As declarações de Bolsonaro, ao comentar rumores sobre a expulsão do jornalista, chamaram a atenção da principal autoridade da Organização dos Estados Americanos (OEA) ligada a liberdade de expressão.
Por Redação - do Rio de Janeiro
Os ataques do presidente Jair Bolsonaro (PSL) e de seu ministro Sérgio Moro (Justiça e Segurança Pública) ao jornalista norte-americano Glenn Greenwald, fundador da agência Intercept Brasil, tem gerado protestos em nível internacional.
— Ele (Glenn Greenwald) é casado com outro homem e tem meninos adotados no Brasil. Malandro, malandro, para evitar um problema desse, casa com outro malandro e adota criança no Brasil. Esse é o problema que nós temos. Ele não vai embora, pode ficar tranquilo. Talvez pegue uma cana aqui no Brasil, não vai pegar lá fora não — disse Bolsonaro, na véspera.
Constituição
As declarações de Bolsonaro, ao comentar rumores sobre a expulsão do jornalista, chamaram a atenção da principal autoridade da Organização dos Estados Americanos (OEA) ligada a liberdade de expressão.
Para o advogado chileno Edison Lanza, relator especial para a liberdade de expressão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, da OEA, "o presidente do Brasil lamentavelmente parece ter se esquecido da Constituição e de tratados internacionais sobre liberdade de expressão dos quais o Brasil é signatário".
Internamente, as críticas sobem de tom contra a perseguição a Greenwald. Segundo o jornalista Janio de Freitas, do diário conservador paulistano Folha de S. Paulo, em sua coluna, neste domingo,“Moro fez escutas ilegais. Divulgou escutas ilegais. Gravou conversas de advogados e outras pessoas isentas de suspeita”.
“Deltan Dallagnol foi um associado de Moro com exibições de fanatismo e messianismo até na TV. Os vazamentos ilegais integraram a atividade de ambos como prática banal. Nós outros ouvimos e vimos tudo isso. Agora queremos ouvir e ler o que diziam às escondidas. Nada de destruir o material captado”, protesta Janio de Freitas.
Palestras
O jornalista se refere à pressa do ministro da Justiça Sérgio Moro em se dispor a destruir as mensagens captadas nos celulares invadidos de autoridades.
“Além desse risco, há várias alternativas ao método Moro para impedir as consequências apropriadas às ilicitudes e faltas morais que comprometem o então juiz, o procurador Deltan Dallagnol e muitos outros. Ainda haverá estoque de decência para impedir a virada de mesa? Eis a questão”, afirma.
Dallagnol, por sua vez, está definitivamente desmoralizado nas redes sociais, depois da descoberta de que ele vendia palestras para empresas investigadas na Lava Jato, como a Neoway, e até informações privilegiadas para banqueiros reunidos clandestinamente pela corretora XP. Neste segundo caso, Deltan chegou a dizer que "o risco tá bem pago rs".
Bem pago
A agência norte-americana de notícia Intercept Brasil revelou, com base nos chats secretos da Lava Jato, que Deltan Dallagnol disse ter faturado quase R$ 400 mil com palestras e livros em 2018. Entre as empresas que pagaram pela presença do procurador, está uma investigada pela própria Lava Jato.
O procurador e seus colegas discutiram, no Telegram, o potencial risco para suas imagens ao se sentarem com banqueiros, mas acabaram decidindo que valia a pena.
“Achamos que há risco sim, mas que o risco tá bem pago rs”, escreveu Dallagnol em um chat privado com seu colega na força-tarefa, o procurador Roberson Pozzobon, em fevereiro de 2018.
Pozzobon pediu um tempo: “Mas de fato é nessa questão dos bancos que a coisa é mais sensível mesmo. Vamos conversar com calma depois”, afirmou. As palestras aos banqueiros ocorreram, no entanto, apesar da reticência em aceitar os convites.