Na resposta a Bolsonaro, o médico Mandetta recorreu ao idioma italiano para rebater as críticas feitas a ele pelo presidente. Questionado sobre se não queria responder, disse apenas: — OK, vamos trabalhar. Lavoro, lavoro, lavoro (trabalho, em italiano).
Por Redação - de Brasíiia e São Paulo
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) acelerou as críticas ao ministro da Saúde, Henrique Mandetta, ao afirmar nesta sexta-feira, durante entrevista a jornalistas, que o país não aguenta ficar três meses parado. O mandatário neofascista, no entanto, teve uma resposta à altura de Mandetta e colidiu no muro da opinião pública, construído em pesquisa divulgada nesta manhã.
Na resposta a Bolsonaro, o médico Mandetta recorreu ao idioma italiano para rebater as críticas feitas a ele pelo presidente. Questionado sobre se não queria responder, disse apenas: — OK, vamos trabalhar. Lavoro, lavoro, lavoro (trabalho, em italiano).
Na entrevista, Bolsonaro disse, ainda, que "está faltando humildade" ao ministro e que, embora nenhum ministro seja indemissível, não pretende tirar Mandetta no meio da crise.
Novo ataque
Irritado com as derrotas junto aos eleitores e dentro do próprio governo, Bolsonaro descontou, mais uma vez, contra os repórteres que insistem em aguardá-lo à saída do Palácio da Alvorada, toda manhã. Nesta sexta-feira não foi diferente.
Bolsonaro ignorou os jornalistas, mas parou para conversar com apoiadores, a maioria evangélicos e comerciantes do entorno de Brasília.
— Vocês sabem meu posicionamento, não pode fechar dessa maneira. Vai trazer desemprego em massa. A sociedade não aguenta ficar dois, três meses parada. É uma demagogia — disse aos seguidores.
O mandatário frisou também que está “trazendo a opinião pública” para seu lado e, a uma apoiadora que disse a ele que estavam apenas “esperando sua voz”, respondeu: “vai chegar a hora certa”.
Mídia
No novo ataque à imprensa, Bolsonaro acrescentou não ter chegado ao poder para “perder para esses urubus “aí”, referindo-se aos repórteres.
— Eu não cheguei aqui... pelo milagre da facada, e a eleição também, para perder para esses urubus aí — atacou a mídia.
A citada opinião pública, no entanto, segue em direção exatamente oposta à previsão do presidente. A pesquisa da corretora de valores XP Investimentos, divulgada nesta sexta-feira, aponta queda na popularidade de Jair Bolsonaro, que se desgasta cada vez mais pela falta de rumo para gerenciar a crise do coronavírus.
De acordo com o estudo, 42% consideram o governo "ruim e péssimo", percentual que era de 36% em março. Entre os que avaliam o governo como "ótimo e bom", o percentual chega a 28%, o que representa uma queda de dois pontos percentuais em relação à última pesquisa. Ao todo, 27% consideram o governo regular e 3% dos entrevistados não souberam ou não quiseram responder.
Isolamento
As estatísticas apontam, ainda, que 50% dos entrevistados disseram que a economia está no caminho errado, enquanto 36% confiam no caminho certo, e 14% não responderam. A recomendação do isolamento social durante a epidemia do coronavírus ideal para 80% dos entrevistados - 12% avaliaram a medida como um exagero e 6% afirmaram que este não é o melhor caminho.
O levantamento indicou também que, para 44% dos entrevistados, a gestão dos governos estaduais está "ótima ou boa"; 37% consideram regular e 15% afirmaram que está "ruim ou péssima”.
Diante dos dados expostos na pesquisa da XP, que também aponta a aprovação de mais de 70% da política de isolamento social defendida por Mandetta, o ministro teria comentado com interlocutores, segundo nota em um dos diários conservadores paulistanos, que deseja renunciar ao cargo, assim q puder.
Contágio
O ministro teria afirmado, porém, segundo estes relatos, que não pedirá para sair e que vai deixar para o presidente a decisão de lhe tirar em meio à crise sanitária. A avaliação é que seu trabalho está sendo constantemente minado por Bolsonaro e que a tendência é de que o quadro da saúde vai piorar, com o avanço do contágio.
O número de casos casos graves sofrerá uma escalada dramática, segundo o ministro, em face do sistema de saúde precário do Brasil. As consequências, em seu relato para colegas, são imprevisíveis tanto para ele quanto para o presidente.
Mandetta, no entanto, diz que não pode se demitir nesse momento. Ele é médico e tem o sentido de missão. Mas não faz mais questão de baixar a temperatura com o chefe. Na última semana, com a popularidade que ganhou, o ministro assumiu uma conduta que indica um enfrentamento definitivo com o presidente.