Rio de Janeiro, 05 de Dezembro de 2025

Moro renuncia ao cargo e aponta preocupação de Bolsonaro com ação no STF

"Quando assumi, sabia dos riscos. Vou descansar um pouco. Nesses 22 anos foi muito trabalho. Quero dizer que, independentemente de onde eu esteja, vou estar à disposição", disse Moro, ao se despedir do cargo.

Sexta, 24 de Abril de 2020 às 08:51, por: CdB

"Quando assumi, sabia dos riscos. Vou descansar um pouco. Nesses 22 anos foi muito trabalho. Quero dizer que, independentemente de onde eu esteja, vou estar à disposição", disse Moro, ao se despedir do cargo.

Por Redação - de Brasília
O ministro da Justiça, Sérgio Moro, desmentiu o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido) ao negar que o diretor da Polícia Federal, Maurício Valeixo, demitido na madrugada desta sexta-feira, tenha pedido para deixar o cargo.
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O ex-juiz Sérgio Moro é, agora, ex-ministro da Justiça e disse que vai procurar um emprego
Segundo Moro, durante conversa com Bolsonaro, na véspera, ele disse que se não houvesse uma razão para demitir o diretor da PF, isso seria uma interferência política, com o que Bolsonaro concordou: – 'E é mesmo', disse (o presidente) – revelou Moro. Em pronunciamento público, nesta manhã, Moro deixou o Ministério, quase dois anos depois de deixar a magistratura e assumir o posto, a convite de Bolsonaro. – Quando assumi, sabia dos riscos. Vou descansar um pouco. Nesses 22 anos foi muito trabalho. Quero dizer que, independentemente de onde eu esteja, vou estar à disposição – afirmou.

'Inevitável'

O agora ex-ministro da Justiça e Segurança Pública acrescentou,  em seu pronunciamento, que desde o período da Operação Lava Jato sempre se preocupou com a possibilidade de interferência política na PF. Ele disse lamentar ter de tomar uma decisão durante a pandemia de coronavírus, mas disse que era “inevitável”.

– Não são aceitáveis indicações políticas – afirmou. Moro falou em "violação de uma promessa que me foi feita inicialmente de que eu teria uma carta branca". – Haveria abalo na credibilidade do governo com a lei – acrescentou.

Moro havia imposto como condição para permanecer no governo que pudesse discutir com Bolsonaro o nome do sucessor de Valeixo à frente da PF, o que não aconteceu, de acordo com uma fonte com conhecimento da decisão do ministro de deixar o governo.

Crime

Ainda em seu pronunciamento à imprensa, Sergio Moro apontou mais um crime de responsabilidade de Jair Bolsonaro, o que apressa a abertura de um pedido de impedimento, na Câmara dos Deputados, onde há 24 pedidos pendentes nesse sentido. Segundo Moro, Bolsonaro quis trocar o comando da Polícia Federal para obter informações de investigações ligadas à sua família, o que representaria um crime de responsabilidade.

– O presidente me relatou que queria ter uma indicação pessoal dele para ter informações pessoais. E isso não é função da PF. Isso não é função do presidente, ficar se comunicando com Brasília para obter informações pessoais. Esse é um valor fundamental que temos que preservar dentro de um Estado democrático de direito – declarou, citando novamente o nome da ex-presidente Dilma Rousseff, sobre quem já havia reconhecido ter dado autonomia à PF durante o período da Lava Jato.

Demissão

Moro, um pouco antes, havia explicado que não era verdadeira a versão de que Maurício Valeixo, demitido da diretoria da PF, teria pedido para sair.

– Há informações de que o Valeixo gostaria de sair, mas isso não é totalmente verdadeiro. O ápice da carreira de qualquer delegado é o comando da Polícia Federal. Depois de tantas pressões para que ele saísse, ele até manifestou que seria melhor sair – explicou.

Ainda segundo o ex-ministro, "temos que garantir a autonomia da Polícia Federal contra interferências políticas”.

– Ele havia me garantido autonomia. Poderia ser alterado o diretor da Polícia Federal desde que houvesse uma causa consistente. Então realmente é algo que eu não posso concordar. Vou começar a empacotar minhas coisas e dar sequência à minha carta de demissão – concluiu.

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