O comandante da FAB, tenente-brigadeiro do ar Carlos Almeida Baptista Júnior, continuou, “é uma figura parcialmente política, e não estou falando de política partidária, estou falando da melhor definição de política, de interlocução com autoridades do governo, em prol da missão da Força Aérea”, referindo-se a ele mesmo na terceira pessoa do singular.
Por Redação - de Brasília
Comandante da Força Aérea Brasileira (FAB), o tenente-brigadeiro do ar Carlos Almeida Baptista Júnior disse o óbvio, em tom solene, e se transformou em notícia, nesta segunda-feira. Segundo o militar, em entrevista ao jornalista Igor Gielow, do diário conservador paulistano Folha de S. Paulo (FSP), as Forças Armadas cumprirão o que manda o texto constitucional.
Ele negou a hipótese de insubordinação militar em caso de vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), nas eleições presidenciais deste ano.
— Lógico. Nós prestaremos continência a qualquer comandante supremo das Forças Armadas, sempre. Como comandante da FAB, sempre ratifiquei a posição apartidária da Força. Uma coisa é falar de política, outra é política partidária — afirmou Baptista Júnior.
Ferramenta
Em um claro retorno à sua função, o militar também questionou a interpretação de que seria o mais bolsonarista dos comandantes.
— Esse carimbo, esse clichê, me foi colocado uma hora depois da minha indicação. Possivelmente porque eu era o único que utilizava, e ainda utilizo, as mídias sociais, com todos os riscos disso, porque acho que é ferramenta importante — acrescentou.
O comandante da FAB, continuou, “é uma figura parcialmente política, e não estou falando de política partidária, estou falando da melhor definição de política, de interlocução com autoridades do governo, em prol da missão da Força Aérea”.
Eleição
Embora as declarações de Baptista Júnior tenham tido uma repercussão enviezada no Palácio do Planalto, ele gerou polêmica no ano passado ao reforçar a crítica feita pelo ministro Walter Braga Netto (Defesa) à CPI da Covid. Citando militares investigados no Ministério da Saúde, o presidente da comissão, senador Omar Aziz (PSD-AM), falou em "lado podre" das Forças.
O brigadeiro, que havia coassinado a nota de Braga Netto com os outros dois comandantes, falou à imprensa que "homem armado não faz ameaça”. Até agora, no entanto, o militar não voltou atrás da declaração.
Sua fala sobre a eleição acompanhou um movimento em que Exército e Marinha sinalizaram o afastamento de Bolsonaro e o retorno dos quartéis à sua função constitucional. Questionado pela FSP sobre o fato de que a FAB permite que militares não vacinados contra covid-19 trabalhem, desde que assinem termos, ele diz os protocolos de saúde são rígidos. Até agora, 96% dos 66 mil militares da Força haviam tomado ao menos uma dose, e 76%, as duas.
Democracia
O posicionamento de Baptista Júnior é acompanhado pela única ministra mulher do Superior Tribunal Militar (STM), Ana Elizabeth Rocha. Ela afirmou nesta manhã ao portal UOL, da FSP, que a possibilidade de apoio dos militares a uma tentativa de golpe por parte de Jair Bolsonaro (PL) nunca existiu. A ministra, que convive com militares de alta patente, disse que "burburinhos" sobre golpe nunca aconteceram.
Rocha garantiu, ainda, que as eleições de 2022 ocorrerão dentro da normalidade, com ajuda inclusive das Forças Armadas.
— Nunca acreditei em golpe militar. Não depois de 1988, não depois da redemocratização. Tenho convivência com os militares do meu tribunal, que são todos generais de alta patente. Normalmente são os decanos das Forças Armadas, são os mais antigos. E nunca houve qualquer conspiração ou qualquer burburinho de golpes militares no Brasil. Hoje está provado que realmente nunca houve uma ameaça concreta e real. Digo isso também porque eu estou dentro de um tribunal militar, mas eu nunca percebi nenhuma movimentação de prevalecimento de uma ditadura militar — afirmou.
Segundo Rocha, “a democracia está consolidada”.
— As eleições estão caminhando, com as urnas eletrônicas e com tudo o mais. As Forças Armadas vão para as ruas porque não tem eleição sem elas, sobretudo do Norte do país, onde é necessário levar as urnas para as populações ribeirinhas — concluiu.