Ao contrário do que havia prometido, ainda na campanha eleitoral, quanto à presença de indicados que respondam a processos legais, Bolsonaro afirmou, nesta tarde, que é preciso deixar prosseguir as investigações sobre o ministro do Turismo.
Por Redação - de Brasília
O descontrole no governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL) atingiu, nesta sexta-feira, seu ponto mais alto. Alvo de críticas internacionais, a exemplo da comparação no editorial do diário norte-americano The New York Times ao ex-presidente Jânio Quadros, cuja renúncia deu origem a 20 anos de ditadura militar, no país, Bolsonaro se vê cercado, agora, por ministros envolvidos em investigações criminais.
Ao contrário do que havia prometido, ainda na campanha eleitoral, quanto à presença de indicados que respondam a processos legais, Bolsonaro afirmou, nesta tarde, que é preciso deixar prosseguir as investigações sobre o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio (PSL), acusado de ter patrocinado um esquema de candidaturas-laranja nas eleições de 2018, em Minas Gerais.
— Deixa as investigações continuarem — disse ele à imprensa no Palácio do Planalto, onde participou de cerimônia de entrega de cartas credenciais de embaixadores de seis países.
Laranja
Filiada do PSL em Minas Gerais, Zuleide Oliveira acusou o ministro do Turismo, Álvaro Antônio, de chamá-la para ser candidata-laranja no último pleito. Segundo a denunciante, o ministro teria organizado sua candidatura para que ela pudesse devolver verbas ao partido, desviando dinheiro público da campanha.
O ministro negou a acusação e disse que Zuleide "mente descaradamente". O caso vai ser investigado pelo Ministério Público Eleitoral e pela polícia. A Polícia Federal e o Ministério Público Eleitoral investigam outras candidatas do PSL mineiro.
Diante da desorganização em seu gabinete, Bolsonaro foi abandonado até por seu principal mentor, o autodeclarado filósofo Olavo de Carvalho. Astrólogo profissional, Carvalho sugeriu que todos os seus alunos abandonem o governo.
‘Pústulas’
"Todos os meus alunos que ocupam cargos no governo — umas poucas dezenas, creio eu — deveriam, no meu entender, abandoná-los o mais cedo possível e voltar à sua vida de estudos", escreveu.
“Jamais gostei da idéia de meus alunos ocuparem cargos no governo, mas, como eles se entusiasmaram com a ascensão do Bolsonaro e imaginaram que em determinados postos poderiam fazer algo de bom pelo país, achei cruel destruir essa ilusão num primeiro momento. M
“Mas agora já não posso me calar mais. (…) O presente governo está repleto de inimigos do presidente e inimigos do povo, e andar em companhia desses pústulas só é bom para quem seja como eles”, afirmou.
Retórica
Segundo o editorial do NYT, um dos principais jornais do mundo, Bolsonaro poderá ter vida curta no cargo e comparou o chefe do Planalto ao ex-presidente Jânio Quadros, que governou o Brasil de janeiro e até agosto de 1961. A publicação ocorre após o presidente, em crítica ao carnaval, postar no Twitter um vídeo obsceno em que uma pessoa urina na outra que mostra o ânus.
"Bolsonaro deveria prestar atenção às lições da história: os políticos brasileiros que confrontam o Carnaval raramente triunfam. Como jornalista observou no Twitter, em 1961, o presidente Janio Quadros 'tentou regular o comportamento' no Carnaval, sob o slogan “‘Janio é a certeza de um Brasil moralizado'”. Quadros pode ter sido moralmente certo; ele também se demitiu depois de oito meses", diz o jornal.
"O tweet de Bolsonaro pode ter deixado o país inteiro sem palavras, mas seus motivos foram claros o suficiente. Primeiro, ele estava procurando demonizar o L.G.B.T. comunidade, uma população marginalizada que ocupou seus pensamentos e retórica desde que emergiu como um incendiário da direita ultraconservadora. (Em 2011, ele infamemente disse à revista Playboy que preferia que seu filho morresse em um acidente do que ser gay.) Agora que ele é presidente, essa mesma comunidade se viu na mira de sua administração", afirma.