O parlamentar já havia empregado em seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) a mãe e a mulher do ex-capitão do Bope Adriano Magalhães da Nóbrega, chefe do grupo de milicianos conhecido como Escritório do Crime, apontado como executor da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ).
Por Redação - de Brasília e Rio de Janeiro
Senador recém-empossado e ex-deputado estadual, o primogênito do presidente da República, Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), é agora oficialmente investigado pela Procuradoria Geral de Justiça (PGR). Novas denúncias, veiculadas pela mídia conservadora, apontam que ele entregou suas contas de campanha para o Senado à irmã de dois criminosos: os irmãos Alan e Alex Rodrigues de Oliveira.
Ambos foram presos, em agosto do ano passado, na operação Quarto Elemento, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e do Ministério Público do Rio de Janeiro. Segundo as investigações, Valdenice de Oliveira Meliga, que trabalhava no gabinete de Flávio Bolsonaro, na Alerj , assinou cheques de gastos de campanha em nome dele.
O parlamentar já havia empregado em seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) a mãe e a mulher do ex-capitão do Bope Adriano Magalhães da Nóbrega, chefe do grupo de milicianos conhecido como Escritório do Crime, apontado como executor da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ). Dois cheques assinados por Valdenice, em nome da campanha de Flávio: um de R$ 3,5 mil e outro de R$ 5 mil, constam nos autos do processo.
‘Laranjal’
Os irmãos participaram de atos de campanha do senador, antes da prisão. Em foto publicada no perfil de Flávio no Instagram, em outubro de 2017, o então deputado estadual aparece ao lado dos irmãos Alan, Valdenice e Alex, e do pai, Jair Bolsonaro. "Parabéns Alan e Alex pelo aniversário. Essa família é nota mil!!!", dizia a mensagem.
Não bastasse a proximidade com a milícia, Flávio Bolsonaro passou a ser investigado também por ligação com o escândalo das candidaturas fraudulentas no PSL. Outra funcionária de seu gabinete, na Alerj, exerceu a função de primeira-tesoureira do PSL no Rio. Alessandra Cristina Ferreira de Oliveira fez a contabilidade de 42 campanhas eleitorais do partido no Estado, por meio de sua empresa, a Alê Soluções e Eventos Ltda e é apontada como coordenadora das candidaturas falsas.
As candidatas ‘laranjas’ emitiam cheques de R$ 5 mil destinados à empresa de Alessandra, que recebia de volta parte desse dinheiro, como pagamento pelos serviços de contabilidade prestados por sua empresa. Alessandra recebeu R$ 55 mil das campanhas do PSL, cobrando valor entre R$ 750 e R$ 5 mil de cada candidato.
A Alê Soluções foi constituída em maio de 2007. De acordo com a Receita Federal, a empresa fica na Estrada dos Bandeirantes 11.216, em Vargem Pequena, Zona Oeste do Rio. Mas o endereço registrado no Tribunal Regional Eleitoral é Avenida das Américas número 18.000 sala 220 D, no Recreio dos Bandeirantes, o mesmo endereço na sede do PSL.
Em sua defesa, Alessandra Oliveira afirmou a jornalistas que não vê conflito ético no fato de ser, ao mesmo tempo, tesoureira do partido, funcionária de Flávio Bolsonaro e ter contratado sua empresa para fazer a contabilidade das campanhas.
Ex-assessor
Flávio Bolsonaro também tenta se esquivar das denúncias ao afirmar que a mídia faz "uma ilação irresponsável" ao tentar vinculá-lo com candidaturas irregulares e milicianos em "mais uma tentativa de denegrir a imagem do senador”.
A procuradora-Geral da República, Raquel Dodge, por sua vez, incumbiu o Ministério Público Federal (MPF), no Rio de Janeiro, de apurar se o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) praticou os crimes de lavagem de dinheiro e formação de quadrilha, na operação de compra e venda de imóveis.
O caso já estava com os agentes federais, mas houve dúvida no MPF sobre em qual deveria ser a instância adequada para tramitação, uma vez que Flávio se elegeu senador. O parlamentar, no entanto, também precisará explicar sua proximidade ao ex-assessor Fabrício Queiroz.
Carros usados
Primeiro a ser ouvido no caso, o ex-assessor do então deputado estadual Agostinho Moraes da Silva admitiu, junto ao Ministério Público do Rio de Janeiro, nesta sexta-feira, que depositava, todos os meses, cerca de dois terços de seu salário na Casa Legislativa na conta de Queiroz.
Mensalmente, assim que o salário da Assembleia era depositado em sua conta, Agostinho Moraes fazia uma transferência eletrônica para a conta de Queiroz, sempre no valor aproximado de R$ 4 mil. O depoente, que, assim como Queiroz, é policial militar, disse que ganhava aproximadamente R$ 6 mil por mês como assessor de Flávio. Além disso, ele recebia mais R$ 8,5 mil líquidos como subtenente da Polícia Militar.
O policial também afirmou, aos promotores do Grupo de Atribuição Originária Criminal da Procuradoria-Geral de Justiça, que as transferências eram “investimentos em atividade empresarial” desempenhada por Queiroz, que seria a compra e venda de veículos. Moraes acrescentou que Queiroz lhe devolvia, sempre, de R$ 4.500 a R$ 4.700, em espécie, como retorno do negócio, em aproximadamente um mês.