Nesta quarta-feira, o termo #ImpeachmentOuMorte foi o segundo assunto mais comentado do Twitter, nesta manhã. Os internautas protestam pela saída do presidente Jair Bolsonaro em função do imobilismo do governo diante do agravamento da pandemia.
Por Redação - de Brasília e São Paulo
Cada vez mais brasileiros se conscientizam quanto à necessidade do afastamento imediato do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de seu mandato, sob pena de o país enfrentar um colapso inédito na economia e na saúde, em mais de 500 anos de História. A ponta visível do descontentamento tem sido as redes sociais.
O termo #ImpeachmentOuMorte foi o segundo assunto mais comentado do Twitter, nesta manhã. Os internautas protestam pela saída do presidente Jair Bolsonaro em função do imobilismo do governo diante do agravamento da pandemia. É uma reação à marca de 1.641 vítimas em 24 horas pela covid-19, na véspera, o que impõe um novo recorde, enquanto o presidente saboreava um ‘leitãozinho pururuca’ com aliados no Palácio da Alvorada, durante o jantar.
Além da falta de vacinas e das sabotagens cotidianas de Bolsonaro às medidas de distanciamento social, a deterioração da economia também motivou protestos e deu origem ao panelaço da noite passada, em todos os Estados brasileiros. A queda histórica no PIB, o avanço da inflação dos combustíveis e dos alimentos, o desemprego e a demora na prorrogação do auxílio emergencial foram lembrados.
Barbárie
Mas os protestos foram além das crises sanitária e econômica. Em meio ao caos do país, os usuários destacaram a compra de uma mansão pelo senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) avaliada em R$ 6 milhões, reforçando as suspeitas de corrupção no caso das rachadinhas.
Uma internauta afirmou que é preciso tirar Bolsonaro para “salvar a vida dos brasileiro”. Outro disse que o impeachment é “tão urgente quanto a vacina”. “Mentiras, superfaturamento de gastos, compra de cloroquina, compra de mansão milionária, uso do Estado e de órgãos… É muita provocação, muito deboche, uma demonstração de desprezo pelo país”, indignou-se um terceiro.
Políticos de oposição também se manifestaram. O deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP) disse que o impeachment é urgente para barrar a “política genocida” de Bolsonaro. A deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP) classificou como “barbárie premeditada”. O senador Rogério Carvalho (PT-SE) também destacou que a demora na vacinação aumenta o risco de surgimento de novas variantes do vírus.
Conflito aberto
O impedimento do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tem todas as condições colocadas diante dos brasileiros, avalia o cientista político Cláudio Couto, professor da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP). Segundo afirmou, as condições para o impeachment “estão dadas” diante dos crimes de responsabilidade pela sabotagem ao combate à pandemia da covid-19.
Em vez de coordenar os esforços em nível nacional, Bolsonaro abriu novo “conflito aberto” com os governadores, acentua Couto. Nesta semana, ele anunciou que os Estados que adotarem medidas restritivas deverão bancar o auxílio emergencial.
Para o cientista político, falta justamente uma atuação política mais efetiva dos governadores e prefeitos contra as atitudes do presidente. Trata-se de figuras políticas que também foram eleitas, e têm grande influência sobre as bancadas estaduais na Câmara dos Deputados. Além disso, segundo o analista, setores da sociedade civil também deveriam abandonar posições particularistas, em nome dos seus interesses privados, para abraçar causa maior, em defesa do país.
— Enquanto prefeitos e governadores estão se dando conta do cataclismo que estamos vivendo e tentam tomar providências, o presidente vai no sentido oposto. Ele nega a gravidade da pandemia. Por conta disso, Bolsonaro pode ser claramente colocado ao lado dos grandes vilões da história política da humanidade — declarou Couto, à agência brasileira de notícias Rede Brasil Atual (RBA).
Catástrofe
Couto criticou também o discurso do governador de São Paulo, João Doria. Depois de se apresentar nas eleições como “Bolsodoria”, ele se afastou de Bolsonaro, se tornando um dos seus maiores adversários. Apesar dessa guinada, ainda adota posturas que se assemelham a do seu rival, outrora aliado.
Doria não apenas assinou decreto classificando as igrejas como atividade essencial, como usou tal medida para se promover nas redes sociais junto ao público religioso em especial, base do bolsonarismo.
— É um ato demagógico, que não condiz com deveres de um governador, ainda mais num cenário de catástrofe como estamos vivendo — acentuou.
Perspectiva
Na outra ponta, Couto afirma que as lideranças empresariais deveriam apoiar também a volta do auxílio emergencial, em nome do bem-estar geral da sociedade diante do avanço da pandemia. Em vez disso, lutam apenas pela manutenção das suas atividades econômicas, também incorrendo na mesma lógica bolsonarista que “privatiza” decisões que deveriam ser coletivas.
— Bolsonaro opera com uma lógica de que a liberdade é cada uma das pessoas fazer aquilo que bem entende. Em vez de atuar como uma sociedade, como uma coletividade organizada. Mas ele compartilha essa perspectiva com boa parte do meio empresarial. Ou as lideranças, inclusive do setor empresarial, se conscientizam dessa necessidade de se articular politicamente para tomar providências que levem à saída dessa crise de forma sustentada, ou vamos ter todo mundo morrendo abraçado — ressalta.
Além do individualismo, Couto atribui essa inação ao histórico de violência do país, que provoca uma forma de anestesia coletiva diante das centenas de milhares de mortos.
— O brasileiro, ao votar para a presidência da República em 2018, elegeu a morte. A morte nos representa. É por isso que somos insensíveis como sociedade. Fomos nos anestesiando com a morte, a violência, a incúria e o descaso. E até mesmo o sadismo que uma situação como essa produz — conclui.