Rio de Janeiro, 21 de Dezembro de 2024

Congressistas querem cassar o mandato do presidente da República

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Terça, 18 de Fevereiro de 2020 às 13:14, por: CdB

As parlamentares apontam crime de responsabilidade do presidente ao quebrar o decoro do cargo, após agressão de cunho sexual à jornalista Patrícia Campos Mello, do diário conservador paulistano Folha de S. Paulo (FSP). Ela investiga os crimes do mandatário, durante a campanha presidencial.

Por Redação - de Brasília Um poderoso grupo de deputadas e senadoras de diferentes partidos e tendências ideológicas reuniu-se, nesta terça-feira, para discutir o pedido de impedimento ao presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), que será protocolado nos próximos dias e entregue ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Caberá ao deputado pautar, ou não, o pedido de cassação do mandato presidencial.
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Bolsonaro atacou a repórter, em entrevista a jornalistas, à saída do Palácio da Alvorada, sem qualquer reação dos colegas
As parlamentares apontam crime de responsabilidade do presidente ao quebrar o decoro do cargo, após agressão de cunho sexual à jornalista Patrícia Campos Mello, do diário conservador paulistano Folha de S. Paulo (FSP). Ela investiga os crimes do mandatário, durante a campanha presidencial. Aliada de primeira hora do político neofascista, a FSP reconheceu, no entanto, que Bolsonaro ultrapassou todos os limites e quebrou o decoro do cargo. Na entrevista concedida em frente ao Palácio da Alvorada, nesta manhã, Bolsonaro insinuou que Campos Melo "queria um furo. Ela queria dar o furo…”, afirmou, para obter informações sobre a disseminação de notícias falsas por parte da campanha de Bolsonaro. A afirmação foi seguida de um riso capcioso. WhatApp Em nota, o diário afirma que "o presidente da República agride a repórter Patrícia Campos Mello e todo o jornalismo profissional com a sua atitude. Vilipendia também a dignidade, a honra e o decoro que a lei exige do exercício da Presidência". A declaração do presidente foi uma referência ao depoimento do ex-funcionário de uma agência de disparos de mensagens em massa por WhatsApp, na semana passada, durante sessão da Comissão Parlamentar Mista de Investigação (CPMI) das Fake News, no Congresso. O depoimento à comissão foi de Hans River do Rio Nascimento, que trabalhou para a Yacows, empresa especializada em marketing digital, durante a campanha eleitoral de 2018. Em dezembro daquele ano, reportagem baseada em documentos da Justiça do Trabalho e em relatos do depoente, mostrou que uma rede de empresas, entre elas a Yacows, recorreu ao uso fraudulento de nomes e CPFs de idosos para registrar chips de celular e garantir o disparo de lotes de mensagens em benefício de políticos, entre eles o então candidato Jair Bolsonaro.

Sexo

Na CPMI, diante de deputados e senadores, Nascimento mentiu e insultou Patrícia, uma das autoras de reportagem. Presente à sessão, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, aproveitou a fala do depoente para difundir ofensas e fazer insinuações contra a repórter da FSP, tanto no Congresso como em suas redes sociais. Sem apresentar provas, Nascimento afirmou que Patrícia queria “um determinado tipo de matéria a troco de sexo”, declaração reproduzida em seguida por Eduardo Bolsonaro nas redes sociais. Nesta terça-feira, em frente ao Palácio da Alvorada, Bolsonaro falou sobre o caso. — Olha a jornalista da Folha de S.Paulo. Tem mais um vídeo dela aí. Não vou falar aqui porque tem senhoras aqui do lado. Ela falando: 'Eu sou (...) do PT', certo? O depoimento do Hans River, foi final de 2018 para o Ministério Público, ele diz do assédio da jornalista em cima dele — disse presidente, nesta manhã.

Dignidade

Em seguida, aos risos, disparou o insulto com viés sexista. — Ela (repórter) queria um furo. Ela queria dar o furo a qualquer preço contra mim (risos dele e da claque que o acompanha). Lá em 2018 ele (Nascimento) já dizia que ele chegava e ia perguntando: 'O Bolsonaro pagou pra você divulgar pelo Whatsapp informações?' E outra, se você fez fake news contra o PT, menos com menos dá mais na matemática, se eu for mentir contra o PT, eu tô falando bem, porque o PT só fez besteira — acrescentou. Em resposta, o diário conservador afirma que ”o presidente da República agride a repórter Patrícia Campos Mello e todo o jornalismo profissional com a sua atitude. Vilipendia também a dignidade, a honra e o decoro que a lei exige do exercício da Presidência". Assista ao vídeo, com a fala de Bolsonaro:

Imprensa

Além da FSP, instâncias do jornalismo profissional, muitas delas ligadas às forças da direita que ajudaram a eleger o presidente, repudiaram a agressão e a classificam como um ataque aos jornalistas e à democracia. Para a Associação Nacional de Jornais (ANJ), a  Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), e o Observatório da Liberdade de Imprensa da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a fala de Bolsonaro desrespeita a imprensa e o seu trabalho essencial na democracia. "As insinuações do presidente buscam desqualificar o livre e exercício do jornalismo e confundir a opinião pública. Como infelizmente tem acontecido reiteradas vezes, o presidente se aproveita da presença de uma claque para atacar jornalistas, cujo trabalho é essencial para a sociedade e a preservação da democracia", afirma a ANJ.

Mau-caratismo

"O desrespeito pela imprensa se revela no ataque a jornalistas no exercício de sua profissão. (...) Com sua mais recente declaração, Bolsonaro repete as alegações que a Folha já demonstrou serem falsas. Na mesma entrevista, Bolsonaro chegou a dizer aos repórteres que deveriam aprender a interpretar textos, assim ofendendo todos os profissionais brasileiros, não apenas a repórter da Folha", afirmam Abraji e OAB. O presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, avalia que o insulto de Bolsonaro à repórter da Folha configura uma "clara tentativa de intimidação" e demonstração de "mau-caratismo institucional". — O presidente incentiva os fanáticos e robôs que lhe servem de base radicalizada nas redes sociais contra uma jornalista séria. É a busca da opressão pela força do ódio público. Uma clara tentativa de intimidação que demonstra um mau-caratismo institucional inédito em nossa história republicana. Há mais um sério limite sendo flagrantemente ultrapassado — concluiu.
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