Heleno depôs, nesta terça-feira, à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga os atos golpistas do dia 8 de Janeiro (8/1). As reuniões com militares teriam ocorrido, segundo a relatora da CPMI, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), nos meses de novembro e dezembro de 2022.
Por Redação - de Brasília
Ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), o general da reserva Augusto Heleno negou que tivesse qualquer conhecimento sobre a minuta de golpe encontrada pela Polícia Federal (PF) na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres. Negou também que tivesse ido a acampamentos golpistas ou que tenha participado de reuniões com chefes das Forças Armadas, nas quais estaria sendo combinado um golpe de Estado.
Heleno depôs, nesta terça-feira, à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga os atos golpistas do dia 8 de Janeiro (8/1). As reuniões com militares teriam ocorrido, segundo a relatora da CPMI, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), nos meses de novembro e dezembro de 2022.
Eliziane disse que esses encontros teriam sido relatados pelo ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro Mauro Cid, na delação premiada à PF. O teor do depoimento foi divulgado pela imprensa.
Negativa
O general negou ainda qualquer participação nos atos de vandalismo ocorridos em 12 de dezembro, nos arredores da sede da PF, em Brasília, por pessoas que participavam do acampamento de bolsonaristas em frente ao Comando Geral do Exército. “Tomei conhecimento disso pela TV. Nem eu e muito menos o GSI fomos mentores ou participamos desses atos”, disse Augusto Heleno.
A relatora apresentou também relatório da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), que indicava riscos de vandalismo que poderia ser praticado pelos acampados em Brasília. Augusto Heleno novamente negou conhecimento e disse que documentos como o apresentado eram rotineiros, mas que “em geral falam apenas de possibilidades, que podem ou não se concretizar”.
Quanto ao acampamento golpista em frente ao Comando Geral do Exército, na Capital Federal, o general Heleno classificou-o como “ordeiro e pacífico”. A afirmativa chamou a atenção dos parlamentares, uma vez que partiram de lá os terroristas que quebraram as sedes dos Três Poderes, no início deste ano.
Voz de prisão
Durante seu depoimento, Heleno disse que não teve conhecimento de reunião no dia 24 de novembro, na qual o ex-presidente Jair Bolsonaro teria buscado o apoio das Forças Armadas para um golpe de Estado. Na ocasião, o general Marco Antônio Freire Gomes, então comandante do Exército, teria ameaçado dar voz de prisão a Bolsonaro.
— Jamais me vali de reuniões ou palestras ou conversas para tratar de assuntos eleitorais ou políticos partidários com meus subordinados no GSI. Não havia clima para isso e o único ser político do GSI, era eu mesmo — afirmou Heleno. O militar da reserva também negou qualquer relação com os alvos da CPMI.
Em alguns momentos, Heleno mostrou descontrole ao ser interrogado. Após ser perguntado pela senadora Eliziane Gama (PSD-MA) se considerava que houve fraude nas eleições de 2022, Heleno negou, dizendo que "já tem um novo presidente da República" e que não podia dizer que houve fraude. A senadora, então, afirmou que ele "mudou de ideia”.
— Ela fala as coisas que ela acha que está (sic) na minha cabeça. P*, é pra ficar p*, né?! P* que pariu! — irritou-se militar.
Desmentido
Em outro momento do depoimento, Heleno afirmou que o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, não participava de reuniões com o então presidente da República e os comandantes das Forças Armadas. Foi em uma dessas reuniões que, segundo vazamentos de depoimento de Cid, Bolsonaro consultou os chefes da Marinha, Exército e Aeronáutica sobre apoio a uma minuta golpista.
— O tenente-coronel Mauro Cid não participava de reuniões, ele era o ajudante de ordens do presidente da República. Não existe essa figura do ajudante de ordens sentar numa reunião dos comandantes de Força e participar da reunião. Isso é fantasia. É a mesma coisa é essa delação premiada, ou não premiada, do Mauro Cid... Estão apresentando trechos dessa delação e me estranha muito, porque a delação está ainda sigilosa, ninguém sabe o que o Cid falou — acrescentou o general.
A afirmação de Heleno, porém, foi desmentida por internautas. O perfil "Desmentindo Bolsonaro" na rede social X (antigo Twitter) mostrou uma foto postada pela comunicação oficial do Planalto que mostra uma reunião de Bolsonaro, então na presidência, com os chefes das Forças Armadas. O próprio Heleno e Mauro Cid estavam presentes.
Expulso
Heleno também falou sobre o episódio em que chamou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de "bandido". Em dezembro do ano passado, enquanto saía do Palácio do Alvorada, ele respondeu "não" a um apoiador bolsonarista que perguntou se "bandido sobe a rampa", em referência ao então presidente eleito Lula.
— Eu continuo achando até hoje que bandido não sobe a rampa — insistiu.
No início da tarde, o depoimento de Heleno foi suspenso após tumulto causado pelo deputado federal Abílio Brunini (PL-MT), um dos bolsonaristas mais barulhentos da atual legislatura. Acostumado a interromper adversários políticos durante sessões no Congresso, Brunini armou confusão com a deputada federal Duda Salabert (PDT-MG) e foi expulso da sessão pelo presidente da CPMI, deputado Arthur Maia (União-BA).
O bolsonarista se recusou a sair, obrigando Maia a suspender a sessão. Brunini não será autorizado a participar da retomada do depoimento de Heleno, que ocorreu cerca de meia hora depois.