Em vídeo divulgado por um canal bolsonarista, nesta quinta-feira, Bolsonaro voltou a espalhar a fake news de que a eleição presidencial dos Estados Unidos teria sido fraudada e afirmou que a invasão do Congresso, em Washington, aconteceu devido a uma “falta de confiança no voto”.
Por Redação, com RBA - de Brasília e São Paulo
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) deu o roteiro do que pode acontecer no Brasil nas eleições de 2022, um dia após a invasão do Capitólio por apoiadores extremistas de Donald Trump, que foi derrotado e aponta fraude na disputa presidencial.
Em vídeo divulgado por um canal bolsonarista, nesta quinta-feira, Bolsonaro voltou a espalhar a fake news de que a eleição presidencial dos Estados Unidos teria sido fraudada e afirmou que a invasão do Congresso, em Washington, aconteceu devido a uma “falta de confiança no voto”. Segundo afirmou, a situação poderá acontecer também no Brasil “se tivermos o voto eletrônico” em 2022.
— Vai ser a mesma coisa. O pessoal tem que analisar o que aconteceu nas eleições (norte-)americanas agora. Basicamente, qual foi o problema, a causa dessa crise toda? Falta de confiança no voto. Lá o pessoal votou e potencializaram o voto pelos correios por causa da tal da pandemia e houve gente que votou três, quatros vezes. Mortos votaram. Foi uma festa lá. Ninguém pode negar isso daí. Então, a falta desta confiança levou a este problema que está acontecendo lá. E aqui no Brasil, se tivermos o voto eletrônico em 22, vai ser a mesma coisa — ameaçou.
‘Muito ligado’
Ainda segundo o mandatário neofascista, "a fraude existe. Daí a imprensa vai falar 'sem prova, ele diz que a fraude existe”.
— Eu não vou responder esses canalhas da imprensa mais. Eu só fui eleito porque tive muito voto em 18. Não estou falando que vou ser candidato ou que vou disputar as eleições — disse Bolsonaro. Apesar da afirmação, a suposta existência de fraudes nunca foi provada.
Nesta quarta-feira, até o fechamento dessa edição, Bolsonaro não havia se manifestado, oficialmente, sobre os acontecimentos em Washington, diferente de vários chefes de Estado. Questionado sobre o episódio, já à noite, respondeu que é “muito ligado” a Trump e concordou com a tese de que houve fraude na eleição que impôs a derrota de seu aliado.
Fascismo
Para o jornalista e presidente do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, Altamiro Borges, a tentativa de golpe nos Estados Unidos serve de alerta sobre a necessidade de conter o avanço do fascismo em todo o mundo. No Brasil, a situação com Bolsonaro pode ser ainda mais grave do que com o norte-americano Donald Trump. Além dos grupos milicianos, o presidente conta com apoio de setores das Forças Armadas e das polícias militares.
— No caso do Brasil, a situação é mais preocupante — disse o jornalista, em entrevista à agência brasileira de notícias Rede Brasil Atual (RBA), nesta manhã. Segundo afirmou, a verborragia de Bolsonaro pode dar a impressão de que seu projeto de poder não está avançando.
Mas Bolsonaro segue implementando medidas autoritárias e regressivas, que colocam em risco à democracia brasileira.
— A regressão é violenta em todas as áreas, na cultura e na educação. Bolsonaro fica esbravejando, e isso acaba desviando a atenção. Mas o autoritarismo está em curso. Ele libera arma, tem uma relação com as polícias militares que passa por cima dos governos estaduais. A ponto de estimular motins, como aquele ocorrido no Ceará. E esse projeto que está por trás dele vai sendo criado. Então é um perigo ainda maior — acrescentou.
Ultradireita
Borges também destacou o tom de condenação da mídia tradicional brasileira ao abordar o ocorrido nos Estados Unidos. Por aqui, esses mesmos jornalistas acabam “relativizando” posturas e declarações de Bolsonaro, por compartilharem da mesma cartilha econômica neoliberal.
Assim como Trump, Bolsonaro também coloca em xeque a credibilidade do sistema de votação. Sem apresentar provas, diz que a sua própria eleição teria sido fraudada pelas urnas eletrônicas e que ele deveria ter vencido já no primeiro turno, em 2018. Esses ataques serviriam para, em caso de derrota, incitar seus apoiadores a não aceitarem o resultado das próximas eleições.
— O neoliberalismo aguçou as aberrações do capitalismo. Anulou o que tinha de estado de bem-estar social. Outro fenômeno é a crise das instituições, que não têm sabido se comportar, como o Parlamento, o Executivo, o Judiciário, a mídia. Terceiro elemento é que as experiências de governos progressistas se mostraram muito positivas, conseguindo alguns avanços importantes. Mas se mostraram pouco consistentes e pouco pedagógicas. Não conseguiram politizar a sociedade — concluiu.