O inquérito em curso no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostra que Bolsonaro utilizou como prova para uma suposta fraude nas eleições de 2014, uma análise simplória sobre o padrão nos números da apuração dos votos que deu a vitória para a petista. O material, uma planilha com os números de votos, foi elaborado pelo técnico em eletrônica Marcelo Abrieli.
Por Redação, com BdF - de Brasília
Os seguidos ataques às urnas eletrônicas e ao sistema eleitoral brasileiro, portanto, contra a democracia brasileira, do presidente Jair Bolsonaro (PL), ocorridos com mais frequência há cerca de um ano, contam com a participação do general Luiz Eduardo Ramos e de integrantes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), ligada ao Gabinete de Segurança Institucional (GSI) chefiado pelo também general da reserva Augusto Heleno.
As informações constam de investigação da Polícia Federal (PF), divulgadas nesta terça-feira em reportagem do diário conservador paulistano Folha de S.Paulo (FSP). A apuração foi aberta para apurar a live presidencial de 29 de julho de 2021. A relatoria é do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Como conclusão do inquérito, a delegada Denisse Ribeiro entendeu que a busca por informações para desacreditar o sistema eleitoral é mais um evento relacionado à organização criminosa investigada no inquérito das milícias.
Teorias
Segundo a delegada, a transmissão ao vivo pela internet, do presidente Bolsonaro, foi realizada com o "nítido propósito de desinformar e de levar parcelas da população a erro quanto à lisura do sistema de votação" e "alimenta teorias que promovem fortalecimento dos laços que unem seguidores de determinada ideologia dita conservadora".
O inquérito mostra que Bolsonaro utilizou como prova para uma suposta fraude nas eleições de 2014, uma análise simplória sobre o padrão nos números da apuração dos votos que deu a vitória para a petista. O material, uma planilha com os números de votos, foi elaborado pelo técnico em eletrônica Marcelo Abrieli.
No depoimento à PF, ele relatou que foi procurado, em 2019, pelo general Luiz Eduardo Ramos, para uma reunião com Bolsonaro no Palácio do Planalto.
Indícios
No fim de 2019, “o general Ramos entrou em contato, por telefone, com o declarante para agendar uma reunião no Palácio do Planalto com o presidente Bolsonaro. Que a reunião teria como tema indícios de fraude nas urnas eletrônicas e que o declarante falaria sobre as informações descobertas em 2014 sobre as eleições", disse Abrieli, no processo.
O técnico afirmou que foi novamente procurado pelo general Ramos em junho ou julho do ano passado. Desta vez, o contato foi feito quando Bolsonaro estava junto com o general e, segundo o relato, a ligação foi colocada em viva voz.
"O general Ramos pediu para o declarante falar um pouco sobre as informações que descobriu", aponta o depoimento.
Crimes
Logo após a conversa, o coronel Eduardo Gomes da Silva, responsável por apresentar as suspeitas de fraudes na live, entrou em contato com o argumento de que estava trabalhando com Ramos "na coletânea das informações" sobre as urnas.
Na investigação, o perito criminal da PF Ivo Peixinho, disse que, entre 2019 e 2020, o governo federal, por meio da Abin, buscou informações sobre a segurança no sistema eleitoral brasileiro. Ele é especialista em crimes cibernéticos e responsável por testes nas urnas eletrônicas.
O perito conta que "em 2019 ou 2020" a Abin, sob o comando de Alexandre Ramagem, amigo da família Bolsonaro e chefiado por Heleno, enviou uma consulta "sobre informações sobre ocorrências ou atividades envolvendo urnas eletrônicas nas eleições".