Amorim acredita que não há intenção imediata da Venezuela de transformar a disputa pela região em uma ação armada, mas não está plenamente convencido.
Por Redação - do Rio de Janeiro
O diplomata Celso Amorim, ex-chanceler do Brasil e conselheiro do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), para assuntos internacionais, sinalizou para o risco militar que significa o desejo explícito da Venezuela de anexar a seu território a região de Essequibo, rica em petróleo e localizada na vizinha Guiana. A Venezuela confirmou, em um referendo neste domingo, o amplo apoio dos eleitores à incorporação da área que significa 70% do território do antigo protetorado britânico.
Amorim acredita que não há intenção imediata da Venezuela de transformar a disputa pela região em uma ação armada, mas não está plenamente convencido.
— Essas coisas às vezes saem do controle — afirmou à mídia conservadora, nesta segunda-feira.
Exércitos
Amorim confessa que não entendeu de forma plena qual é o motivo de esta reivindicação voltar à pauta venezuelana e adianta que um conflito poderia abrir as portas da América do Sul para exércitos estrangeiros.
— Acredito ser muito perigoso você misturar uma política eleitoral, ou mesmo que não só eleitoral. Não estou entrando no mérito nem na justiça do pedido, mas é uma pretensão de natureza jurídica, histórica, com a mobilização da opinião popular. Acredito que não é a intenção do presidente Maduro tomar uma medida militar, agressiva, de ataque mesmo — pontua.
No entanto, o ex-chanceler pondera que até a oposição pode usar o argumento, em seu discurso eleitoral.
— A oposição apoia e pode tornar essa reivindicação irreversível. Isso é uma reivindicação histórica da Venezuela. Não vou entrar no mérito, mas está lá dormente. Até no período do Chávez ficou dormente. O Chávez fez até a Petrocaribe. A Guiana participava da Petrocaribe. Por que isso está sendo ressuscitado dessa forma agora é uma matéria de interpretação, mas eu acho perigoso — observa.
Problema sério
No encontro com o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, lembra o diplomata, "ele deu as explicações históricas que eu já conheço, inclusive já conhecia, que tem o acordo de 1966”.
— Mas por que isso foi ressuscitado agora eu não sei. O fato real é que havia outras coisas que estavam predominando na agenda da Venezuela, questões ligadas ao processo eleitoral etc. E isso passou a dominar. Então, isso talvez para ele tenha sido um ganho — acredita.
O problema, ainda segundo Amorim, “é que o ganho interno pode se tornar um problema externo sério”.
— Por exemplo: para nós, no projeto de integração da América do Sul, complica. Nós queremos ter boas relações com ambos, com a Venezuela e com a Guiana. E a Guiana também pode vir a tomar medidas que não nos interessam. Por exemplo, chamar tropas de outros países para ajudá-la na eventualidade de uma invasão. Isso também não é positivo — concluiu.