A tentativa de convencer a artista a receber o tributo já tinha ocorrido anteriormente, mas ela nunca tinha concordado. “Graças a Deus, desta vez ela aceitou, o que, para nós, é uma honra.
Por Redação, com ABr - do Rio de Janeiro
A Estação Primeira de Mangueira escolheu a data de comemoração do seu aniversário de 95 anos, nesta sexta-feira, para divulgar oficialmente o título e a logo do enredo para o desfile de 2024, que será em homenagem à cantora Alcione.
O anúncio foi feito em uma festa na quadra nesta sexta-feira. A sinopse, que é o texto explicativo do enredo, estará disponível a partir deste sábado no site na Internet e nas redes sociais da escola.
A tentativa de convencer a artista a receber o tributo já tinha ocorrido anteriormente, mas ela nunca tinha concordado. “Graças a Deus, desta vez ela aceitou, o que, para nós, é uma honra. Está sendo um processo muito gostoso, porque ela também está acompanhando. Temos um suporte muito grande, não só da Alcione, como de toda a família, dos funcionários e assistentes dela”, contou Guilherme Estevão que, junto com Annik Salmon, compõe a dupla de carnavalescos da verde e rosa.
Agora, finalmente, a Mangueira irá para a avenida para mostrar a vida da cantora, que mesmo tendo nascido no Maranhão, escolheu torcer pela escola do Rio e vai muito além disso. “Nada é por acaso. Tudo tem seu momento e sua hora e a hora era agora. O nosso próximo carnaval ser ela o nosso enredo”, pontuou Annik.
A identidade de Alcione com a verde e rosa é tão grande que existe uma integração verdadeira com o dia a dia da comunidade e com os moradores do morro da zona norte da capital. “Ela escolheu esse lugar. É uma pessoa que não nasceu no Morro da Mangueira, nasceu no Maranhão, mas é como se fosse cria desse morro. Essa identificação que ela tem é muito forte e querendo ou não a Mangueira ficou um pouquinho mais maranhense, graças a Alcione”, completou o carnavalesco.
– Hoje eu vejo que ela é muito mais do que a cantora que o Brasil conhece. Agora que a gente está estudando e vendo a essência dela na Mangueira, ela é um ser humano divino – concluiu Annik.
Na visão de Annik e Guilherme, a decisão de homenagear a cantora representa um conjunto de desejos da presidente da escola, Guanayra Firmino; da própria comunidade e da própria dupla.
– Antes de acabar, até o outro carnaval (de 2023), a gente já começou a fazer uma pesquisa de como seria o enredo. Quando acabou o desfile ([de 2023), a comunidade inteira em peso, pedindo no Twitter, Instagram, todos os mangueirenses pedindo Alcione e a gente atendeu e seguiu com a nossa vontade também – disse Annik.
A carnavalesca acrescentou que, quando se consegue ter uma temática que abrace a comunidade, que represente a Mangueira, e o público pede, isso se reflete no desfile do Sambódromo e envolve quem está assistindo. Para Guilherme, outro fator fortalece a homenagem, que é o momento muito especial pelo qual passa Alcione, que está em um ciclo de comemoração de 50 anos de carreira. “Acho que tudo, de alguma maneira, está convergindo para este grande festejo que é a importância da Alcione para a música brasileira.”
Annik revelou que, quando foram conversar com a cantora e com as pessoas da família, para explicar como pretendiam desenvolver o enredo, ainda não tinham o texto da sinopse. “Apresentamos uma proposta ainda muito crua do que a gente queria, mas ela acreditou naquilo que a gente ainda podia desenvolver. Na semana passada, quando apresentamos a sinopse, ela e as irmãs ficaram muito felizes e emocionadas."
Embora não quisesse antecipar as informações que estarão na sinopse, Guilherme Estevão revelou que características como a religiosidade da cantora não poderão ficar de fora do enredo. E também a cultura do Maranhão, estado onde nasceu; a performance com instrumentos musicais, como o trompete com o qual se apresentava no início da carreira, e a participação intensa de Alcione com a comunidade da Mangueira.
– Eu ainda não posso revelar muita coisa que estará na tônica do nosso enredo, mas vamos trazer muito de um lado, não só da artista Alcione, mas o lado humano, que é muito próprio da atuação dela na Mangueira, que é, por exemplo, a que promovia festas de 15 anos de pessoas da comunidade, que trazia os padrinhos artistas e cobrava desempenho das crianças da Mangueira do Amanhã (escola de samba mirim da Estação Primeira), de ir na casa das pessoas para ajudar. Tem um lado humano, além do lado artístico já conhecido. Tem também uma questão muito forte, a fé da Alcione, que transita e não é uma coisa única. É uma coisa das forças do bem – adiantou, destacando ainda que a cultura popular do Maranhão estará presente.
