Pelas redes sociais, parlamentares alegam que o presidente quebra a promessa de campanha de reduzir o número de ministérios. Afirmam, ainda, que a escolha de Faria para o cargo é apenas mais um gesto de aproximação com o ‘Centrão’.
Por Redação - de Brasília
Cada vez mais isolado, mas ainda em busca de uma tábua de salvação no Congresso, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) foi alvo de críticas de seus ex-aliados, nesta quinta-feira, por recriar o Ministério das Comunicações e entregar a pasta ao deputado Fábio Faria (PSD-RN), do ‘Centrão’. Ninguém menos do que o genro do empresário Silvio Santos, dono do canal de TV SBT, casado com a apresentadora Patrícia Abravanel.
Pelas redes sociais, parlamentares alegam que o presidente quebra a promessa de campanha de reduzir o número de ministérios. Afirmam, ainda, que a escolha de Faria para o cargo é apenas mais um gesto de aproximação com o ‘Centrão’.
Silvio Santos
O Ministério das Comunicações foi recriado, em mensagem publicada no Diário Oficial da União, nesta quinta-feira, após ser desmembrado do Ministério da Ciência e Tecnologia. Bolsonaro negou que a nomeação seja fruto de sua aproximação com o Centrão.
— Vamos ter alguém que, ele não é profissional do setor, mas tem conhecimento até pela vida que ele tem junto à família do Silvio Santos. A intenção é essa, é utilizar e botar o ministério pra funcionar nessa área que estamos devendo, há muito tempo, uma melhor informação — disse o mandatário.
Uma das críticas a Bolsonaro veio da deputada estadual por São Paulo Janaína Paschoal (PSL-SP). "Gente, não quero ser injusta com ninguém, não quero fazer juízo prévio. Mas será que Jair Bolsonaro não deu um Google no nome do novo ministro? Não é possível! Foi para isso que eu apoiei esse presidente? Foi para isso que fomos às ruas para derrubar Dilma?", escreveu em seu Twitter.
Sem palavra
Paschoal também afirmou que o presidente estaria se iludindo com a ideia de que o ‘Centrão’ vai blindá-lo no Congresso. "Bolsonaro se ilude, pensando que esse pessoal do ‘Centrão’ vai blindá-lo. Melhor seria ficar fiel aos princípios que defendeu na campanha eleitoral! Dilma chegou a ter mais de 30 Ministérios. Fosse fiel ao que prometeu, estaria muito mais forte. É triste!"
Na mesma tônica de crítica a criação de um novo ministério, o deputado federal Júnior Bozzella (PSL-SP) lembrou a promessa de campanha do presidente de reduzir o número de pastas do Executivo federal, afirmando que o presidente não tem palavra.
"Mais um dos tantos atos que comprovam que Jair Bolsonaro se utilizou de um discurso em campanha. Na prática é o oposto. Recria ministérios e loteia cargos. Nunca foi um reformista. Nem um homem de palavra. Em campanha, prometeu 15 ministérios. Já são 23", escreveu em uma rede social.
Aparelhamento
Adversária recente do governo e alvo constante de críticas do presidente e de seus filhos, a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) também criticou Bolsonaro e a escolha do novo ministro. Em uma série de mensagens, a deputada disse que Bolsonaro estaria aparelhando emissoras de televisão simpáticas ao seu governo.
"Se gritar pega centrão, não fica um meu irmão...", diz General Heleno. Jair Bolsonaro negando as calças pro ‘Centrão’. Depois de encher as burras da Record de dinheiro, recria um Ministério e dá ao genro do Silvio Santos. É aparelhamento que se chama? Ou feira livre mesmo?”, opinou.
O deputado Alexandre Frota (PSDB-SP) também partiu para o ataque: “Bolsonaro chamando o Kassab de porcaria, que não vale nada, corrupto, mas agora algo fez Bolsonaro mudar, e até Ministério está dando para o Kassab. É muito cara de pau”.
O governo Bolsonaro passa, assim, a 23 ministros, oito a mais do que os 15 prometidos durante a campanha eleitoral. O 24º ministério pode ser criado ainda neste ano, com o desmembramento do Ministério da Justiça e a criação da pasta da Segurança Pública.
Fusão
Ué? O que aconteceu? pic.twitter.com/iCDHftrMyI
— Centrômetro (@centrometrombl) June 11, 2020
O cientista político Theófilo Rodrigues, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em nota publicada no Facebook, lembra que “até 2016, o governo contou em sua estrutura com dois ministérios: o das Comunicações; e o da Ciência, Tecnologia e Inovação. Uma das primeiras medidas de Temer após o golpe contra Dilma foi a fusão dos dois em um único ministério sob comando do presidente do PSD, Gilberto Kassab”.
“Naquela ocasião, a sociedade civil brasileira criticou bastante a fusão. Nossa avaliação era a de que se tratava do primeiro passo para o sucateamento/privatização do setor. SBPC, ABC, Barão de Itararé e FNDC foram algumas das organizações contrárias ao processo de fusão”, acrescentou.
Ainda segundo Rodrigues, “Bolsonaro anuncia o ministério das Comunicações sob comando de Fábio Faria. Aqui cabe um registro: a indicação de Fábio Faria não é trivial. Ele é do PSD, partido presidido por Kassab, que foi o ministro da fusão de Temer. Então é só olhar pro passado para saber o que virá pela frente”.
Raposa
“Quando Kassab assumiu as Comunicações, diversas nomeações do mercado configuraram conflitos de interesses. Aliás, tive a oportunidade de entrar com duas representações no Ministério Público Federal denunciando aquelas nomeações, em particular a da presidência da Telebrás”, assinala o professor.
Para Theófilo Rodrigues, “certamente, Kassab está de olho na implementação do 5G no Brasil. Vale lembrar que o governo anunciou na semana passada a parceria com a Cisco, empresa norte-americana, com esse objetivo. Ainda não há notícias, mas na divisão das pastas, imagino que o 5G ficará no MiniCom e não no MCTI”.
“Um último detalhe: Fábio Faria é casado com a filha de Silvio Santos, dono do SBT. Na minha terra chamam isso de "a raposa cuidando do galinheiro”, conclui.