Bolsonaro havia afirmado na véspera que estudaria recriar o Ministério da Segurança Pública, depois de receber pedido de secretários estaduais da área nesse sentido. O presidente, no entanto, ressaltou que Moro seria contra a mudança.
Por Redação, com agências internacionais - de Nova Delhi
Em mais um teste para os nervos do ministro da Justiça e, por enquanto, Segurança Pública, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) recuou da declaração de que pretendia dividir a pasta e deixar o ex-juiz da Operação Lava Jato com apenas uma parte do ministério. Ainda assim, para mantê-lo ainda mais apreensivo, disse que é pode mudar de ideia, a qualquer momento.
— A chance no momento é zero. Tá bom ou não? Tá bom, né? Não sei amanhã. Na política tudo muda, mas não há essa intenção de dividir. Não há essa intenção. Há interesse de parte de setores da política. Nós simplesmente aceitamos recolher as sugestões, educadamente dizemos que vamos estudá-las, e os ministérios continuam sem problema — disse Bolsonaro a jornalistas logo após desembarcar em Nova Délhi para viagem oficial à Índia.
Bolsonaro havia afirmado na véspera que estudaria recriar o Ministério da Segurança Pública, depois de receber pedido de secretários estaduais da área nesse sentido. O presidente, no entanto, ressaltou que Moro seria contra a mudança.
Corrupção
Quando disse que estudaria a separação dos ministérios da Segurança Pública e da Justiça, como era no governo Michel Temer, Bolsonaro afirmou que Moro ficaria com a pasta da Justiça, como teria sido acertado ao convidar Moro para o governo, segundo ele.
Na verdade, ao deixar o cargo de juiz federal no Paraná para aceitar o cargo de ministro do governo Bolsonaro, uma das condições de Moro foi a ampliação dos poderes do Ministério da Justiça para abarcar novamente a área de segurança pública. O então juiz tinha a intenção de fazer avançar o pacote anticrime e as chamadas 10 medidas contra a corrupção, propostas pelo Ministério Público.
Moro queria, inclusive, mais do que reunificar os dois ministérios e tentou levar para sua pasta o Ministério da Transparência, que incluía a Corregedoria-Geral da União, e o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) — o que não conseguiu.
Congresso
Uma separação dos ministérios tiraria de Moro todo o poder de influência no combate à corrupção, foco do ministro ao aceitar o cargo, já que não poderia contar com a Polícia Federal, por exemplo, e nem caberia a ele negociar medidas anticrime no Congresso.
Também tiraria de Moro a área que o ministro mais tem usado para enumerar seus feitos. Sucessos no combate ao tráfico de drogas e armas e a redução no índice de homicídios são hoje seus principais temas, inclusive nas redes sociais.
A possibilidade de recriação do Ministério da Segurança Pública pode ser mais um lance no embate quase sempre silencioso entre Bolsonaro e Moro, hoje com uma popularidade maior que a do chefe, segundo pesquisas de opinião pública, e considerado um potencial candidato na eleição presidencial de 2022.
Críticas
Não bastasse a insegurança quanto à permanência no cargo, Moro recebeu, nesta manhã, a crítica do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), à sua a atuação. De acordo com o chefe do Executivo distrital, o ex-juiz não libera dinheiro aos Estados e não ouve os secretários estaduais na hora de formular políticas públicas para a área.
O emedebista afirmou que a redução nos índices de criminalidade no país não pode ser creditada ao governo federal.
— E ele (Moro) ainda teve a covardia de dizer que os resultados da segurança são por conta do trabalho dele e não por conta dos governadores e dos secretários estaduais, o que nos incomodou muito — disse, a jornalistas, falando em nome de outros governadores com quem mantém contatos diários pelo Whatsapp.
Ainda segundo o executivo estadual, ”o ministro (Moro) nunca fez uma reunião para tratar de segurança pública com os governadores”.
— Essa (a recriação do Ministério da Segurança) é uma política de nós todos governadores. Não tem nada a ver com o Bolsonaro. E o grande erro, talvez um dos maiores erros do presidente Bolsonaro tenha sido não tratar a segurança pública com responsabilidade e ter ouvido os governadores nessa área — concluiu.