tem deixado inquietos os líderes do ‘Centrão’, no Congresso, uma vez que os partidos que agora integram a base do governo de Jair Bolsonaro (sem partido) têm vários de seus parlamentares envolvidos nos inquéritos policiais. Altos funcionários da empresa transnacional teriam, segundo os processos em curso, aprovado o pagamento de propinas a funcionários da Petrobras, ligados a nomes distintos dos partidos da direita.
Os investigadores têm direcionado o foco das apurações em dois dos três principais diretores da Trafigura: o co-diretor de Petróleo e Trading, Jose Larocca, e o diretor operacional, Mike Wainwright. Internamente, os agentes da Polícia Federal (PF) e do Ministério Público Federal (MPF) investigam os crimes corporativos, mas precisam restringir as acusações apenas aos indivíduos, por força de Lei. As empresas, estas estão sujeitas a sanções administrativas em processos civis.
Os levantamentos criminais, contudo, têm avançado em conjunto com um processo civil contra os mesmos diretores e outros executivos, tornado público nos últimos dias. Os investigadores brasileiros também compartilharam as descobertas com promotores norte-americanos e o Departamento Federal de Investigação dos Estados Unidos (FBI, na sigla em inglês), segundo disseram fontes ao diário conservador paulistano Folha de S. Paulo (FSP), falando em condição de anonimato, uma vez que o processo tramita em segredo de Justiça.
Delação
“A decisão de buscar processos tanto civis quanto criminais mostra que os procuradores brasileiros foram estimulados pelo acordo de US$ 164 milhões fechado com a trading Vitol em um processo à parte por pagamento de propinas. A Vitol fará pagamentos aos EUA e ao Brasil para pôr fim às acusações de que pagou mais de 8 milhões de dólares em propinas para conquistar contratos com a Petrobras. Larocca e Wainwright ainda não foram oficialmente acusados”, acrescenta a FSP.
Em nota, a Trafigura afirmou que “qualquer sugestão de que a atual direção da Trafigura autorizou ou tinha conhecimento de pagamentos impróprios a funcionários da Petrobras não é sustentada por evidências”. As duas investigações avançaram com informações fornecidas pelo ex-chefe da Trafigura no Brasil, Mariano Ferraz, que admitiu o pagamento de propinas por mais de uma década e assinou, em maio, um acordo de delação premiada. “Investigadores norte-americanos entrevistaram Ferraz neste ano, segundo as fontes”, esclarece.
Ferraz, por sua vez, disse a procuradores que Larocca e Wainwright aprovaram o pagamento de propinas para obter centenas de contratos de combustíveis, segundo documentos tornados públicos neste mês. O executivo concordou em colaborar em troca de uma redução na pena.
Suborno
Em 2011, um ex-operador da Petrobras que atendia pelo codinome “Phil Collins” enviou uma mensagem a um intermediário chamado de “Tiger” anexando tabelas referentes às propinas. Nessa mensagem, Ferraz é chamado de “Príncipe”. O intermediário e o ex-trader estão colaborando com autoridades no Brasil e nos EUA, segundo os documentos.
As autoridades aceleraram seu trabalho nos últimos meses, após uma desaceleração durante os primeiros meses da pandemia do coronavírus. O Brasil abriu investigações contra transações envolvendo os comerciantes de commodities Vitol, Cockett e Glencore.
Na ação movida no início deste mês contra a Trafigura, os promotores acusaram a trading de subornar funcionários da Petrobras em 31 transações de óleo combustível entre maio de 2012 e outubro de 2013. A ação busca mais de 400 milhões de reais da empresa.
O ex-comerciante de óleo combustível da Petrobras Rodrigo Berkowitz, que forneceu evidências aos promotores que investigavam a Trafigura, também estava no centro do caso nos EUA contra a Vitol. “Berkowitz não estava disponível para comentar, de acordo com seu advogado”, concluiu.