Rio de Janeiro, 22 de Dezembro de 2024

Portugal: como foi a Revolução dos Cravos, que pôs fim à ditadura

Arquivado em:
Terça, 25 de Abril de 2023 às 14:37, por: CdB

Proibida pela ditadura que governava o país por sua alusão ao comunismo, era o sinal que civis e militares do Movimento das Forças Armadas (MFA) aguardavam para iniciar o levante que colocaria fim a 48 anos de ditadura fascista.


Por Redação, com BBC - de Lisboa


Já passava da meia-noite do dia 25 de abril de 1974 quando a canção Grândola, Vila Morena, do cantor e compositor português Zeca Afonso, foi transmitida pela Rádio Renascença.




portugal.jpeg
Soldados colocaram cravos nos canos de suas armas no dia 25 de abril de 1974

Proibida pela ditadura que governava o país por sua alusão ao comunismo, era o sinal que civis e militares do Movimento das Forças Armadas (MFA) aguardavam para iniciar o levante que colocaria fim a 48 anos de ditadura fascista e a 13 anos de guerras coloniais em Portugal, quase sem derramamento de sangue.


Começava a Revolução dos Cravos, chamada dessa forma, pois a população distribuía cravos vermelhos a vários soldados dissidentes, que os enfiavam nos canos de suas armas.


O levante, rápido e pacífico, foi orquestrado por cerca de 200 capitães e majores e encerrou um dos regimes autoritários mais longos do século 20, em sua grande parte encabeçado pelo ditador António de Oliveira Salazar, de inspiração fascista.


O salazarismo também perdia força desde a morte de Salazar, em 1970, dois anos depois de ser afastado do poder após sofrer um AVC, sendo substituído pelo jurista Marcelo Caetano.


Como Portugal recusava-se a aceitar a independência de suas colônias, surgiram grupos guerrilheiros em Moçambique, Guiné-Bissau e Angola.


A contragosto, as forças armadas portuguesas foram enviadas ao continente africano e obrigadas a combatê-los. Os conflitos se estenderam por 13 anos e foram muito sangrentos. Estima-se que 10 mil soldados portugueses e 45 mil civis morreram.


Para se ter uma ideia, durante o período, quase metade do orçamento de Portugal passou a ser destinado ao setor militar; a imensa maioria das famílias possuíam parentes enviados às guerras coloniais.


A crise econômica e os desgastes nas guerras coloniais começaram, então, a gerar grande insatisfação nas forças armadas e na população, levando ao aparecimento de movimentos contra a ditadura.


Além disso, como no Brasil, partidos e movimentos políticos eram proibidos, e diversos líderes oposicionistas estavam na prisão ou no exílio.


A ideia de organizar o levante partiu dos oficiais Otelo Saraiva de Carvalho e Vasco Lourenço, enquanto trocavam um pneu furado.


– Quando retornávamos de uma de nossas primeiras reuniões, tivemos um pneu furado e o trocamos. Eram duas da madrugada, mais ou menos, quando disse a Otelo que não íamos solucionar nada com requerimentos e papéis, que devíamos dar um golpe de Estado e convocar eleições. Ele me olhou e disse: 'Mas você também pensa assim? Esse é meu sonho!' – contou Lourenço em entrevista à agência espanhola de notícias EFE.


Curiosamente, o MFA foi autorizado pelo governo de Marcelo Caetano, o que os permitiu atuar dentro de certa legalidade.


– Essa estrutura permitiu nos organizar e reunir, não dissemos abertamente que íamos conspirar contra o governo e dar um golpe de Estado, embora no fundo o propósito era derrubar o fascismo e a ditadura – explicou Lourenço.


Com a queda do regime militar, as liberdades civis e democráticas foram retomadas e outros direitos conquistados, como o de votar.


Os países africanos passaram por processos de independência e uma nova Constituição entrou em vigor em Portugal.


A Revolução dos Cravos também teve grande impacto na cultura do país, com a derrocada do moralismo rígido da ditadura.


Afastado do poder, Marcelo Caetano foi enviado já no dia seguinte para a ilha da Madeira. Depois viveu no Brasil e morreu, em outubro de 1980, exilado no Rio de Janeiro.



Polêmica


O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), havia sido convidado para fazer um discurso no Parlamento português, a Assembleia da República, em evento comemorativo pelo aniversário de 49 anos da Revolução dos Cravos.


A participação do petista chegou a ser anunciada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, João Gomes Cravinho, em visita ao Brasil em fevereiro deste ano.


– É a primeira vez que um chefe de Estado estrangeiro faz um discurso nesta data – disse Cravinho em entrevista a jornalistas em Brasília.


Mas partidos de oposição, como PSD, IL e Chega, se manifestaram contra o convite e, após uma reunião entre as lideranças políticas portuguesas, chegou-se a um consenso de que Lula discursaria, mas numa sessão solene de boas-vindas, à parte das comemorações da Revolução dos Cravos.



Edições digital e impressa
 
 

Utilizamos cookies e outras tecnologias. Ao continuar navegando você concorda com nossa política de privacidade.

Concordo