Doleiro paranaense volta a assombrar Moro e seus apoiadores
Nesta quarta-feira, volta à cena a personagem de um passado nem tão distante na vida do ex-juiz suspeito Sérgio Moro. O doleiro Alberto Youssef, que deu origem à Operação Lava Jato ao lavar dinheiro de corruptos, financiou em 1998 a campanha eleitoral do senador Alvaro Dias (Podemos-PR).
Nesta quarta-feira, volta à cena a personagem de um passado nem tão distante na vida do ex-juiz suspeito Sérgio Moro. O doleiro Alberto Youssef, que deu origem à OperaçãoLava Jato ao lavar dinheiro de corruptos, financiou em 1998 a campanha eleitoral do senador Alvaro Dias (Podemos-PR), à época no PSDB.
Por Redação - de Curitiba e São Paulo
Antes mesmo de anunciar sua candidatura ao Palácio do Planalto, no ano que vem, o ex-juiz suspeito Sérgio Moro (Podemos) percebe a densidade do atoleiro em que se encontra, diante questionamentos judiciais à rápida fortuna amealhada durante seu período na toga e mesmo depois, na contratação do ex-magistrado por uma empresa norte-americana que atua em defesa dos condenados na Operação Lava Jato, que o próprio Moro liderou.
O doleiro Alberto Youssef teve a pena reduzida de mais de 100 anos para apenas 3 anos, por ordem de Moro
Nesta quarta-feira, no entanto, volta à cena a personagem de um passado nem tão distante na vida de Moro. O doleiro Alberto Youssef, que deu origem à OperaçãoLava Jato ao lavar dinheiro de corruptos, financiou em 1998 a campanha eleitoral do senador Alvaro Dias (Podemos-PR), à época no PSDB. Dias é braço direito e principal fiador de Sérgio Moro na vida política.
As empresas de Youssef pagaram R$ 21 mil (R$ 88 mil a valores atuais) à campanha de Dias há 23 anos. O repasse ocorreu mediante a utilização de jatinhos cedidos pelo doleiro, segundo apurou o diário conservador paulistano Folha de S.Paulo (FSP). Moro condenou Youssef, mas ele deixou o regime fechado após formalizar um acordo de delação premiada.
Contrabando
Foi a mesma fórmula jurídica aplicada ao mesmo réu, ainda nos anos 2000, quando o próprio Moro condenou Youssef no âmbito do caso Banestado. O doleiro também deixou a prisão após delatar uma série de suspeitos e voltou à sua vida de crimes. O caso, em seguida, tornou-se mais um escândalo nacional que terminou com consequências mínimas aos envolvidos.
Em resposta aos questionamentos dos jornalistas, Alvaro Dias disse que suas contas em 1998 foram aprovadas pela Justiça Eleitoral e que, embora não conhecesse Youssef, “naquele momento não havia nenhum fato que o desabonasse”.
“Foram prestadas 12 horas de voo para que a equipe de filmagem pudesse se deslocar e realizar seu trabalho”, afirmou o senador, em nota. Apesar do que alega Dias, porém, Youssef chamou a atenção das autoridades pelas primeira vez nos anos 1980, quando teria atuado no contrabando de uísque e de outros produtos do Paraguai. Ele foi preso cinco vezes sob acusação de contrabando.
Caixa 2
Segundo o jornalista Paulo Muzell, articulista do diário gaúcho Sul21, no entanto, Moro e Youssef são velhos conhecidos. “Os dois são paranaenses, quarentões. Sérgio Moro de Maringá, Alberto Youssef de Londrina. O primeiro vem de uma família de classe média alta, filho de professor universitário, formou-se cedo em direito, fez pós-graduação, tornou-se juiz federal, estudou no exterior. O segundo, o Youssef não teve a mesma sorte”, escreveu Muzell, desde Curitiba.
“Filho de imigrantes libaneses pobres, aos nove anos já vendia pastéis nas ruas de Londrina. Muito esperto, ainda guri, pré-adolescente, já era um ativo sacoleiro. Precoce, antes de completar 18 anos já pilotava monoplanos o que lhe possibilitou uma mudança de escala, um considerável avanço nas suas atividades de contrabandista e doleiro. Com menos de trinta anos tornara-se um bem sucedido ‘homem de negócios’, dono de poderosa casa de câmbio, especialista em lavagem de dinheiro e remessa ilegal de dólares para o exterior. Em meados dos anos noventa operava em grande escala repassando recursos que ‘engordavam’ o caixa 2 das campanhas de políticos importantes do Paraná e de Santa Catarina, dentre eles Álvaro Dias, Jayme Lerner e Jorge Bornhausen”, acrescenta.
Muzell lembra, ainda, que “Alberto Youssef foi, também, figura central na transferência ilegal de bilhões de dólares oriundos de atividades criminosas e de recursos desviados na farra das privatizações do governo FHC”.
Banestado
“Em novembro de 2015, o jornalista Henrique Berangê publicou na revista Carta Capital uma instigante matéria com o seguinte parágrafo inicial: ‘O juiz Sérgio Moro coordena uma operação que investiga sonegação de impostos, lavagem de dinheiro, evasão de divisas intermediadas por doleiros paranaenses. Foram indiciados 631 suspeitos e remetidos para o exterior US$ 134 bilhões, cerca de R$ 500 bilhões.’ Operação Lava Jato, 2014? Não, ele se referia ao escândalo do Banestado ocorrido no final dos anos 90. A privatização desse banco estatal comprado pelo Itaú segundo estimativas trouxe um prejuízo de no mínimo R$ 42 bilhões aos cofres públicos do país. Mas antes do banco ser vendido, sua agência em Nova York foi o porto seguro dos recursos bilionários para lá transferidos pelos fraudadores”.
