Na reunião com Bolsonaro, foi apresentada e debatida a trama golpista que objetivava a imposição de um golpe de Estado. O senador tentou, após intervenção dos filhos do ex-mandatário neofascista, mudar de versão e isentar Bolsonaro de iniciativa do esquema, mas sem sucesso.
Por Redação, com agências internacionais - de Lisboa
Ministro do Supremo Tribunal Federal, o decano Gilmar Mendes afirmou, nesta sexta-feira, que as denúncias do senador Marcos Do Val (Podemos-ES) mostram que "a gente estava sendo governador por uma gente do porão", ligada "às milícias do Rio de Janeiro”. Do Val, entre idas e vindas nas suas versões sobre os fatos, detalha o encontro com o então presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-deputado Daniel Silveira (PTB-RJ), no fim do ano passado.
Na reunião, foi apresentada e debatida a trama golpista que objetivava a imposição de um golpe de Estado. O senador tentou, após intervenção dos filhos do ex-mandatário neofascista, mudar de versão e isentar Bolsonaro de iniciativa do esquema, mas sem sucesso. A trama incluiria fomentar as concentrações golpistas em frente a quartéis e a gravação ilegal de alguma inconfidência do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes.
— Vamos esperar o resultado das investigações, mas essas pessoas [Do Val e Silveira] se comunicaram. O que (o episódio) mostra é que a gente estava sendo governado por uma gente do porão. Esse é um dado da realidade. Pessoas da milícia do Rio de Janeiro, com contato na política internacional, isso é o que resulta quando vemos a nominata desses personagens — afirmou Gilmar, citando os áudios e cópias de mensagens divulgados pela revista semanal de ultradireita Veja.
‘Éthos’
Anteriormente, Gilmar falou durante uma conferência sobre política e economia do Lide, grupo empresarial fundado pelo ex-governador paulista João Doria, na capital portuguesa. Para o ministro, "as instituições foram o alvo predileto das vivandeiras alvoraçadas", parafraseando a famosa citação do ditador Humberto Castello Branco de 1964, aludindo aos políticos que incitavam agitação nos quartéis.
Mendes criticou a elite política na era do bolsonarismo, que alimentava "zumbis consumidores de desinformação”.
— Espero que as investigações identifiquem quem estava no topo dessa pirâmide e qual lucro auferiam, política ou economicamente — disse.
A crítica aberta ao "éthos" bolsonarista foi completada com uma crítica ao ex-chanceler Ernesto Araújo.
— Nunca mais voltemos a ser um pária internacional, objetivo vocalizado por um certo expoente de uma certa doutrina — acrescentou.
‘Tabajara’
O ministro, porém, disse que está otimista.
— Apesar de a extensão do dano ser grande, seu conserto é possível. O Brasil tem a capacidade singela de se reinventar — acredita.
Presente no mesmo encontro, em Lisboa, o ministro do STF Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, afirmou nesta manhã que o complô envolvendo Jair Bolsonaro (PL) relatado pelo senador Marcos do Val (Podemos-ES) foi uma "tentativa Tabajara" de golpe. O termos alude às Organizações Tabajara, empresa fictícia clássica do humor do grupo Casseta & Planeta, que virou sinônimo de qualquer ação farsesca.
Foi sua primeira manifestação pública após a revelação de uma reunião com o então presidente Jair Bolsonaro (PL) em que teria sido discutida uma trama golpista para revogar a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no pleito do ano passado, que incluía gravar Moraes ilegalmente para constrangê-lo.