Guilherme lembrou que a atual Mangueira tem entre os seus componentes muitas pessoas que participaram da escola mirim. “De fato a Mangueira de hoje é um projeto da Mangueira do Amanhã. A gente está vendo a realização disso, que é muito importante. Aí, a Alcione transcende o lado de ser apenas uma sambista. Ela militou em prol desse samba, nunca morreu o que sempre cantou”, indicou.
– Hoje a Mangueira mãe é formada na maioria pelos seus crias, suas crianças que vieram da Mangueira do Amanhã – disse Annik.
Sintonia
Guilherme e Annik nunca tinham trabalhado juntos até que a presidente da escola fez o convite para a dupla assumir. Eles foram chamados em maio do ano passado e escolheram o enredo As Áfricas que a Bahia canta.
Segundo Guilherme, a dupla discute tudo o que deve ser feito no enredo, ainda que tenham áreas artísticas diferentes. “Tudo é pensado a quatro mãos, todos os figurinos e fantasias são desenhados por mim e por ela. Vamos potencializando aquilo que cada um tem. Realmente, é um carnaval feito em dupla, não é parcelado, onde cada um faz uma coisa”, afirmou.
Para o carnavalesco, a dupla conseguiu imprimir uma assinatura no desfile da verde e rosa e em 2024 não será diferente. Houve a busca da Mangueira festiva, que tem a marca de ser alegre e para cima, o que segundo ele, era uma cobrança que os dois tinham, como artistas, e que pretendem resgatar na escola. Na visão dele, indiscutivelmente, a Mangueira foi a escola que mais mexeu com a avenida em 2023, independente da classificação em 5º lugar. Isso permitiu à escola participar do desfile das campeãs, no sábado seguinte à divulgação do resultado do Grupo Especial.
– Foi uma escolha muito festiva e feliz. Essa questão está também muito presente pela maneira como a gente conduz o enredo e escolhe o tema. No ano passado, ouvimos que as pessoas se sentiam representadas por nossa presença como carnavalescos. É, uma tônica da nova gestão valorizar os crias do morro, as pessoas da comunidade, os talentos que vieram do grupo de acesso. A Mangueira vai continuar mantendo o processo para o próximo ano e o clima festivo. Isso é a cara da Mangueira.
Para Guilherme é um privilégio estar à frente do carnaval da verde e rosa, especialmente porque, em 2023, ele estreava no grupo especial e o trabalho foi reconhecido pela diretoria e pela escola. “É um privilégio continuar aqui na Mangueira e maior ainda de hoje poder desenvolver essa homenagem, que a Mangueira estava devendo a essa pessoa tão importante para a escola, como é a Alcione. É uma felicidade grande”, afirmou
– A gente só torce para que seja mais um ano muito feliz para a Mangueira e que a gente consiga o que mais almeja que é ganhar o título e homenagear a Alcione – completou.
Para Annik, a alegria de ser carnavalesca da Mangueira, ainda mais quando a escola completa 95 anos, é uma experiência que difere de tudo que já viveu. “Nossa Senhora! É muito bom. É inexplicável a gente estar aqui. É muito diferente de todas as escolas onde já passei, que trabalhei. É uma potência isso aqui. Quando a gente pisa na quadra e a gente já vê como é essa energia diferente e na avenida este ano foi o meu primeiro estando na Mangueira. Ver o trabalho que eu e Guilherme produzimos artisticamente para a avenida foi surreal, fora do comum. Parece que a gente estava meio anestesiado.”
Hino
Ainda no ano em que a escola chega aos 95 anos, o samba-enredo com o qual a escola desfilou, em 1988, 100 anos de liberdade, se tornou, por meio de uma lei aprovada na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), o hino oficial das comemorações do dia 20 de novembro, data do aniversário da morte de Zumbi dos Palmares e Dia Nacional da Consciência Negra.
A Lei nº 9.988/23, é de autoria do ex-deputado Chiquinho da Mangueira, que foi sancionada pelo governador do Rio, Cláudio Castro, e publicada no Diário Oficial do município no dia 10 de abril deste ano. Com o samba composto por Hélio Turco, Alvinho e Jurandir, a Mangueira foi vice-campeã naquele ano.