Outra atenção do IPC está voltada à situação dos atletas de Rússia e Belarus, cuja participação em Paris será reavaliada na assembleia geral da instituição, em setembro.
Por Redação, com ABr - de São Paulo
A meta do Comitê Paralímpico Internacional (IPC, na sigla em inglês) é estabelecer na Paralimpíada de Paris (França) o recorde de público da história do evento, realizado pela primeira vez em 1960. Em entrevista à Agência Brasil, o presidente da instituição, Andrew Parsons, disse que serão colocados à venda 2,8 milhões de ingressos a partir de outubro. A edição com mais bilhetes comercializados (2,7 milhões) foi a de 2012, em Londres (Reino Unido).
– Temos trabalhado com o Comitê Organizador de Paris e com os governos federal e municipal. Queremos entregar um evento do mais alto nível, com a melhor estrutura aos atletas, instalações esportivas em áreas diferentes da cidade, junto de lugares icônicos. Temos a expectativa de um legado de mudança de atitude (em relação à pessoa com deficiências), de investimento em acessibilidade. O público da Paralimpíada é diferente, muitas vezes mais doméstico, de famílias, até por isso a política de preços é ajustada para ser mais barata (que na Olimpíada)”, argumentou o dirigente, que é brasileiro.
Outra atenção do IPC está voltada à situação dos atletas de Rússia e Belarus, cuja participação em Paris será reavaliada na assembleia geral da instituição, em setembro. Os países estão suspensos desde novembro do ano passado por causa da invasão russa à Ucrânia, com apoio bielorrusso. O presidente da entidade não crê que a decisão final, seja qual for, causará algum tipo de boicote aos Jogos de 2024.
No segmento olímpico, o assunto é polêmico. O último Campeonato Mundial feminino de boxe, por exemplo, foi boicotado por 11 países (Estados Unidos, Grã-Bretanha, Irlanda, República Tcheca, Canadá, Suécia, Suíça, Holanda, Polônia, Noruega e Ucrânia), que não concordaram com a presença de russos e bielorrussos, ainda mais por estes não precisarem competir como neutros, como ocorre no tênis por exemplo.
– A diferença é que nós já vivemos essa situação, porque a invasão foi entre a Olimpíada e a Paralimpíada de Inverno de Pequim (China, no ano passado). A primeira decisão, como comitê executivo, foi pela participação (de russos e bielorrussos) como atletas neutros, porque era o que, de acordo com nosso estatuto, podíamos fazer. Até aquele momento, os Jogos não estavam em risco. Com o anúncio da decisão, muitos governos e comitês nacionais ameaçaram realmente tirar os atletas. Os Jogos entraram em risco, aí você consegue ativar outro dispositivo estatutário e não aceitamos as inscrições de atletas russos e de Belarus – recordou Parsons.
– Desta vez, como a decisão será tomada em assembleia, acho que há um peso diferente, porque é uma decisão colegiada, de todos os comitês do mundo. Então, qualquer decisão que for tomada, acho que haverá respeito dos comitês paralímpicos nacionais – emendou.
No fim de março, o Comitê Olímpico Internacional (COI) recomendou a liberação de representantes das duas nações em competições individuais, como atletas neutros, mas fora das disputas por equipes e coletivas. A orientação não trata, especificamente, da Olimpíada de Paris. O presidente do IPC reforçou, porém, que a posição da entidade não depende, necessariamente, do que o COI definir.
– A gente monitora o que acontece nas decisões do COI, que é nosso maior parceiro, mas somos instituições autônomas, que tomam decisões às vezes alinhadas, às vezes não. Nos Jogos (do) Rio (de Janeiro, em) 2016, na questão do doping da Rússia, tivemos uma decisão diferente (os russos foram liberados para competir na Olimpíada, mas não na Paralimpíada). No momento, os comitês de Rússia e Belarus não podem inscrever atletas em nenhuma competição sancionada pelo IPC. Em algumas modalidades também atuamos como federação, em outras a decisão é de cada federação – explicou Parsons.
– A assembleia é formada por todos os comitês do mundo e federações internacionais. Pode ser que se tome uma decisão específica quanto a Paris 2024, ou até Milano-Cortina (Itália, sede da Paralimpíada de Inverno, em) 2026. E, obviamente, vamos monitorar a situação da Ucrânia, ver a questão da guerra, se houve algum desenvolvimento para a paz, como isso pode afetar (a decisão) – completou.
Equidade de gênero
A Paralimpíada de Paris será a de maior representatividade feminina na história do evento, com 235 disputas por medalhas (42,8% do total) e 1.859 vagas (42,5%) destinadas às mulheres. Segundo Parsons, a meta do IPC é atingir a equidade de gênero nos Jogos de Brisbane (Austrália), em 2032.
– Desde Sydney (Austrália, em 2000), mas especialmente depois de Pequim (2008), estamos aumentando de forma sólida as vagas femininas. Mas outra preocupação é desenvolver lideranças femininas. Em 2021 mudamos nosso estatuto em vários aspectos e um deles é (aumentar) a representação feminina em vários níveis, desde as comissões. O atleta é o principal, fundamental, mas precisamos dessas lideranças – afirmou o dirigente, que enumerou razões para a presença masculina no paradesporto ainda ser numericamente superior.
– Em muitos países é uma questão cultural, do acesso da mulher em geral e com deficiência ao esporte. Existem também fatores como o percentual de homens vítimas de acidentes ser maior. Mas o fundamental é o aspecto cultural e como você proporciona a entrada das mulheres com deficiência ao esporte em nível nacional. Como fazer para atrair mais mulheres, é cultura, (derrubar) tabus, que vai mais além – concluiu.