Rio de Janeiro, 23 de Abril de 2025

Michele e '03' lideraram apoio ao golpe, confessa Mauro Cid

O relatório final da investigação da PF sobre a trama golpista, concluído em 21 de novembro de 2024 — ou seja, um ano e três meses após o depoimento inicial de Cid —, no entanto, não traz Michelle nem '03' entre os 40 indiciados.

Domingo, 26 de Janeiro de 2025 às 14:12, por: CdB

O relatório final da investigação da PF sobre a trama golpista, concluído em 21 de novembro de 2024 — ou seja, um ano e três meses após o depoimento inicial de Cid —, no entanto, não traz Michelle nem ’03’ entre os 40 indiciados.

Por Redação – de São Paulo

Ajudante de ordens do ex-mandatário neofascista Jair Bolsonaro (PL), o tenente-coronel Mauro Cid confessou, em seu primeiro depoimento na colaboração premiada à Polícia Federal (PF), que a ala “mais radical” do grupo que apoiou o golpe de Estado derrotado em 8 de Janeiro 2022 tinha na primeira-dama, Michelle Bolsonaro, e no deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), o filho ’03’ do presidente, como é conhecido, seus principais incentivadores.

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Michelle e Eduardo Bolsonaro integravam a ala mais radical do golpe fracassado em 8/1, segundo Mauro Cid

A íntegra do depoimento de Cid, datada de 28 de agosto de 2023, foi obtida pelo escritor Elio Gaspari, colunista do portal de notícias UOL, de propriedade do diário conservador paulistano Folha de S. Paulo. Em novembro daquele ano, o UOL já havia revelado que a delação de Cid apontava Michelle e Eduardo como incitadores do golpe.

“Tais pessoas conversavam constantemente com o ex-presidente, instigando-o para dar um golpe de Estado, afirmavam que o ex-presidente tinha o apoio do povo e dos Colecionadores, Atiradores Desportivos e Caçadores (CACs) para dar o golpe”, diz a transcrição do depoimento de Cid, que chega agora ao público.

 

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Documento

O relatório final da investigação da PF sobre a trama golpista, concluído em 21 de novembro de 2024 — ou seja, um ano e três meses após o depoimento inicial de Cid —, no entanto, não traz Michelle nem ’03’ entre os 40 indiciados. O nome da ex-primeira-dama sequer é mencionado no documento. Eduardo Bolsonaro, por sua vez, é citado apenas no contexto em que seu nome aparece como contato no telefone celular de um dos investigados.

À época em que vazaram esses pontos da delação de Cid, Eduardo e Michelle negaram ao UOL envolvimento em ações pró-golpe. As afirmações são “absurdas e sem qualquer amparo na verdade”, disse a defesa de Michelle à época, acrescentando que Bolsonaro ou seus familiares “jamais estiveram conectados a movimentos que projetassem a ruptura institucional do país”. Eduardo chegou a dizer que a delação de Cid não passava de “devaneio” e “fantasia”.

No depoimento, em agosto de 2023, Cid disse um grupo trabalhava para convencer o presidente a admitir a derrota e se tornar “o grande líder da oposição”. Entre eles estariam o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, e o comandante da Aeronáutica, Baptista Júnior, entre outros.

 

Virada de mesa

O segundo grupo, segundo Cid, não concordava com os rumos que o país estava tomando, mas também se colocava contra medidas de ruptura. Fariam parte dele, entre outros, o comandante do Exército, Freire Gomes. Já o terceiro, favorável a medidas golpistas, era formado por duas alas nas palavras de Cid. Uma “menos radical”, que buscava encontrar indícios de fraudes nas urnas para justificar uma virada de mesa. Outra, à qual pertenciam a mulher dele e o filho ’03’, mais radical, era “a favor de um braço armado” e pregava a assinatura de decretos de exceção, de acordo com o delator.

Nessa ala, Cid ainda cita nominalmente Felipe Martins, ex-assessor para Assuntos Internacionais de Bolsonaro, Onyx Lorenzoni, que ocupou quatro ministérios na gestão Bolsonaro, Gilson Machado, ex-ministro do Turismo, o general Mario Fernandes, secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência, e os senadores Jorge Seif (PL-SC) e Magno Malta (PL-ES). Desse grupo, apenas Felipe Martins e Mario Fernandes acabaram sendo indiciados pela PF no relatório final da trama golpista.

O relatório da PF está sob análise da Procuradoria-Geral da República, a quem cabe oferecer denúncia ao STF contra os 40 suspeitos ou arquivar os indiciamentos. Michelle e Eduardo são atualmente cotados para disputar a Presidência em 2026, no lugar de Jair Bolsonaro, que está inelegível até 2030.

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