O ex-presidente, no entanto, insiste que é inocente e não cometeu os crimes que lhe são imputados em quase 900 páginas do inquérito policial, hoje em mãos da Procuradoria Geral da República.
Por Redação – de Brasília
Indiciado pela Polícia Federal (PF) por suspeita de planejar e executar o golpe de Estado fracassado no 8 de Janeiro, o ex-mandatário neofascista Jair Bolsonaro (PL) voltou à alegação de ser alvo de uma perseguição política. Na manhã desta quinta-feira, deixou escapar detalhes sobre seu plano de fuga, caso perceba que a situação ficou insustentável e será decretada sua prisão.
— Embaixada. Pelo que vejo na história do mundo, quem se vê perseguido, pode ir para lá — disse Bolsonaro a jornalistas.
Hungria
O ex-presidente, no entanto, insiste que é inocente e não cometeu os crimes que lhe são imputados em quase 900 páginas do inquérito policial, hoje em mãos da Procuradoria Geral da República. Em sua defesa, Bolsonaro alega que retornou ao Brasil, após uma temporada nos Estados Unidos.
— Se eu devesse alguma coisa, estaria nos Estados Unidos, não teria voltado — diz ele.
O plano de fugir para uma representação diplomática, no entanto, não é novo. Jair Bolsonaro permaneceu por dois dias, durante o carnaval deste ano, na embaixada da Hungria, assim que se tornou alvo de uma operação da PF. O país é governado por uma coalizão de forças neonazistas, de ultradireita.
Derrota
Bolsonaro reconhece, no entanto, que o debate sobre a implantação de uma ditadura cívico-militar no país sempre fez parte de seu cardápio político e confessa ter discutido “artigos da Constituição” com os comandantes das Forças Armadas, após sua derrota nas eleições de 2022, que poderiam permitir a ruptura do Estado democrático e de Direito. A ideia era “voltar a discutir o processo eleitoral”, admite, mas alega que a ideia foi “abandonada” rapidamente.
Mesmo diante dos fatos e depoimentos que o incriminam, diretamente, como líder do golpe que avançou até o 8/1, Bolsonaro negou ter ciência de qualquer plano que envolvesse a prisão ou a morte de lideranças como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
A opção por essa estratégia de defesa, no entanto, segue em rota de colisão com os argumentos sustentados pela cúpula das Forças Armadas, no contexto do inquérito que apura o golpe de Estado. A tese do ex-mandatário insinua que ele não teria sido o articulador do plano golpista, mas teria agido “a reboque” dos militares.
Legalistas
Entre os militares de alta patente, no entanto, segundo apurou a mídia conservadora, o movimento antidemocrático teria se originado no Palácio do Planalto, sendo conduzido por Bolsonaro e tendo contado com o apoio de militares cooptados por ele.
Os militares apontados como os mais subservientes a Bolsonaro incluem os generais da reserva Walter Braga Netto e Mário Fernandes. Este último foi um dos idealizadores de um plano para assassinar o presidente Lula, seu vice, Geraldo Alckmin, e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
O plano foi revelado durante inquérito da PF, que indiciou 37 pessoas, sendo 25 delas militares, no âmbito do inquérito que apura a intentona golpista.