Segundo o líder sul-americano, o gesto de Trump teve motivação interna.
Por Redação – de Brasília
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que há “pretexto eleitoral” no anúncio do ‘tarifaço’ imposto aos produtos brasileiros pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Na reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável, nesta terça-feira, Lula afirmou que a decisão unilateral dos EUA fere a relação diplomática de mais de dois séculos entre os dois países.

— O presidente norte-americano não tinha o direito de anunciar as taxações como ele anunciou para o Brasil. Poderia ter pego o telefone, ligado para mim, para o Alckmin… Estaríamos aptos a conversar — afirmou Lula, visivelmente incomodado com a ausência de interlocução.
Segundo o líder sul-americano, o gesto de Trump teve motivação interna.
— O pretexto da carta e da taxação não é nem político, é eleitoral — pontuou.
Diversificação
Lula também aproveitou o discurso para defender uma inserção internacional mais diversificada do Brasil.
— O Brasil hoje não pode ficar dependendo de um único país. Queremos negociar desde o Uruguai, Paraguai, Argentina, Equador e Bolívia à China, Rússia, Estados Unidos e Índia — acrescentou.
Segundo Lula, o objetivo do governo é ampliar parcerias e garantir desenvolvimento.
— Nós queremos negociar, queremos vender, comprar. Nós queremos crescer, compartilhar as coisas neste mundo. Estamos cansados de ser um país de terceiro mundo, em vias de desenvolvimento — sublinhou.
Nacionalismo
O presidente também demonstrou preocupação com o que considera uma perda do sentimento nacionalista entre empresários brasileiros. Para ele, o cenário atual é marcado por uma predominância de interesses mercantilistas.
— Hoje tem pouco nacionalista no Brasil. Você não tem mais aqueles empresários nacionalistas, como você tinha nos anos 80, 70 e 60. (…) Hoje tem mais mercantilista do que nacionalista. Então defender o Brasil de hoje ficou muito mais complicado — acredita.
O presidente ainda criticou o comportamento de setores da sociedade que, segundo ele, adotam uma posição submissa diante de potências estrangeiras.
— Tem gente que acha que a gente é vira-lata. Tem gente que não gosta de se respeitar — observou.
Críticas
Ainda durante reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável, Lula reforçou as críticas a Donald Trump pelas interferências indevidas em assuntos internos de outros países. O presidente falou em “palpites” dados por líderes internacionais, sem citar o mandatário norte-americano, e reiterou que o mundo não pode prosperar sem o respeito à soberania das nações.
— Se passarmos a dar palpite sobre as coisas que acontecem nos outros países, estamos ferindo uma palavra mágica chamada ‘soberania’, que é o que faz a gente lutar e defender o nosso país — disse Lula, em um recado direto à Casa Branca.
Para o chefe do Executivo, o mundo tem abandonando os princípios do multilateralismo, fundamentais para a paz e a cooperação internacional desde o fim da II Guerra Mundial.