O articulista lembra, ainda, que “na segunda metade dos anos noventa através das contas CC5 o então presidente do Banco Central Gustavo Franco escancarou as portas para uma sangria de recursos que daqui migraram para engordar as polpudas reservas de empresários, políticos, grupos de mídia no exterior. Sem dúvida o maior episódio de corrupção da história do país. Foi aberta uma CPI no Congresso, virou pizza; o Banco Central boicotou as investigações e a imprensa silenciou. Só a Globo enviou US$ 1,6 bilhões, mais de R$ 5 bilhões. Além das grandes empreiteiras na lista dos fraudadores lá estavam também outros grupos da mídia: a editora Abril, o Correio Brasiliense, a TVA, o SBT, dentre outros. A justiça foi convenientemente lenta, os crimes prescreveram, só foram punidos alguns integrantes da ‘arraia miúda’. Ironias da história: a corporação Globo, futura “madrinha” de Moro cometeu os mesmos ilícitos que mais tarde seriam por ele denunciados na Operação Lava Jato. Desta vez, porém, as diligências policiais e ações judiciais não foram arquivadas e Moro pôde posar de “campeão na luta contra a corrupção, herói nacional”.
“O silêncio da mídia repetiu-se em 2015 quando a Operação Zelotes denunciou que membros do Conselho de Administração de Recursos Fiscais, o CARF estavam recebendo propinas para livrar grandes empresas de multas aplicadas por prática de sonegação de impostos. Bilhões de reais de dívidas da Gerdau, da RBS, do Banco Safra, do Banco de Boston, da Ford, do Bradesco, dentre outras empresas e grandes grupos da mídia. As apurações preliminares estimaram que mais de US$ 20 bilhões foram desviados dos cofres públicos, sendo este montante apenas a ‘ponta do iceberg’. Certamente a continuidade das investigações chegaria a valores muito maiores”, acrescentou.
Crimes bilionários
Segundo o redator, “começou lá nos primeiros anos da década passada, o idílio Moro-Youssef, em 2003 para ser mais preciso. Apesar do protagonismo central do doleiro na prática de ilícitos, ele foi beneficiado pela delação premiada, ficando livre, leve e solto. Prosseguiu, é claro, na sua longa e bem sucedida carreira de crimes bilionários. Observe-se que na delação premiada a redução da pena ou o perdão é concedido ao réu sob expressa condição de promessa de ilibada conduta futura. É claro que a biografia de Youssef não poderia alimentar nenhuma esperança de regeneração, de que ele abandonasse as práticas ilícitas.
“Onze anos depois, em março de 2014, na fase inicial da Operação Lava Jato, Youssef foi novamente preso por Moro. Foi constatado que ele era o principal operador das propinas que alimentaram o caixa das campanhas de inúmeros políticos especialmente do PP e do PT no chamado Mensalão 2, ocorrido em 2005. O primeiro, o Mensalão 1, o da compra dos votos para a reeleição de FHC não teve consequências porque Geraldo Brindeiro, o Procurador Geral da República das 626 denúncias criminais dos seus oito anos no cargo (de 1995 a 2003), arquivou mais de 90% delas, encaminhando para indiciamento pelo Judiciário apenas 60, justamente as de importância menor e que envolviam personagens secundários. Brindeiro ficou por isso nacionalmente conhecido como o “engavetador-geral da República“. A grossa corrupção que marcou os dois períodos do governo Fernando Henrique foi varrida para de baixo do tapete: o Ministério Público Federal e o Poder Judiciário taparam o nariz e fecharam os olhos”, constata.
Entre 2014 e 2015, Youssef prestou sua primeira delação premiada “justificada por Moro pela importância que teve para a obtenção de provas que culminaram em dezenas de indiciamentos e prisões de importantes figuras, possibilitando a comprovação de desvios bilionários. Fala-se que a Lava Jato apurou pagamentos de propinas de valores acima dos R$ 10 bilhões, valor expressivo mas que, pasmem, representa apenas 1,7% dos valores desviados dos cofres públicos nos episódios do Banestado e da Operação Zelotes”, segundo Muzell.
Reincidências
Youssef foi indiciado, na época, em nove inquéritos. Algumas ações com sentenças já transitadas em julgado resultaram em condenações que totalizaram 43 anos de prisão em regime fechado. Há ainda outras ações que, na hipótese de ocorrer a condenação, poderiam resultar em 121 anos e 11 meses de prisão. Sérgio Moro anunciou, à época, que pela contribuição que a delação de Youssef trouxe para a Operação Lava Jato, sua pena foi fixada em três anos, dos quais dois anos e oito meses já foram cumpridos. Yousseff deixou regime fechado naquele momento e, atualmente, está liberado até da prisão domiciliar.
“A legislação penal tipifica o ilícito e determina a pena de acordo com sua gravidade. Cabe ao juiz na sentença aplicar a sanção que a lei determina. O que pode ser questionado na delação premiada é que não existe na lei a dosimetria que imponha ao magistrado um limite para a redução da pena. O caso de Youssef é um exemplo típico: Sérgio Moro, se considerarmos as graves ilicitudes, os valores envolvidos e as inúmeras reincidências do doleiro foi extremamente indulgente, generoso. Alberto Youssef estaria certamente fadado a morrer na prisão cumprindo as penas a que foi condenado”, conclui.