Comunista, oficial da Marinha e cassado em 1964, Milton tornou-se mais tarde destacado jornalista dos principais órgãos da imprensa brasileira, a começar pela lendária revista Realidade, passando pelo Jornal do Brasil, O Globo e TVE.
Por Gilberto Maringoni - de São Paulo
Contam que quando Milton Temer nasceu, apareceu um anjo torto - não numa goiabeira! - que pegou sua mão e lhe deu uma carga de 220 volts.
É a única explicação plausível para o garoto chegar agora aos 80 absolutamente pilhado e com pensamento faiscante como se fosse um adolescente.
Esse vilaisabelense universal é um senhor magro e não muito alto, bigode e cabelos brancos, olhos claros e curiosos, que dispara frases e definições com a rapidez de um AK-47. Na carteira de identidade é Jorge Milton Temer. Na vida prática, o Jorge ficou de fora. “Nada a ver com o tal do Michel Lulia”, esbraveja, referindo-se ao último sobrenome de outro Temer, o golpista que agora sai de cena.
Mandatos
Comunista, oficial da Marinha e cassado em 1964, Milton tornou-se mais tarde destacado jornalista dos principais órgãos da imprensa brasileira, a começar pela lendária revista Realidade, passando pelo Jornal do Brasil, O Globo e TVE. Como repórter, realizou coberturas internacionais na América Latina e na África.
Milton foi ativo militante do PCB, entre os anos 1960-80. Exilou-se por cinco anos na Europa, nos tempos mais ásperos da ditadura (1973-78) e cursou a famosa Escola de Quadros do Partido Comunista da União Soviética.
Após uma breve passagem pelo PSB, nosso personagem militou ativamente no PT, entre 1988 e 2003. Exerceu mandatos de deputado estadual constituinte (1987-91) e de deputados federal (1995-2003), destacando-se na luta contra as privatizações do governo FHC. “Eram tempos em que o PT fazia a diferença, mesmo com uma bancada pequena”, lembra.
O rompimento aconteceu após a chegada de Lula à presidência, por força do que ele define como desvio do ideário original de uma agremiação de esquerda. Logo, empenhou-se na fundação e construção do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), pelo qual foi indicado candidato a governador, em 2006, e ao Senado, em 2010.
Aniversário
Milton Temer é típico personagem de um Rio de Janeiro em desaparecimento, mais moleque, boêmio e generoso. E indignado.
João Saldanha (1917-1990), outro comunista ensolarado, finalizava suas crônicas e intervenções com um bordão famoso: “Vida que segue”.
Milton captou a essência do mote e cunhou sua versão: “Luta que segue”. A expressão sintetiza suas atividades incessantes, sua coragem física e um pensamento que teima em não se acomodar. Coisas de um garoto de mil e uma atividades que chega hoje à oitava década de sua turnê mundial.
Tenho o inigualável e invejável privilégio de me incluir - espero que não unilateralmente - em sua vasta confraria de amigos.
O aniversário é dele. Mas a felicidade de tê-lo próximo supera todas as festas.
Anos que seguem!
Gilberto Maringonié jornalista e escritor.