Ao destituir a deputada Bia Kicis da Vice-liderança do Governo, no Congresso, Bolsonaro capitula diante o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que comanda o chamado ‘Centrão’, à direita, e negocia com os deputados da centro-esquerda.
Por Redação, com RBA - de Brasília
Na tentativa de disfarçar sua maior derrota no Parlamento, com a aprovação relâmpago do novo Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), na Câmara; além da expectativa de passar no Senado, também em duas votações, em tempo recorde, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) lançou ao mar sua fiel escudeira, a deputada Bia Kicis (PSL-DF).
Ao destituí-la da Vice-liderança do Governo, no Congresso, Bolsonaro capitula diante o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que comanda o chamado ‘Centrão’, à direita, e negocia com os deputados da centro-esquerda. A medida, publicada na noite desta quarta-feira, em edição extra do Diário Oficial da União, ocorre um dia depois que seis deputados do PSL votaram contra o novo texto do Fundeb. Kicis parece não ter compreendido que o mandatário havia aceitado a derrota e tentava, de alguma forma, colocar-se ao lado daqueles que, ao contrário do que pregava, saíram em defesa da relatora, deputada Professora Dorinha (DEM-TO).
A manobra ficou evidente e ganhou espaço nas redes sociais, nesta quinta-feira, como uma tentativa de Bolsonaro de tentar faturar politicamente com a aprovação do fundo permanente, mesmo depois de o governo agir contra as principais medidas aprovadas. Da mesma forma que Bia Kicis, os outros seguidores do presidente que votaram contra são bolsonaristas ferrenhos.
Sem base
Depois de adiar a discussão por um ano e meio, o governo ainda tentou prorrogar a ampliação dos recursos do Fundeb para 2022. E não parava por aí. Apresentou um texto substitutivo, no último minuto, que propunha o direcionamento de metade dos recursos da União para o pagamento de um vale-creche a ser utilizado na rede privada. A intenção da equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, era incluir esse repasse no programa Renda Brasil, burlando o Teto de Gastos.
Diante da derrota iminente, Bolsonaro passou a dizer, nas redes sociais, que a aprovação do novo Fundeb fora uma “vitória da educação pública“, como o resultado fosse parte da articulação política, na base do governo.
A saída de Bia Kicis não apenas deixou evidente a manobra, mas abre espaço para a indicação de um nome ligado ao ‘Centrão’. A aproximação com esse grupo de partidos da centro-direita transforma-se na mais desesperada tentativa de Bolsonaro para evitar o impeachment. Além da omissão no combate à pandemia, os casos de corrupção envolvendo a família presidencial e o envolvimento com o chamado “gabinete do ódio” também poderiam resultar em impedimento.
Ideologia
Em seu primeiro mandato, a procuradora aposentada e youtuber Bia Kicis ganhou destaque como uma das principais vozes da direita conservadora radical. Foi defensora da Operação Lava Jato, até a saída do governo do ex-ministro da Justiça Sergio Moro. Depois se voltou contra a investigação. Ela também é a favor que as aulas sejam gravadas, para combater uma chamada “ideologia de gênero”, invencionice ecoada também por Bolsonaro.
Para defender o presidente, Kicis chegou a usar, na Tribuna da Câmara, uma máscara com a inscrição “E daí?”, relembrando frase dita por Bolsonaro quando foi perguntado sobre a escalada do número de mortos pela covid-19.
A parlamentar também é alvo do inquérito do Supremo Tribunal Federal (STF) que investiga a disseminação de notícias falsas e ameaças contra integrantes da Corte. Ela é suspeita de ter usado R$ 24,4 mil de verba parlamentar para contratar serviços de marqueteiros bolsonaristas que cuidariam das suas redes sociais.
Rifada
Logo em seguida, também teve o seus sigilos fiscal e bancário quebrados no âmbito do inquérito que apura o financiamento de atos antidemocráticos. Ainda assim, pela fidelidade demonstrada ao governo, a destituição da deputada repercutiu entre parlamentares da oposição.
“Bolsonaro rifa Bia Kicis da vice-liderança do governo para se postular de forma falaciosa como defensor do Fundeb. A deputada não aprendeu o básico do conservadorismo misógino: para eles, mulheres são descartáveis. Já devia ter aprendido que quem cria cobra um dia amanhece picado”, escreveu a deputada Fernanda Melchionna (PSOL), em uma rede social.
Quase que simultaneamente, o deputado Rogério Correia (PT-MG) escreveu que “quem manda é o ‘Centrão’ e Bolsonaro que os atenda nos cargos e emendas. Obedece quem tem juízo, certo @Biakicis? Bolsonarista raiz só serve para tomar cloroquina”.
Na tentativa de se aproximar de partidos do ‘Centrão”, Bolsonaro já cedeu cargos em posições definitivas para o governo a indicados políticos em praticamente todas as diretorias do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), que dispõe de um orçamento bilionário.