Sem se importar com a repercussão de seus atos, diante da situação desesperadora em que se encontra sua gestão, frente os erros em série na condução política e econômica do país, Bolsonaro se convidou para um ato solene, na PGR, com a desculpa de cumprimentar o subprocurador Carlos Alberto Vilhena.
Por Redação - de Brasília
Com a caneta carregada e capaz de, praticamente, encerrar o mandato do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), caso aceite a denúncia de que o mandatário neofascista tentava interferir em investigações da Polícia Federal (PF) no Rio de Janeiro, por motivos pessoais, o procurador-Geral da República (PGR) foi surpreendido, nesta segunda-feira, com uma visita inesperada.
Sem se importar com a repercussão de seus atos, diante da situação desesperadora em que se encontra sua gestão, frente os erros em série na condução política e econômica do país, Bolsonaro se convidou para um ato solene, na PGR, com a desculpa de cumprimentar o subprocurador Carlos Alberto Vilhena. Ele acabara de tomar posse no cargo de Procurador Federal dos Direitos do Cidadão.
De imediato, tanto no Congresso quanto no Supremo Tribunal Federal (STF), a leitura que parlamentares e ministros fizeram do ato público, segundo apurou a reportagem do Correio do Brasil, foi a de uma “tentativa de pressão para que Aras engavete o inquérito com as denúncias do ex-ministro da Justiça (Sérgio Moro)”, disse o chefe de gabinete de um dos ministros do Supremo, em caráter reservado.
Surpreso
Nesta manhã, Bolsonaro acompanhava a solenidade de posse do subprocurador em uma videoconferência, desde o Palácio do Planalto. Ao fim da cerimônia, o procurador-geral ofereceu a palavra ao presidente que, de pronto, convidou-se para, pessoalmente, comparecer à sede da PGR e "apertar a mão" de Vilhena.
— Se me permite a ousadia, se me convidar, eu vou agora aí apertar a mão do nosso novo colegiado maravilhoso da Procuradoria-Geral da República — disse Bolsonaro.
Surpreso, Aras concordou com a visita.
— Estaremos esperando Vossa Excelência com a alegria de sempre — respondeu.
Em poucos minutos, Bolsonaro chegou ao prédio da PGR e, na sala onde ocorrera a solenidade, tirou fotos e cumprimentou os presentes, incluindo Aras, por cerca de 15 minutos. Mas era evidente o desconforto dos presentes com a quebra de protocolo, uma vez que inquérito sob os cuidados da PGR apura graves acusações do ex-ministro Moro.
Celulares
Caso ofereça a denúncia contra o presidente, caberá ao Congresso autorizar o inquérito e, de imediato, Bolsonaro estaria fora do cargo por 180 dias. Na reunião ministerial de 23 de abril, as imagens gravadas mostram a cobrança do presidente quanto a mudanças no comando da "segurança no Rio" que, segundo o ex-ministro, comprovam a tentativa de interferência.
Aras, no entanto, tem sido alvo das suspeitas de seus comandados, uma vez que foi escolhido por Bolsonaro para comandar a PGR, no ano passado, sem passar pelo crivo da categoria. Uma lista tríplice eleita pela Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) chegou a ser apresentada ao presidente, que a ignorou, indicando para o cargo um nome fora da relação.
Caberá, ainda, a Augusto Aras decidir sobre um pedido para apreensão dos celulares do Jair Bolsonaro e de seu filho Carlos, no âmbito do inquérito em curso.